O Centro de Educação Profissional Escola Técnica de Santa Maria recebeu, nesta quarta-feira (10/9), 167 alunos, de 30 escolas da região de Santa Maria, para a etapa regional do 14º Circuito de Ciências das escolas públicas do Distrito Federal (DF). Foram apresentados 34 projetos idealizados pelos estudantes e orientadores. Esta edição tem como tema "Água para que?" e está ocorrendo desde 19 de agosto até 12 de setembro em 14 regiões administrativas do DF.
Plantando a vida
Entre as propostas apresentadas, cinco estudantes do Centro de Ensino Fundamental 308 de Santa Maria, junto às professoras orientadoras Edjane Leão, 45 anos, e Fernanda Souza, 34, propuseram o projeto “Plantando a vida”. O sistema criado pelos alunos funciona por meio do uso de um arduino — plataforma eletrônica de baixo custo — que detecta quando o solo está seco e ativa o sistema de irrigação das plantas, criado também pelos alunos, de modo a reutilizar água das chuvas e armazenar em uma caixa d’água.
Para o projeto, o padrinho de uma das integrantes, Oswaldo Borsanuf, 58, foi convidado como orientador e auxiliou em todo o processo de criação do sistema. Segundo ele, a ação de irrigar as plantações poderá ser realizada até mesmo de casa, sem prejuízo aos fins de semana ou feriados, quando não houver quem realize o procedimento na escola.
O projeto teve como ponto de partida a preocupação dos alunos com a quantidade de lixo depositada em frente à escola. Segundo João Pedro Araújo, 13, um dos integrantes da equipe, a situação fazia parte do cotidiano dos discentes e “os alunos passavam sem nem reclamar. Então, resolvemos mudar isso.”, afirma Araújo.
De acordo com o relato de outra integrante da equipe, Sofia Laurindo, 15, foram utilizados no processo de revitalização do quintal da escola pneus coletados em borracharias próximas a instituição, tintas, mudas de plantas, isopor, papelão e demais materiais recicláveis, na ação de conscientizar a comunidade e os estudantes a respeito dos perigos do acúmulo de lixo.
Segundo uma das orientadoras, Fernanda Souza, 34, a saúde dos estudantes e o aspecto visual do ambiente eram prejudicados com o alto índice de rejeitos na área escolar. A partir da iniciativa das crianças, a própria comunidade começou a se mobilizar e cuidar do espaço. Com isso, passaram a levar mudas de árvores frutíferas, fazer irrigação e recolher os lixos, que antes eram deixados no jardim, e colocá-los em frente às casas para coleta.
Claudinei Formiga, coordenador regional de ensino de Santa Maria, explica que a importância de projetos como o "Plantando a vida" para gerar impacto positivo na comunidade. Formiga informa que, como incentivo para as escolas continuarem promovendo a iniciação científica, ele concederá uma premiação às instituições que passarem para a fase distrital do circuito, que ocorrerá entre 21 e 26 de outubro. O prêmio será uma televisão de 55 polegadas, para cada uma das escolas, entre as sete categorias presentes no evento, que chegar à próxima fase.
A mágica da natureza
Outro projeto que chamou a atenção dos visitantes foi feito pela Escola Classe 01 do Porto Rico. Na ocasião, cinco alunos do 2º ano do ensino fundamental realizaram, junto aos professores Carlos Alexandre Lopes, 54, e Wilson da Silva Júnior, 33, um projeto que utilizou como performance atos de mágica. O projeto foi chamado de “A mágica da natureza” e esteve em construção ao longo de todo o ano.
Foram realizadas apresentações teatrais pelo grupo, segundo Lopes, com intuito de ensinar a importância do respeito à natureza por meio de cinco atos, como uma chuva infinita, na qual a lição a ser aprendida é de que ao respeitar a natureza, nunca faltará chuva. Em seguida, uma floresta representativa pegou fogo e ao ter as chamas apagadas, um coelho surgiu, ensinando os estudantes como a ação humana pode afetar a vida animal.
Como terceiro ato, um dos alunos ateou fogo em um quadro, no qual estavam representados um pombo e uma árvore. Com a ação, o pombo saiu voando e apenas a árvore permaneceu, tratando, também, a respeito das consequências do descuido ao meio ambiente em relação à vida animal. Ao final dos atos de conscientização, o personagem do incendiário arrepende-se e torna-se um protetor da natureza.
De acordo com Ana Karina Braga, diretora da Diretoria de Serviços, programas e projetos transversais do Distrito Federal, a edição de 2025 do circuito, junto à edição anterior, teve certo destaque devido ao estímulo dos professores em incentivar os alunos a se dedicarem aos projetos desde o início do ano, não apenas no período do evento. Segundo ela: “Não é um trabalho que está sendo pensado e realizado para expor, mas sim com o pensamento de investigação ao longo do ano”.
Projeto Cocoluz
Os estudantes do ensino médio do colégio CED 310 de Santa Maria idealizaram e apresentaram um projeto que utiliza como objeto principal o coco. O projeto, chamado de “Cocoluz”, tem como objetivo ensinar os modos como o alimento pode ser utilizado para purificar a água, mas também pode servir como fonte de adubo para as plantas.
Segundo os integrantes do grupo, Letícia Moraes, Lucas Matheus e Marcos Daniel, todos de 17 anos, durante o processo, as partes do coco foram aproveitadas de alguma maneira, sem que houvesse desperdícios. A fibra, por exemplo, ajuda a purificar a água, de modo a torná-la própria para uso no banho e para irrigação das plantas.
Já a casca do coco foi utilizada para adubar as plantas. Os jovens trituraram o material e acrescentaram a terra, o que, após uma semana e cinco dias, passou a dar resultados visíveis, por meio do desenvolvimento de brotos. E com a parte comestível da fruta, eles fizeram doces em grandes quantidades, que foram distribuídos durante a apresentação do projeto para os visitantes que aceitassem o quiz baseado na apresentação.
O circuito de ciências das escolas públicas do DF ocorre anualmente e é realizado pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), contando com etapas locais, feitas dentro das próprias instituições de ensino e disputadas entre os estudantes, além das etapas regionais e a distrital, que ocorre dentro da semana nacional de ciência e tecnologia (SNCT).
O circuito de ciência e tecnologia
Segundo Iêdes Soares Braga, subsecretária de educação básica do DF, o tema Água para quê? foi escolhido com base no tema da semana nacional de ciência e tecnologia: "Planeta Água: cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território". Ao longo do circuito, são avaliados projetos em 10 categorias, que vão desde a educação infantil até a educação profissional e o ensino de jovens e adultos (EJA).
Um dos segmentos da categoria EJA é a educação prisional. Devido aos procedimentos necessários para visitação das instituições carcerárias, não é permitida a visitação do público, mas a competição interna é realizada e aqueles projetos que são finalistas vão para a etapa distrital, são apresentados por professores da educação prisional no evento.
O processo de escolarização é utilizado como uma das ferramentas de redução da pena, com isso, Braga afirma, ainda, que o circuito ajuda a garantir “ao olhar para educação como uma ferramenta poderosa de ressocialização desses estudantes”, a valorização desse tipo de iniciativa.
Para um evento que reúne, ao todo, 471 projetos em toda a etapa regional, além de 2.086 alunos expositores e 706 professores orientadores é necessário que haja uma grande equipe por trás de toda a organização. Em Santa Maria, no Centro de Educação Profissional Escola Técnica, foram necessários cerca de 50 funcionários da Secretária de Educação para que o evento fosse coordenado.
