UERJ

Deputado que pediu extinção da Uerj é chamado de autoritário

Presidente da Alerj afirma que PL é inconstitucional. O autor já havia atuado contra a Uerj em 20 de maio, quando retirou cartazes de mobilizações

Gabriella Castro*
postado em 26/05/2021 19:17 / atualizado em 26/05/2021 19:18
 (crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
(crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Na terça-feira (25), o deputado estadual Anderson Moraes (PSL-RJ) protocolou Projeto de Lei (PL) que pede a extinção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Nas redes sociais, o parlamentar bolsonarista disse que não poderia aceitar "balbúrdia nas universidades custeadas com o dinheiro do povo”.

O projeto foi rejeitado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). "Enquanto eu for presidente, não vota. É inconstitucional e isso seria atribuição do Poder Executivo", afirma o presidente da casa, André Ceciliano (PT-RJ).

O deputado estadual e presidente da Comissão de Educação da Alerj, Flavio Serafini (Psol-RJ), chamou a medida de “surto autoritário”. Segundo ele, o deputado precisa ler a Constituição do Estado do Rio de Janeiro.


Marcelo Freixo (Psol-RJ), deputado federal, cobrou postura do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC-RJ), diante do projeto de extinção. Anderson Moraes é aliado do governo estadual.


 

Estudantes se manifestaram contra a medida e exaltaram a universidade. Nas redes sociais, uma estudante comentou ser “uerjiana com muito orgulho”. Também houve elogios quanto às colocações da Uerj entre as 10 melhores universidades do país.

 

 

 

 

A União Nacional dos Estudantes (UNE) afirmou que são “tempos sombrios” no Brasil e relembrou outro momento em que o termo “balbúrdia” foi empregado para justificar cortes em universidades. Em 2019, o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, propôs corte de verbas de universidade que, segundo ele, estavam promovendo balbúrdia. As três primeiras instituições a serem atacadas foram a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA).

 

Projeto fala em “aparelhamento ideológico de viés socialista” na Uerj

Entre as justificativas para o Projeto de Lei, o deputado afirmou haver um "aparelhamento ideológico de viés socialista” na Uerj. Segundo ele, há censura na universidade contra quem pensa diferente dessas ideologias mediante agressão física e verbal.

O projeto ainda diz que a posição da instituição nos rankings não compensa os investimentos e faz uma análise de custos por aluno x quantidades de Prêmios Nobel.

Anderson Moraes também ressalta que o projeto prevê fomento à iniciativa privada. A proposta prevê transferência de vagas para universidades particulares.

PL não foi primeiro ataque do deputado à instituição

Esse não foi o primeiro ato do deputado Anderson Moraes contra a Uerj. Em 20 de maio, após dia de Paralisação Nacional em Defesa da Educação, o parlamentar teria ido até o campus Maracanã e destruído faixas das manifestações.

Segundo nota da Associação dos Docentes da UERJ (Asduerj), Anderson “invadiu, na calada da noite, o Campus Maracanã da Uerj, em uma postura descontrolada em função das críticas ao governo do Presidente Jair Bolsonaro, provocando vandalismos contra as faixas afixadas nesse espaço, intimidando os seguranças, xingando servidores/as e estudantes”.

O texto, intitulado “Nota da Asduerj em repúdio ao atentado à liberdade de expressão”, ainda afirma que ele usou da condição de parlamentar para justificar o direito de “invadir, destruir, caluniar, vociferar contra a universidade e publicar em suas redes o que ele acredita ser o seu papel como representante parlamentar”.

Leia a nota completa neste link.

“Uerj é um grande patrimônio nacional”, afirma Andes

Para a presidenta do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), Rivânia Moura, o PL mostra desconhecimento sobre a importância da universidade pública. “Reconhecemos que a Uerj é um grande patrimônio nacional e referência para as universidades, na produção do conhecimento e em Saúde. Esse é mais um ataque frontal à educação pública”, aponta Rivânia.

Leia a nota na íntegra.

 

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo

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