A chance de ingressar em uma instituição pública de ensino superior por meio da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 está cada vez mais próxima. Apesar das incertezas que cercam a prova, adiada devido à pandemia da covid-19, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) confirma a aplicação, exceto no Amazonas, onde houve suspensão após decisão judicial na quinta-feira.
“Por mim, quero fazer logo a prova para me livrar, mas estou fazendo na insegurança”, diz a estudante Izabella Marques, 25 anos, um dos 5,6 milhões de inscritos no exame impresso. Além de lidar com a ansiedade da aplicação, os candidatos terão de se prevenir. “O ideal seria esperar ainda mais, porque a gente está vindo de um pico da pandemia. Mas, sem vacinação, vai adiar para quando?”, indaga Izabella.
Em razão da pandemia do novo coronavírus, o exame, que aconteceria em novembro, foi adiado para este fim de semana. A medida também foi defendida à época em função das dificuldades para que os candidatos conseguissem estudar: no ano passado, quem tinha melhor acesso à internet, teria mais chances, fator que evidenciou a desigualdade entre estudantes de escolas particulares e públicas.
“Isso aumenta a nossa ansiedade”, afirma Izabella. Ela conta que, nesta semana, teve duas crises: “Não consegui dormir, o coração acelera, existe uma pressão familiar muito grande, e também me cobro muito”. O Inep definiu no edital uma série de diretrizes para dirimir os riscos de contágio, como a higienização das escolas antes da aplicação e o distanciamento entre as cadeiras, além de um número maior de locais de aplicação da prova.
“Estou bem preocupada, mas confiante”, diz Izabella. Esta é a quarta tentativa para conseguir uma vaga no curso de medicina. “Meu sonho é fazer parto”, revela. Ela teve que conciliar os estudos não só com os afazeres domésticos, mas também com a maternidade, e intercalava as revisões com a amamentação, troca de fraldas e cuidados com o bebê de 10 meses. Mesmo lactante, Izabella não vai levar o pequeno para o local de provas.
Redução de riscos
A aplicação do exame tem duração de cinco horas e meia. A infectologista Lívia Vanessa, que integra a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que o risco de contágio aumenta quanto maior for o tempo de exposição em local fechado. “Por isso, é preciso tomar cuidado com o tipo de máscara e o tempo de troca”, frisa.
“Outro ponto muito importante é que as máscaras usadas devem ser colocadas em um saquinho, para que não contaminem os objetos dentro da bolsa. Nunca colocá-las no bolso da roupa. As máscaras levadas para substituir devem também estar numa embalagem fechada, que garanta a limpeza delas”, orienta a especialista.
Como a prova é extensa, muitos participantes levam um lanche. Neste ano, no entanto, é preciso cuidado, pois será inevitável retirar a máscara nesses momentos. “A orientação é ir bem alimentado e levar algo simples, para comer mais rapidamente.” Lívia recomenda que os candidatos evitem ir com adornos e acessórios. “Além de serem mais uma superfície de contato, eles são complicados para higienizar.”
Contudo, há um acessório que pode ser indispensável, mas que é um ponto sensível: os óculos. O oftalmologista Gustavo Serra lembra que, com o uso da máscara, as lentes podem embaçar, e indica o uso de um sabonete neutro com água para evitar que isso ocorra, em vez de álcool. Ele reforça que é preciso higienizar as mãos constantemente, já que os candidatos ficam muito tempo concentrados, e os olhos podem coçar.
Além disso, para os estudantes que vivem em ambientes com idosos ou pessoas com fatores de risco para a infecção por covid-19, o ideal é fazer o isolamento nas duas semanas após as provas, evitando o contato próximo.
Luiza Gennari, 19, incorporou os protocolos nesta reta final para o exame, e se planejou para o dia da prova. “Vou levar o álcool e a máscara extra para trocar, já que são cinco horas de prova”, afirma. Também selecionou roupas confortáveis. “Vou de calça, tênis e uma blusa de manga comprida, para evitar ficar exposta”, afirma.
