A quinta-feira (4/5) começou com parte das escolas públicas da capital federal fechadas devido à paralisação dos professores. No mesmo dia, a Procuradoria-Geral (PGDF) ingressou com ação no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) para pedir a abusividade da greve. Mais cedo, o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) estimou que cerca de 80% aderiram a greve. Mas muitas escolas tiveram aula normalmente.
Os profissionais querem melhores salários e reestruturação do plano de carreira do magistério público, com incorporação de gratificações. O reajuste de 18% parcelados em três vezes de 6% durante o período de três anos, anunciado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) para os servidores públicos, foi considerado insuficiente pelos professores. Eles argumentam que recebem abaixo do piso nacional e estão há oito anos sem aumento. Outra pauta é a nomeação de novos professores concursados.
A paralisação foi decidida em assembleia, em 26 de abril. Na última terça-feira, os professores se reuniram com os secretários de Planejamento, Orçamento e Administração, Ney Ferraz, e de Educação, Hélvia Paranaguá. Porém, não houve acordo.
Protesto
Professores que aderiram à greve, estiveram, nesta quinta-feira (4/5), pela manhã, na assembleia geral do Sinpro-DF, no estacionamento da Funarte. Segundo o diretor do sindicato Samuel Rodrigues, participaram cerca de oito mil pessoas. Durante o ato, os docentes cantavam "Professor na rua, Ibaneis a culpa é sua". Por volta do meio-dia, os manifestantes seguiram para a frente do Palácio do Buriti. A greve, de acordo com o Sinpro, continuará até uma sinalização do GDF para negociação. A data de uma nova assembleia será decidida nesta sexta-feira (5/5) em reunião com o comando da greve.
Professora do Caic de Santa Maria, Thais Honório falou sobre a importância da paralisação. "Tem oito anos que não recebemos reajuste nenhum, nós não confiamos em reajustes parcelados, nós precisamos de um reajuste para agora. Queremos uma proposta concreta, as salas de aulas estão lotadas e os professores adoecendo. Isso o governo não vê, só matricula mais alunos nas escolas e não constrói novas unidades", desabafou. Ainda segundo a servidora, é necessário que haja a nomeação dos professores. "Hoje quase metade dos professores são contratados, temos apenas um concurso que foi mal feito e que precisa ser revisto", acrescentou.
Segundo o diretor do Sinpro-DF Samuel Fernandes, o sindicato pede reformulação do plano de carreira a representantes do GDF e da Secretária de Educação desde de outubro do ano passado. "O governo teve tempo para apresentar uma proposta; entre todas as categorias de nível superior, nós estamos em penúltimo lugar no ranking, em relação ao salário, e, hoje, recebemos abaixo do piso nacional. Em 2015 recebíamos 105% acima do piso nacional. A nossa situação, hoje, é uma vergonha para capital do país" disse o diretor.
A professora temporária Suelaine Nunes, da Escola Classe 8 do Guará, acredita que a greve é uma maneira de conseguir a valorização da categoria. "Precisamos da reestruturação da carreira. Porque, hoje, o GDF nem sequer paga o piso salarial nacional dos professores. Como que a capital do país não paga o que está na lei para os professores. Além disso, estamos há oito anos sem aumento salarial e que o governo quer dar 6% de aumento durante três anos, ou seja, não cobre nem a inflação".
Suelaine passou no último concurso da Secretaria de Educação e pede que o governo faça a nomeação. "Estou dentro do número de vagas do último concurso e a gente aguarda, desde outubro do ano passado, a homologação. Só há enrolação e não sai a nomeação. Eles preferem contratar professores temporários, porque conseguem pagar menos e não têm plano de carreira", ressaltou ela.
Professora aposentada e integrante do Sinpro-DF, Consuelita Oliveira relatou também as salas superlotadas e a falta de monitores para os alunos com necessidades especias. "Temos denúncias de salas com até 45 estudantes, sendo que o limite é de 25 alunos. O governo precisa construir mais escolas", acrescentou.
Balanço
No início da manhã desta quinta-feira (4/5), o Correio percorreu escolas do centro de Brasília para verificar a adesão à greve e o número de alunos presentes. No Centro de Ensino Médio Elefante Branco (908 Sul), grande parte dos docentes aderiu ao movimento, com apenas cinco professores de um quadro de 30 trabalhando, e 15 alunos na escola. Na Escola Parque da 210/211 Sul, o clima não era de greve. O local que recebe alunos de até 10 anos estava com aulas normais e com todos os servidores no local. Porém, com baixa presença de estudantes.
O Centro de Ensino Gisno, na 908 Norte, estava com portões fechados e com placas informando a greve. O coordenador pedagógico Pedro Lopes informou que, dos 20 professores, apenas oito foram à escola, e que apenas cinco alunos do ensino especial estavam em sala de aula. O Centro de Ensino Fundamental 1 do Cruzeiro estava fechado e noticiando a paralisação com placas na frente da escola. Fátima Mendonça, vice-diretora da escola, contou que 80% dos professores do período da manhã aderiram à greve. Estavam presentes apenas 15 alunos — a escola tem cerca de 600 alunos, dividido entre ambos os turnos.
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