As dificuldades que muitos estudantes enfrentam atualmente de acesso à internet ou a equipamentos têm se agravado ainda mais devido à pandemia. As aulas da Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, retornaram em 17 de agosto de maneira remota e mesmo os editais de inclusão e campanhas de arrecadação não conseguem contemplar todos os alunos. A estudante do último semestre de agronomia da UnB Isabelle Prado, 25 anos, lançou uma vakinha on-line para conseguir comprar um notebook, pois não dispõe de dinheiro.
Isabelle tem acompanhado as aulas pelo celular, enquanto o trabalho de conclusão de curso tem sido feito no computador antigo. Mas que segundo a estudante, ela vem dependendo da “boa vontade” do notebook. “Eu consigo me virar, mas uma parada que era para fazer muito mais rápida não rola”, explica a estudante de agronomia. Isabelle Prado ganhou o notebook de presente de 15 anos dos pais. Ele sustentou bastante todas as demandas que ela tinha durante cinco anos e, posteriormente, começou a desmontar. “Eu não deixei ele cair. Ele simplesmente foi desmontando as peças e desencaixando”, conta.
Devido às condições do computador, Isabelle não consegue transportá-lo para nenhum lugar e dependendo da posição que coloca o aparelho, ele desliga. Por enquanto, a solução a longo prazo era ter paciência, até que surgiu a ideia de fazer uma arrecadação on-line. A estudante tinha vergonha de pedir dinheiro, mas viu que o objetivo era muito maior e que o trabalho dela no futuro geraria um retorno às pessoas de alguma maneira. “Essa grana vai ser investida numa parada que vai gerar outras paradas para mim e para a sociedade, eu espero”, diz Isabelle, que tem outros projetos além da faculdade, como a fotografia.
Projetos paralelos
Isabelle começou a fotografar desde os 14 anos com o celular e, em 2013, recebeu um convite de um amigo para participar de um making off de um filme independente no Paranoá. Em 2015, ela conheceu uma amiga e começaram um projeto de fotografia para falar sobre mulheres: o Mercúrio Rosa. O projeto durou um ano e mesmo depois ela continuou a fotografar. Ela nunca teve câmera e sempre utilizou o equipamento da amiga para executar os projetos pessoais e conseguir uma renda extra para ela ajudar à família.
A estudante mora no Itapoã com os pais e um irmão, e devido à pandemia a situação em casa tem ficado muito complicada. A família paga o aluguel com o auxílio emergencial do governo, e Isabelle também tenta ajudar a pagar algumas contas com o dinheiro que consegue por meio de trabalhos como fotógrafa ou quando poderia trabalhar como babá, por exemplo. E mesmo a região em que mora ser uma das mais carentes do DF, a estudante quer mudar esse contexto por meio de projetos que participa e não quer ser vista pelas pessoas como uma universitária carente. “Eu sou alguém que não tem condições agora e preciso de um notebook para trabalhar de fato e continuar os meus projetos, porque eu não tenho expectativa de quando eu vou ter um emprego mesmo me formando”, relata Isabelle Prado.
Auxílios da universidade
Em decorrência das aulas a distância, a UnB promoveu campanhas para dar suporte a esses alunos que não estavam em condições de participar das aulas. O Diretório Central dos Estudantes Honestino Guimarães (DCE/UnB) fez uma ação para recolher equipamentos eletrônicos como notebooks e tablets para distribuir entre aqueles que precisavam. Eles também estavam aceitando doações em dinheiro, para aquisição dos materiais, além de ajuda voluntária para assistência remota aos estudantes.
A outra ação foi da Diretoria de Desenvolvimento Social (DDS), do Decanato de Assuntos Comunitários da UnB. Foi divulgado um edital de apoio à inclusão digital para que os alunos se inscrevessem de 25 a 27 de agosto. O objetivo era fornecer empréstimos e doação para acesso a notebooks e a disponibilização de um chip de internet. Isabelle se candidatou às ações, contudo não foi contemplada. “Eu não fui selecionada e eu imaginei que não seria, porque acho que para ganhar tem que ser muito pobre na visão deles”, esclarece a estudante.
Para apoiar
Isabelle Prado divulgou o “Apoia-se” em conta pessoal no Twitter e teve muitos compartilhamentos, mas ainda não atingiu a meta. Ela fez uma pesquisa e notebooks com configurações básicas para executarem programas de edição de vídeo e imagem têm o preço médio de R$ 5.000. Além disso, ela também fará uma rifa de um quadro de alguma foto produzida por ela para arrecadar mais dinheiro e investir em um aparelho de qualidade. Para ajudar a estudante com qualquer valor, basta acessar o link: t.co/Wl0NhxexeW?amp=1.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá