Eu, Estudante

Enem

Filmes que podem ajudar na prova do Enem

Que tal aproveitar a noite desta sexta-feira (19) e amanhã para um cineminha e, de quebra, enriquecer os argumentos na hora da prova

Independente das discussões ideológicas que recentemente têm despontado nos bastidores da realização do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), as artes costumam refletir a dinâmica social contemporânea ou mesmo buscar painéis do passado que expliquem o presente. Informação e entretenimento podem enriquecer argumentos dos que almejam o ensino superior. Temas diversos, correlatos ou que passam despercebidos pelos especialistas em Educação, despontam entre os filmes exibidos na cidade. Mesmo filmes bastante apoiados na ficção, como é o caso de A crônica francesa (de Wes Anderson), que sistematiza conhecimentos, ao examinar o conteúdo de uma revista fazem a diferença na bagagem cultural de estudantes, que ainda pode ser estimulada no contato com um filme como Pixinguinha, um homem carinhoso. O Correio destaca, abaixo, alguns títulos que aliam saber e sensibilidade.

SARS-CoV-2 — O tempo da pandemia

Sete médicos e especialistas em saúde pública, sob a liderança de Paulo Chapchap, integraram a iniciativa Todos pela Saúde, que foi registrada em documentário realizado entre abril e maio de 2021. Montador de Cabra marcado para morrer (1984), Eduardo Escorel se juntou ao irmão e codiretor do longa Lauro, conhecido como diretor de fotografia de clássicos como Bye Bye Brasil (1979) para a realização. Da linha de frente em localidades problemáticas como São Paulo e Manaus até a situação de falta de equipamentos, o filme registra esforços de profissionais como Drauzio Varella e Maurício Ceschin, especialmente empenhados na condição de pacientes idosos.

Duas perguntas // Irmãos Escorel

Em que se modificou antes e depois da realização do filme, quanto ao tema da pandemia?

Lauro Escorel — A partir de 13 de março de 2020, quando nos impusemos viver o isolamento social, foi ficando clara a gravidade do quadro provocado pela pandemia entre nós. Imagens e depoimentos trazidos pelo noticiário apresentavam um quadro dramático, mas foi só a partir do momento que me envolvi com a realização do documentário que pude compreender a sua real dimensão. Isso foi se dando ao visitar Instituições de Longa Permanência para Idosos e hospitais, ao ter a oportunidade de ouvir diretamente a médicos, especialistas e profissionais da saúde, que atuaram na linha de frente junto ao vírus. Foi ficando claro como desperdiçamos a janela de tempo para nos prepararmos adequadamente para enfrentar a chegada do vírus por aqui. Também ficou evidente que a ausência de uma política coordenada de enfrentamento do vírus era causadora de milhares de mortes absolutamente desnecessárias. E por último passei a ter uma consciência maior sobre a importância de uma política de saúde pública, do fortalecimento do SUS e que a tragédia da morte de mais de 600 mil pessoas poderia ter sido menor tivesse sido outra a postura governamental diante da pandemia.

Quais as suas surpresas e descobertas, no âmbito da ciência, em relação ao coronavírus?


Eduardo Escorel — No auge da pandemia, antes de surgir o projeto do documentário, a maior surpresa para mim, em termos científicos, foi o surgimento de variantes do vírus, sugerindo a possibilidade de a crise sanitária não ter fim. A segunda foi saber que poderemos controlar a pandemia graças à vacinação em massa, mas que a Covid-19 permanecerá entre nós em forma endêmica.

8 presidente 1 juramento — A história de um tempo presente

Um estudo sobre o tráfico de influências, a percepção de espionagem internacional e infinitas denúncias de lavagem de dinheiro aparecem no registro de 35 anos de instabilidade política nacional, no filme de Carla Camurati que tem montagem concisa e isenta de Joana Ventura. Ex-diretora de cultura dos Jogos Olímpicos (2016) e artífice da retomada do cinema brasileiro (com o longa Carlota Joaquina), Camurati parte da emenda Dante de Oliveira (1983), que pleiteava as eleições diretas e a devolução do poder ao povo, para chegar a um cenário de onda populista, confiscos, uso de marketing político, panelaços, privatizações e reeleições. Esquemas de empresas envolvidas na dissolução de riquezas nacionais e descompromisso de mandatários, com posturas incompatíveis com o cargo da presidência também chamam a atenção. Um dos marcos no filme está na elaboração da Constituição de 1988, que captou "diversas ideologias misturadas", como demarcou, à época, o presidente da Câmara dos Deputados Ulysses Guimarães.

Uma história de família

Com a bagagem de quase 70 filmes realizados, o diretor Werner Herzog competiu ao Festival de Cannes com o longa que parece pura ficção, mas tem fundo real. Yuichi Ishii, ator do filme, no dia a dia, é diretor de uma empresa que dispõe de atores que encenam familiares e amigos daqueles que acionarem o serviço. Inspirado em estudo de Freud, a Romance Familiar pensa em restruturar a realidade nipônica, em muito ancorada em crescimento da população de idosos. Um retrato da solidão e da falta de traquejo social está impresso no filme.

Marighella

A figura que alguns tacham de controversa do líder revolucionário de esquerda Carlos Marighella ganha a interpretação de Seu Jorge, no primeiro filme de Wagner Moura como diretor. Resistência, tortura e defesa da liberdade de expressão puxam o enfoque do longa que traz ainda atores como Bruno Gagliasso, Herson Capri, Adriana Esteves e Bella Camero. Em 1969, na Ditadura Militar, vale a lembrança de que o político sofreu emboscada e foi morto, na capital paulista, por agentes do Departamento de Ordem Política e Social.

Sobre a eternidade

Não é apenas nas salas de cinema que a sétima arte pode tocar as mentes. Para quem estiver no conforto do lar, uma opção está no streaming da Reserva Imovison que tem entre os títulos, o premiado Sobre a eternidade. A partir de cenas banais, o diretor sueco Roy Andersson (dono da trilogia Os Vivos) abraça questionamentos divinos e enfatiza o respeito e cuidado com o outro, ressaltando a vulnerabilidade do ser humano. "Quis enfatizar a beleza da existência, de se estar vivo", disse Andersson, em entrevista, no exterior. Atuante, desde os anos de 1970, com prêmios em festivais de Cannes, Veneza e Berlim, Roy Andersson, que já teve retrospectiva montada no Museu de Arte Moderna de Nova York, gosta de falar de guerra e de personagens ensimesmados. Com uma fotografia impressionante a cargo de Gergely Pálos, o longa abusa de imagens inspiradas no Estilo Funcionalista, amparado em simplicidade, por essência.


Aspectos estáticos, um colorido discreto, criação de enigmas, e intenção de harmonia estampam os fotogramas do filme, que segue a escola da Nova Objetividade, operante nos anos de 1920, na Alemanha. O pintor alemão Otto Dix inspirou a obra. Para se ter ideia da realização do filme, uma cena breve (mas marcante) obrigou à recriação de Colônia (parte da cidade foi representada em maquete), em miniatura elaborada por um mês.