RECONHECIMENTO

Conheça os ex-alunos de destaque da UnB homenageados com título inédito

Universidade de Brasília homenageia ex-alunos com destaque no cenário nacional e internacional, entre economistas, cientistas e pesquisadores. É a primeira vez que a instituição homenageia discentes

Ana Maria da Silva
postado em 25/04/2021 06:00
 (crédito: Reprodução/YuotubeReunião)
(crédito: Reprodução/YuotubeReunião)

A Universidade de Brasília (UnB) completou, na última quarta-feira, 59 anos de existência. Ao longo dessa jornada, estudantes de diferentes locais marcaram a história da instituição e, hoje, são exemplos de profissionais. Atualmente, a UnB acumula um belo acervo de egressos de sucesso, no Brasil e no exterior. Fizeram descobertas, pesquisas e são inspirações para outros alunos. Com o objetivo de reconhecer os feitos de ex-discentes, o Conselho Universitário (Consuni) da UnB entregou, pela primeira vez, títulos de honra ao mérito a cinco egressos.

Criada no ano passado, a honraria é uma forma de homenagear ex-alunos que se destacaram em seus ramos de atuação. A cerimônia ocorreu ontem, durante sessão especial do conselho virtual para marcar o 59º ano da UnB.

Reitora da universidade, Márcia Abrahão ressalta a importância da iniciativa. “Para a UnB, é uma forma de mostrar para a sociedade alguns exemplos de graduados, mestres ou doutores que representam a instituição. Nós somos vistos pelas pessoas que formamos, pelas pesquisas que fazemos e pelos docentes, técnicos e estudantes atuais”, acrescenta.

Márcia lembra que a universidade tinha algumas formas de reconhecimento para professores e técnicos, por exemplo. Mas não havia para egressos. “Decidimos, então, propor essa ideia, e, para nós, é muito importante. É também uma forma de mostrar os exemplos de pessoas que consideramos que a sociedade deve se inspirar”, reforça.

Preservação

Dentre os laureados, está a bióloga e pesquisadora titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Fernanda de Pinho Werneck, 39 anos. Graduada do Instituto de Ciências Biológicas da UnB, ela conta que a universidade fez parte de vários momentos de sua vida. Foi lá que cursou o mestrado e se tornou uma doutora de grande prestígio no meio acadêmico. “A minha jornada foi intensa. Dediquei-me, vivi intensamente a UnB. Na época em que era aluna, fiz representação estudantil, organizei encontros nacionais de estudantes de biologia e sempre fui muito envolvida na iniciação científica. A UnB é minha base como cientista”, garante.

Ativista ambiental, Fernanda conta que, durante o mestrado e o doutorado, trabalhou com a evolução e conservação da biodiversidade. A carreira de pesquisadora tem como destaque contribuições originais sobre o potencial adaptativo de determinadas espécies animais da Amazônia, compreendido em estreita conexão com as mudanças climáticas globais e os efeitos do desmatamento da floresta e de suas zonas de transição floresta-cerrado.

Foram essas iniciativas que lhe asseguraram, em 2016, o Prêmio L’Oréal-Unesco-Academia Brasileira de Ciências para Mulheres na Ciência, área de ciências biológicas e, no ano seguinte, a conquista da versão global da honraria, o Internacional Rising Talents for Women in Science, concedido pela empresa francesa com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

“É muito bacana saber que, passado todo esse tempo, as pessoas lembram da sua trajetória, das contribuições que fez. Eu sei o quão difícil é ser cientista no Brasil. É muito bacana servir de inspiração para alunos, docentes. Compartilhar um pouco dessa trajetória, que foi de muita luta e dedicação”, celebra Fernanda.

Tradição

Em 11 de janeiro de 1963, no seringal Xapuri, localizado no médio rio Tarauacá, região sudoeste do estado do Acre, nasceu Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá, 58, nome que recebeu do padre que o batizou. Quando criança, morou no seringal Alagoas, onde o pai trabalhava como seringueiro para um patrão que não permitia que se falasse o idioma indígeno Hãtxa kui, língua nativa da família de Joaquim. Na adolescência, também tornou-se seringueiro e constituiu família. Depois de anos no corte, passou a frequentar uma escola da Fundação Nacional do Índio (Funai), no Rio Jordão, onde foi pré-alfabetizado.

Em 1983, aos 20 anos, terminou a alfabetização por meio do Programa de Formação de Professores Indígenas, promovido pela Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-AC). A partir de então, Joaquim se apaixonou pela linguística. Mais conhecido como Maná, ele desenvolveu um interesse especial pelo idioma e pela cultura Hãtxá kui, sobre a qual passou a pesquisar e escrever. Lecionou, ingressou no magistério indígena e formou-se em 2000. No ano seguinte, ingressou na primeira turma de graduação em ciências sociais da Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat), concluindo em 2006.

Entusiasta da pesquisa, do ensino e da cultura indígena, Maná ingressou, em 2009, no mestrado em linguística da UnB, recebendo o título em 2011. A caminhada seguiu, e Joaquim foi o primeiro indígena da Amazônia a conquistar doutorado em linguística, em 2014

Após anos de estudos, Maná atuou como pesquisador, linguista, educador e literato indígena. Há cinco anos, coordena um projeto de capacitação de professores e de normatização da escrita Hãtxá Kui, além de desenvolver um livro didático de alfabetização e letramento no idioma. Para Joaquim Maná, a outorga do título de honra da UnB foi um ato simbólico de alto valor para os povos indígenas do Brasil. “É uma forma de homenagear o meu povo e as instituições formadoras que nos deram o direito do estudo. Ultimamente, nossos direitos não têm sido respeitados. São desafios que temos enfrentado diariamente, e receber esse título dá esperança ao nosso povo”, destaca.

Para Chicago

Com carreira internacional, o economista Leonardo Bursztyn, 39, formado na Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas da UnB é professor titular na Universidade de Chicago, nos EUA. Para ele, o período em que frequentou a Universidade de Brasília foi fundamental para o sucesso profissional “Quando terminei a graduação, em 2003, fui fazer o mestrado e optei em me manter na UnB em vez de ir para outros estados, porque ela já havia me proporcionado coisas grandiosas. Foi uma fase excelente, em que eu consegui aprender muito”, garante.

Em 2010, Leonardo conseguiu a oportunidade de cursar o doutorado em Harvard. Depois, tornou-se professor em Los Angeles e abraçou a carreira acadêmica. “Em 2016, eu me mudei para Chicago, que é o departamento mais tradicional de economia. Em 2019, tornei-me professor titular. Tive a oportunidade de desenvolver uma pesquisa e criei meu próprio subcampo na área da economia, que mistura psicologia, política e sociologia”, explica.

Leonardo comemora a honraria que recebeu da UnB. “Eu fiquei muito feliz em ser um dos primeiros na minha área. Foi onde comecei. Conseguir esse reconhecimento da minha alma mater é muito importante”, ressalta o economista. “A UnB sempre será um local especial. Contribuiu para o meu crescimento em todas as formas”, finaliza.

 

Sucesso

Conheça os contemplados

Fernanda de Pinho Werneck (do Instituto de Ciências Biológicas)

Flavio Du Pin Calmon (da Faculdade de Tecnologia)

Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá (do Instituto de Letras)

Leonardo Bursztyn (da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas)

Myriam Jimeno Santoyo (do Instituto de Ciências Sociais)

 

 

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