Superação

Estudante com paralisia cerebral é aprovado na federal do Ceará

Dênis Castro ingressou para o curso de publicidade e propaganda. Ele mantém um perfil no Instagram onde conta suas experiências

Júlia Mano*
postado em 05/05/2021 14:54 / atualizado em 05/05/2021 16:03
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

O aluno Dênis Castro, 20 anos, foi aprovado no curso de publicidade e propaganda na Universidade Federal do Ceará (UFC) por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A história dele repercutiu em redes sociais e em veículos da mídia pela conquista e também por ter superado barreiras que surgiram ao longo da vida por causa da sua deficiência. “Eu fico feliz com a repercussão. Eu esperava uma repercussão aqui em Fortaleza. Mas a nível nacional, eu fiquei muito surpreso”, conta.


Quando Dênis nasceu, os médicos informaram a sua mãe que ele tinha uma baixa expectativa de vida. Os profissionais chegaram a dizer que ele não sobreviveria nem por um mês e depois que ele não andaria ou falaria. No entanto, a mãe dele não desistiu e hoje Dênis atribui boa parte da conquista a ela. “Eu digo que mais de 50% é mérito da minha mãe”, declara.


Dênis estudou, desde o sexto ano do ensino fundamental, na escola de ensino médio em tempo integral Matias Beck (EEMTI Matias Beck) que fica em Fortaleza. Foi durante esse período que ele acredita que pôde amadurecer não só como aluno, mas também como homem. O rapaz é grato à diretora da escola e aos colegas que teve na instituição. “Foram eles que me mostraram que eu tenho capacidade de fazer o que eu quiser”, afirma.

 

Ao entrar no ensino médio, a nova fase marcou ele pelo fato de que teria que passar o dia inteiro na escola, das 7h30 às 17h, por ser um sistema integral. A diretora da escola, Virginia Vilagran, conta que quando Dênis finalizou o fundamental, ele teve receio de continuar na escola. Por causa da nova carga horária, ele teria que fazer as refeições na instituição e isso o deixou preocupado.

 

Dênis tem problemas motores e ele não se sentia confortável em segurar o talher no refeitório. A diretora conversou com ele e com a mãe e o rapaz mudou de ideia e continuou na escola até concluir o ensino médio no ano de 2020. Para isso, a instituição organizou uma rotina para ele se sentir confortável, a opção dada por Dênis era a de almoçar sozinho e assim foi feito.

 

No entanto, os colegas repararam a ausência constante dele e procuraram a diretora, ela explicou e os alunos decidiram convidar Dênis para almoçar com eles. Os estudantes também o ajudavam dentro da sala de aula e nas de educação física, além de o incentivar a pedir auxílio.

 

Para Dênis, o apoio dos colegas foi muito importante, pois percebeu que não precisava ter vergonha ou medo de pedir ajuda. “Quando você pede e tem muitas pessoas que querem te ajudar, isso é sinal de que você é uma pessoa querida e amada por todos”, expõe.

 

Outros momentos que o estudante aprovado destaca foram os vividos em sala de aula. Ele conta que era um pouco difícil acompanhar o ritmo dos outros alunos por escrever mais devagar e ter dificuldades na leitura. Mas isso nunca o atrapalhou pelo fato de os professores serem pacientes com ele e deixá-lo fazer as atividades no próprio ritmo.

 

A diretora também evidencia os obstáculos pessoais que Dênis venceu. Ela conta que, dentro do ritmo dele, o aluno fazia as mesmas provas que eram aplicadas aos outros estudantes e obtinha bons resultados. “Ele fazia simulado igual todo mundo e está aí o resultado. Dênis fez o Enem com tudo que um adolescente com necessidades especiais tem direito dentro de um concurso público. Nós acionamos tudo, o ledor, o transcritor e o tempo adicional de prova e o resultado está aí”, conta.

 

Ensino remoto e preparação para o Enem

Durante o ano de 2020, Dênis destaca que enfrentou uma das maiores dificuldades na escola por causa do ensino remoto. O sistema on-line de aulas e atividades era novo para ele e por isso teve que passar por uma adaptação no início, assim como os outros alunos e a própria instituição.

 

Ele conta que no período de organização da escola nesse novo modelo foi complicado, mas que depois da adoção da plataforma Google Sala de Aula ficou melhor para estudar os conteúdos do terceiro ano e para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

 

A escola de Dênis também ofereceu suporte aos estudantes para se prepararem para o exame. Foi trabalhado os conteúdos que poderiam cair nas provas e dado material para eles estudarem.

 

Além disso, Dênis complementou a sua preparação assistindo vídeos no YouTube e buscando, na internet, os assuntos trabalhados com os professores.

 

A escolha por publicidade

Inicialmente, o curso pretendido era terapia ocupacional, no entanto, por cursos de saúde, normalmente, serem mais concorridos e com notas mais altas, Dênis preferiu buscar outra opção. Ele se encontrou no curso de publicidade e propaganda por ser uma pessoa comunicativa e ter se identificado com a profissão.

 

Hoje, ele tem como foco a graduação escolhida e, como as aulas ainda não começaram, ele faz pesquisas para conhecer um pouco mais sobre o curso. Até o momento, o que chamou a atenção dele é a parte de divulgação, e como atrair um público a ver aquilo que ele gosta dentro de uma propaganda, além disso ele também se identificou com a área de entretenimento.

Mas o que mais inspira Dênis é a área de mídias sociais e marketing, muito se deve ao trabalho que ele faz em seu perfil no Instagram.

 

Diário do deficiente

Depois de um tempo de Instagram, Dênis decidiu fazer conteúdos diferenciados, ou seja, além de mostrar a vida de um deficiente com paralisia cerebral. Ele faz publicações motivacionais com o objetivo de que o seu cotidiano unido às suas conquistas possam servir de inspiração, principalmente, para pessoas deficientes.

 

Quando a ideia surgiu, ele compartilhou com os amigos e eles o apoiaram. Com isso, Dênis alterou o nome de usuário do perfil para @diario_do_deficiente. Atualmente, ele tem mais de 1,4 mil seguidores e pretende continuar alimentando a rede social para que possa alcançar ainda mais pessoas.

 


 

“Quero que olhem para mim e digam: ‘Olhe esse rapaz, se ele consegue viver, eu também consigo’. É só isso que eu quero. Eu não quero ficar famoso, a intenção é motivar as pessoas”, finaliza.

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo

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