Ataque on-line

UnB vai denunciar à Polícia Federal caso de ataque homofóbico

Ataque on-line ocorreu durante a defesa de TCC de um aluno de jornalismo. FAC enviou relatório à reitoria para formalizar denúncia na Polícia Federal, após parecer técnico da Secretaria de Tecnologia da Informação (STI)

Isabela Oliveira*
postado em 08/12/2020 20:47 / atualizado em 08/12/2020 20:49
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press                   )
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )

A Administração da Universidade de Brasília (UnB) recebeu, nesta terça-feira (8), o relato completo sobre o caso de ataque homofóbico ocorrido durante defesa de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de um aluno da universidade. A UnB aguarda análise técnica da Secretaria de Tecnologia da Informação (STI) para produção de ofício a ser enviado à Polícia Federal.

O envio do documento, feito pela Faculdade de Comunicação (FAC), formaliza o pedido de apuração do caso para que os autores sejam responsabilizados. Em nota de repúdio, publicada na segunda-feira (7), a FAC afirmou que "o ocorrido é extremamente grave, uma forma de tentar intimidar a produção científica em comunicação e afastar as pessoas e a temática LGBTQIA+ da produção de conhecimento, da construção coletiva da esfera pública e da sua afirmação enquanto sujeitos".

Banca de TCC on-line foi invadida

 

Allan Montalvão, estudante do último semestre de jornalismo, foi alvo de ataques homofóbicos durante apresentação TCC
Allan Montalvão, estudante do último semestre de jornalismo, foi alvo de ataques homofóbicos durante apresentação TCC (foto: Ana Paula Castro)

 

Na tarde de segunda-feira, o estudante de jornalismo da UnB Allan Montalvão, 23 anos, foi alvo de ataques homofóbicos durante apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso. Um grupo de invasores entrou de maneira anônima na chamada de vídeo e ameaçaram divulgar o endereço IP de todos os presentes, caso não encerrassem a reunião.

Allan conta que os usuários não identificados entraram na chamada e começaram a falar junto com ele, com vozes computadorizadas. O estudante, de início, pensou que alguém tivesse ligado o microfone sem querer. Mas depois percebeu que eram ataques direcionados ao trabalho dele.

Os autores soltaram frases como “não vai ter TCC de gay” e compartilharam a tela mostrando uma imagem de uma mulher sendo espancada e a bandeira LGBTQIA+ sendo queimada. “Eu vi que era um ataque, mas demorei para reagir. Na hora, todo mundo ficou chocado e surpreso”, relata o estudante do último semestre de jornalismo.

Depois de alguns minutos, os professores e o aluno decidiram encerrar a chamada e fazer outra, de forma particular, para finalizar a apresentação do TCC. Logo após o término da defesa, os docentes fizeram uma nova reunião para comunicar o ocorrido ao conselho da Faculdade de Comunicação (FAC). A faculdade se reuniu rapidamente na noite de segunda-feira para resolver e dar encaminhamento ao caso.

Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu criminalizar a homofobia como forma de racismo. O Conselho da Faculdade de Comunicação, em nota, também considera que os ataques contemplam o previsto no artigo 10 da Lei 9.296, de 1996, que tipifica como crime a invasão e interrupção de comunicação de informática com objetivos não previstos em lei.


Telejornalismo para pessoas LGBTQIA+

O TCC de Allan, intitulado “Sem Sinal – Uma grande reportagem sobre o mercado de trabalho de telejornalismo para pessoas LGBTQIA+”, mostra a realidade que os jornalistas dessa comunidade vivem no mercado, como é a batalha por vagas e se sentem medo de perder oportunidades por causa da sexualidade. Para conferir o trabalho final de Allan, assista ao vídeo abaixo:

 

A banca contou com a presença virtual de três professores, um representante da FAC e quatro amigos de Allan. A professora da disciplina de jornalismo em TV 2, Letícia Renault, foi a orientadora do estudante.

Apesar dos momentos de tensão e desrespeito, Allan ficou feliz pela repercussão da temática LGBTQIA+, que era o objetivo final. “Eu queria de certa forma que o tema gerasse debate. Muitas pessoas viram (o TCC) de ontem para hoje, então eu estou feliz pela visibilidade e mensagens de apoio”, pontua Allan. O estudante espera que o grupo invasor seja responsabilizado legalmente. 


*Estagiária sob supervisão da editora Ana Sá

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