Intercâmbio

Estudante carioca faz vaquinha on-line para estudar no Catar

Aprovada na Northwestern University in Qatar e na University of Wisconsin-Madison, a jovem não tem condições para cobrir as despesas da viagem

Mateus Salomão*
postado em 27/04/2021 19:45 / atualizado em 27/04/2021 20:13
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

A estudante carioca Vitória do Espirito Santo Teixeira, 18 anos, recentemente realizou o sonho de ser aprovada em uma universidade no exterior. Ela foi aceita por duas instituições e está na lista de espera de outra. A concretização do desejo, no entanto, ainda é incerta. A jovem, que tem o pai gari e a mãe dona de casa, é de baixa-renda e não tem recursos necessários para garantir que vá estudar fora.

O câmpus no Catar da Northwestern University e a University of Wisconsin-Madison, localizada nos Estados Unidos, aceitaram a candidatura de Vitória para somar-se ao corpo discente. Além das duas, ela conta que está na lista de espera Rhodes College, outra instituição americana. Nas opções que teve escolheu graduações correlatas ao marketing e à comunicação.

Entre as universidades que aplicou, a número um era a Northwestern University localizada nos Estados Unidos. No entanto, a aprovação veio somente na Northwestern University do Catar, para onde escolheu ir. Os custos, apesar de serem em grande parte financiados por uma bolsa de estudos, ainda são altos para Vitória. Segundo ela, 5% das despesas ainda são de sua responsabilidade.

Para contornar a situação, a jovem moradora de Magé (RJ) lançou uma vaquinha on-line chamada “Vitória na Northwestern University (Qatar)”. Até o momento, o site mostra que a jovem obteve ajuda de mais de 60 apoiadores, mas que conquistou pouco mais de 15% da meta de R$ 40 mil.

“Falta só agora preencher o formulário de matrícula. Eu ainda estou conversando com os diretores de lá porque é uma taxa muito alta, são U$ 400. E eu estou tentando ver se eles conseguem uma isenção para mim, senão eu vou ter que pagar”, afirma.


Processo foi conturbado e cheio de surpresas

O processo para que recebesse a notícia da aprovação também desafiou a confiança da jovem: “Eu apliquei para catorze (instituições) e, até o momento de eu receber o meu primeiro resultado, eu já tinha sido rejeitada por umas seis ou sete universidades”, relata sobre o resultado para a lista de espera.

“A minha primeira aprovação, que foi a de Northwestern University, chegou de forma muito inesperada. Eu estava no computador e eu loguei no site. Quando eu cliquei na carta de aceitação apareceram vários confetes e estava escrito ‘Parabéns!’ em inglês, aí comecei a gritar pela minha mãe”, afirma. A alegria pelo resultado positivo na University of Wisconsin-Madison também contagiou a família.


Estudar fora, apesar das dificuldades, era um sonho desde criança

A vontade de estudar fora, conta, surgiu quando eu era bem pequena. Em torno dos seis anos, sonhava com uma escola semelhante à do filme High School Musical. O incentivo foi semelhante para aprender inglês, uma vez que queria entender as músicas que escutava.

“Depois desse período, a ideia de estudar fora meio que sumiu, porque eu achava que não era minha realidade, já que o custo é muito alto”, observa. Mas a ideia retornou ao assistir uma reportagem sobre um estudante também do Rio de Janeiro e de escola pública aprovado em várias universidades americanas

Vitória teve atuação em diversas atividades voluntárias durante o ensino médio. Na foto, aparece em um evento do YouTube, do qual faz parte do time de voluntários do programa de expert
Vitória teve atuação em diversas atividades voluntárias durante o ensino médio. Na foto, aparece em um evento do YouTube, do qual faz parte do time de voluntários do programa de expert (foto: Arquivo pessoal)

 

“Quando eu vi que ele era de colégio público, eu comecei a repensar tudo porque como era a mesma realidade que a minha. Porque eu sou da pública, eu vi que tinha uma chance de tentar”, ressalta.

