Familiares, amigos e colegas lamentam a morte de Antonio Francisco Bertocco Júnior, 33 anos, também conhecido como Tonhão. Formado em enfermagem e história, o jovem cursava a terceira graduação e realizava um sonho: se graduar em medicina. Natural de Avanhandava (SP), o jovem morreu vítima de covid-19 na última terça-feira (9).
O desejo de ser médico inspirou a irmã Thais Bertocco, 28, a seguir essa carreira. “O sonho dele era ser médico para ajudar as pessoas, ele nunca quis ser médico pelo glamour, pelo dinheiro, nada. Ele queria para ajudar”, relata. Tonhão estava no terceiro ano da graduação pela Fundação Educacional de Penápolis (Funepe). Nas redes sociais, a instituição lamentou o falecimento.
Ana Carla Albuquerque Novaes, 33, conta da empolgação do amigo quando o curso de medicina começou a ser ofertado em Penápolis (SP). "Ele sonhava em ser médico, sempre falava que queria cuidar das pessoas. Além de ser extremamente inteligente", comenta.
Amiga da família há mais de 13 anos, a terapeuta ocupacional conta que todos vibraram muito com o ingresso dele na faculdade. Ela também comenta sobre as brincadeiras em relação à formatura. "A gente brincava que em todas as festas ele seria bem tratado para ele convidar a gente pra formatura", recorda.
"Esse mundo era muito pouco de tanto que ele era maravilhoso", afirma Ana Carla. Ela ainda ressalta o compromisso do estudante com a justiça e defesa das minorias, sobretudo raciais.
Antes da intubação, na sexta-feira, a irmã Thais estava lá com ele. Thais relata que o irmão ligava pedindo a ela que o fizesse companhia no hospital. “Ele tinha confiança de que eu não ia deixar nada acontecer com ele”, conta.
Antes da faculdade, Tonhão chegou a atuar como professor de história na cidade. O último emprego do estudante foi na testagem e triagem de funcionários, por isso havia tomado a primeira dose da vacina contra a covid-19. No caso da Coronavac, vacina tomada por ele, a imunização só é completa após cerca de 15 dias após a administração da segunda dose. Segundo a irmã, o jovem contraiu a doença oito dias depois da vacinação.
Júnior Bertocco, como usava nas redes sociais, deixa mãe, pai e duas irmãs mais novas, uma ainda criança, com 14 anos. Também deixa o sobrinho, de um ano, com quem ele era muito ligado. O laço entre o bebê e o “tio Bubu”, como era chamado, veio desde os primeiros momentos de vida da criança ao ajudar a irmã no parto.
“O cara mais sensacional do mundo”
Foi como uma pessoa sensacional e amável que o amigo Bruno Monteiro Verginassi, 31, descreveu o estudante de medicina. A amizade era de longa data, 18 anos de parceria para todos os momentos, segundo o analista de logística. “Para resumir, ele era não uma parte, mas a metade de mim”, conta.
“Não é porque ele foi embora, mas ele era, de fato, um anjo na Terra, o melhor amigo que eu poderia ter”, relata. O amigo lembra de momentos da infância e adolescência, quando os dois costumavam assistir juntos a DVDs de rock, ouvir música e tocar violão, instrumento que Tonhão o ensinou a tocar.
Bruno afirma que vão ficar na memória ”as diversas e diversas vezes em que eu e ele ficamos na calçada da casa dele tocando violão e conversando quase até o dia nascer”. Com muito carinho, ele diz desejar que o amigo seja lembrado como ele era: “Feliz, amigo, amoroso, divertido, amante de música e o melhor amigo que eu poderia ter”.
“Se você o conhecesse pessoalmente, iria adorar ele”
André Matheus Portela, 32, se diverte ao lembrar de momentos do amigo. Uma das lembranças mais divertidas foi um show do Guns ‘N’ Roses, banda favorita deles, em Curitiba (PR). “Na hora do show, a gente cantou muito juntos, a gente pulou, a gente implicou com ele porque ele gravou metade do show no celular”, recorda.
Esse momento também foi lembrado pelo amigo Jefferson Douglas de Mello, 30, que estava na mesma viagem. Outra recordação do engenheiro de software foi uma festa a fantasia em Araçatuba (SP), em que eles ganharam o primeiro lugar. “Ele (Tonhão) estava fantasiado de Pinguim, a gente brincava que ele parecia o personagem, mas na festa o pessoal achava que ele estava fantasiado de Jacquin do Masterchef”, comenta.
Atualmente morando em Dublin, na Irlanda, André afirma que muita gente da cidade gostava do estudante e quem o conhecesse, com certeza, iria adorá-lo. O ex-professor ainda ressalta: “Ele merece tudo isso e muito mais. Era uma pessoa incrível, muito melhor que eu e qualquer outra pessoa que conheci”.
Jefferson relata que o amigo era “a paz em pessoa, calmo e esforçado” e deseja que Francisco Bertocco Júnior seja lembrado como “um cara bondoso, que quis ser médico para salvar vidas, um emissor da paz e apaziguador do caos.”
*Estagiária sob supervisão da editora Ana Sá