Desde o meio do ano, Luiza faz os simulados semanais como se fosse o dia do Enem. “Fazia de máscara para começar a aprender. No começo, era difícil, mas, agora, já me acostumei”, rememora. Outra preocupação logística é a chegada e a saída dos locais de prova. O Inep informou que os portões serão abertos mais cedo, a partir das 11h30, para evitar aglomerações na entrada. “Vou deixar tudo separado um dia antes. Quero evitar, ao máximo, aglomeração na entrada e na saída, para não correr riscos. Quero sair bem cedo”, adianta a candidata.
Reta final
A primeira prova do Enem impresso será hoje, com 45 questões objetivas de linguagens e códigos e 45 de ciências humanas, além da redação. Em 24 de janeiro, mais 45 questões de ciências da natureza e 45 de matemática. Pela primeira vez, haverá a alternativa da aplicação de forma digital. Para quem optou pelo novo formato, quase 100 mil inscritos, as provas serão em 31 de janeiro e 7 de fevereiro. Nessa versão, as questões objetivas serão respondidas pelo computador e a redação, no papel. Por questões de segurança, os candidatos não podem fazer a prova de casa. O computador usado só terá acesso à prova, sem permissão para entrar em outros programas instalados na máquina ou na internet.
Os professores reforçam que, neste ano, a preparação dos alunos deve se voltar tanto para o conteúdo quanto para a pandemia. “Manter o foco e evitar que a ansiedade tome conta”, pondera o professor de geografia Vinícius Machado. Ele alerta que, com o Enem tão próximo, o momento é de revisar os conteúdos já estudados, e não para aprender novos. “Ainda que o exame seja adiado, estudar nunca é perdido.”
Dessa forma, ele recomenda que os candidatos revisem as anotações nos cadernos, tirar dúvidas pontuais e até assistir a filmes com temática relacionada aos conteúdos do ano. Além disso, no dia anterior, ele sugere que os participantes façam um check-list do que precisam levar: documento de identificação com foto, caneta preta fabricada em material transparente e a máscara. A falta de qualquer um desses itens é critério de eliminação para a prova.
“O aluno tem que ter como sua prova de cabeceira a de 2019”, aconselha o professor de literatura Marcelo Freire. Ele diz que a tendência de temas abordados naquele exame deve se consolidar em 2020 e, por isso, serve de revisão. Destaca ainda que, nas horas que antecedem a prova, é preciso descansar a mente: “Vai dar uma relaxada, assistir a uma comédia, interagir com familiares e amigos”.
Planejamento
Outro cuidado importante é com o transporte até o local de prova. “É sempre bom confirmar antes o local de prova e verificar o deslocamento. Se for usar o transporte público, é preciso lembrar que se trata de um domingo”, diz o professor Vinícius Machado. Ao receber a prova, mais uma dica é checar logo o tema da redação. “Enquanto está fazendo a prova pode já ir tendo ideias de argumentos”, pontua.
O professor Marcelo Freire faz um alerta sanitário: “Leve o seu álcool em gel, para não contar com o do local de prova. Não deixe de separar várias máscaras e organize o lanche em saquinhos transparentes para facilitar a sua vida”.
Os portões fecham às 13h, horário de Brasília, e atrasos não são tolerados. Quando o sinal tocar indicando o início da prova, às 13h30, os candidatos precisam estar atentos ao tempo. No primeiro dia, terminam às 19h, e, no segundo, às 18h30. Marcelo Freire sugere reservar pelo menos meia hora para marcar os 90 itens no cartão de respostas, além de uma hora para escrever a redação. Outra dica é separar 10 minutos totais para idas ao banheiro e lanche. “Se se organizar contando esse tempo, vai conseguir fazer todas as questões”, garante Marcelo.
Covid-19
A organização do Enem criou uma regra inédita para que candidatos infectados pela covid-19 possam fazer a prova. Aqueles que testaram positivo para o novo coronavírus poderão fazer a avaliação em outra data. Para isso, podem informar ao Inep a condição até um dia antes da aplicação do exame. Caso o diagnóstico positivo ocorra no dia da prova, o candidato deverá entrar em contato pelo número 0800 61 61 61. A concessão também é prevista para candidatos infectados com outras doenças, como coqueluche, difteria, meningites, varíola e sarampo.