O critério de valorizar atividades extracurriculares foi de encontro ao currículo da jovem. Ela conta que fundou o projeto Um por todos e todos contra o Bullying, que rendeu a participação na final do Prêmio Prudential 2018; e o projeto SIGA--Amando a Vida, focado em saúde mental. Além disso, fez trabalho voluntário no Google e Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef); e participou do grêmio da escola e foi representante de turma.


Processo de aplicação teve desafios

A estudante formada pelo Colégio Estadual Coronel Sérgio José do Amaral, em Magé (RJ), conta que, para se preparar para a aplicação nas universidades americanas, precisou abrir mão da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Terminado o ensino médio em dezembro de 2019, dedicou 2020 para o processo de candidatura nas universidades fora do país.

A estudante estima que as redações estão em torno de trinta. Soma-se a isso as entrevistas que também precisou participar. O processo, inicialmente, foi feito pela estudante sozinha, já que não conseguia pagar por uma mentoria particular. “A mentoria mais barata era R$ 5 mil e vinha até a R$ 150 mil ao ano. É muito dinheiro”, conta.

Na metade de 2020, inscreveu-se no programa de mentoria gratuito do ProDuca e pode contar com a orientação de uma mentora. Mas os percalços não cessaram: “Foi muita luta, porque quando chegou a covid-19 e o lockdown, fecharam muitas coisas, inclusive os lugares onde se fazia o SAT (sigla em inglês para Teste de Aptidão Escolar). Então, eu acabei não conseguindo fazer o SAT, mas eu pude aplicar porque era opcional”, ressalta.

A estudante Vitória relata que sempre que tinha iniciativa de se engajar em alguma atividade, podia contar com apoio dos pais. Na foto a professora (Rosiane), a diretora (Cleyde Jane),  Vitória, o pai (Josué) e a mãe (Elizete)
A estudante Vitória relata que sempre que tinha iniciativa de se engajar em alguma atividade, podia contar com apoio dos pais. Na foto a professora (Rosiane), a diretora (Cleyde Jane), Vitória, o pai (Josué) e a mãe (Elizete) (foto: Arquivo pessoal)

 

Opção de curso ainda está em aberto

“Eu moro e estudo em um lugar onde não tem muitas oportunidades para se desenvolver. O fato de eu ter criado projetos como Um por todos e todos contra o bullying e SIGA--Amando a Vida me destacou, pois eu não só pude me aperfeiçoar como pessoa como também ajudei a minha comunidade e escola a se tornar um lugar melhor”, considera a jovem sobre o processo.

Ela explica que a universidade, mesmo estando localizada em outro país, tem semelhança com as instituições americanas. "Ela só oferece dois cursos: comunicação e jornalismo. No primeiro ano, você entra como sem declarar a escolha do curso ainda. Aí no segundo ano você declara, se quer comunicação ou jornalismo”, observa

Ela observa que pode mudar até o fim do período designado para a escolha da formação. Atualmente ela quer trabalhar com comunicação mais voltada pro lado de marketing, mas acredita que eu possa mudar de opinião a qualquer hora, dependendo das aulas que fizer e dos projetos que participar.

Para ajudar a estudante na vaquinha on-line, acesse este link.


*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá

  • A estudante Vitória relata que sempre que tinha iniciativa de se engajar em alguma atividade, podia contar com apoio dos pais. Na foto a professora (Rosiane), a diretora (Cleyde Jane),  Vitória, o pai (Josué) e a mãe (Elizete)
    A estudante Vitória relata que sempre que tinha iniciativa de se engajar em alguma atividade, podia contar com apoio dos pais. Na foto a professora (Rosiane), a diretora (Cleyde Jane), Vitória, o pai (Josué) e a mãe (Elizete) Foto: Arquivo pessoal
  • Vitória teve atuação em diversas atividades voluntárias durante o ensino médio. Na foto, aparece em um evento do YouTube, do qual faz parte do time de voluntários do programa de expert
    Vitória teve atuação em diversas atividades voluntárias durante o ensino médio. Na foto, aparece em um evento do YouTube, do qual faz parte do time de voluntários do programa de expert Foto: Arquivo pessoal
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