Eu, Estudante

Conquista

Estudante gaúcha faz vaquinha para custear estudos no Catar

Maiara Lohmann, do interior do Rio Grande do Sul, foi aprovada na Northwestern University in Qatar

Natural de Maratá (RS), cidade localizada a cerca de 83 km da capital Porto Alegre, Maiara Lohamann vai fazer o ensino superior na Northwestern University in Qatar, no câmpus em Doha. A estudante de 18 anos sonha desde os 12 em estudar no exterior e, depois de muito esforço dela e também da família, alcançou o objetivo em março deste ano ao receber a carta de admissão da instituição estrangeira.

A decisão de fazer uma faculdade internacional, que ocorreu no início da adolescência, foi num momento em que ela e mais um grupo de amigas fizeram uma promessa, em conjunto, para todas irem morar no exterior quando acabasse o ensino médio. Depois, elas tomaram rumos diferentes na vida e passaram a ter outros sonhos, no entanto, Maiara levou a escolha a sério e se dedicou, desde então, para alcançar.

A menina estudou, do ensino fundamental até concluir o médio, no Colégio Estadual Engenheiro Paulo Chaves. Os pais sempre incentivaram a estudante a finalizar os estudos e fazer uma graduação, inclusive apoiaram o objetivo dela em fazer essa etapa no exterior.

No entanto, ela conta que eles tiveram um choque ao receber a notícia de que ela conseguiu ser aceita na Northwestern University in Qatar. “Eles não conheciam ninguém de baixa renda que tivesse conseguido isso. Então, eu ser aceita foi o maior baque, porque eles ficaram ‘ok, ela realmente conseguiu’”, conta.

Preparação para estudar no exterior


Com o objetivo definido, a estudante começou a estudar inglês em 2017, se esforçava na escola para obter notas altas, fez trabalhos voluntários. Ela também participou de concursos e competições e buscava se destacar entre os participantes.

Na escola, Maiara foi representante estudantil no conselho escolar de 2016 a meados de 2019. Ela também obteve quatro menções honrosas nas participações na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) de 2015 a 2018.

Somando todos esses feitos e conquistas, a estudante se inscreveu no Programa Jovens Embaixadores de 2019, promovido pela Embaixada dos Estados Unidos do Brasil. A iniciativa é voltada para brasileiros do ensino médio que estudam em escolas públicas e tenham conhecimento da língua inglesa, capacidade de liderança e inclinação ao empreendedorismo. 

Apesar disso, para os participantes que chegaram à fase nacional, a Embaixada Estadunidense ofereceu o English Immersion Program 2019 (EIP19), em que os selecionados têm aulas de conversação no idioma e são imersos na cultura dos Estados Unidos. Maiara veio para o Distrito Federal com outros 15 jovens da Região Sul para participar do programa. Durante a imersão, ela co-fundou o projeto de empreendedorismo social Sã&Salva, que tem como objetivo erradicar a violência contra mulher na sociedade brasileira.

Além disso, nesse período, ela conheceu o Latin American Leadership Academy (LALA). A organização sem fins lucrativos tem como missão a promoção do desenvolvimento econômico sustentável e o fortalecimento da governança democrática na América Latina.

Maiara participou da edição 2019 do Mexican Leadership Bootcamp, onde pôde desenvolver o projeto criado na EIP19, Sã&Salva, além de se aperfeiçoar como líder. “Eu voltei de lá com novas ideias. E essa experiência no exterior, mesmo que breve, me deu ainda mais certeza de que eu queria estudar fora”, declara. Para participar do programa, a estudante fez arrecadação para conseguir custear a viagem para o México.

Com a participação no Latin American Leadership Academy, Maiara conheceu o projeto SuperMentor (SM) que é uma mentoria aberta para quem deseja estudar no exterior. De acordo com ela, a iniciativa visa democratizar o acesso às informações sobre o processo de candidatura em universidades fora do Brasil. “No início de 2020, eu participei do processo seletivo deles para ser voluntária. Eu passei e comecei a atuar como content creator. Foi justamente nesse momento que a preparação ficou mais intensa”, conta.

Os voluntários do projeto que estão estudando em universidades nos Estados Unidos passaram a auxiliar ela na reta final do processo de admissão. Eles revisaram as redações que ela teve que enviar e deram dicas em cada processo de candidatura. “Eu continuei a fazer os meus trabalhos voluntários, tentando balancear com manter uma boa média escolar, enquanto também estudava para prova de proficiência em inglês, escrever mais de 45 redações e reunir os documentos necessários”, relata.

Maiara fez a aplicação para 22 universidades estrangeiras, entre elas as estadunidenses Harvard, Yale e Stanford. Por fim, ela foi aceita na Northwestern University in Qatar. “Eu fiquei na lista de espera da University of Chicago, o que já foi uma conquista e tanto, considerando que eles rejeitam 99% dos alunos brasileiros que precisam de auxílio financeiro na fase de decisões regulares (regular decision)”, expõe.

A universidade deu o resultado em março deste ano e Maiara afirma que recebeu sozinha e com bastante nervosismo, pois foram anos dedicação em busca de estudar no exterior. Ao ler a carta de admissão, a estudante foi celebrar com a irmã mais velha. “Aquela carta, dizendo que eu havia sido aceita, foi como uma prova de que toda minha dedicação tinha valido a pena”.

A influência da família


A estudante conta que vem de uma família humilde, a mãe, é técnica de enfermagem, parou de trabalhar quando engravidou da irmã mais velha de Maiara, ficou cerca de 16 anos fora do mercado e retornou somente em 2016. O pai possui somente o ensino fundamental completo e é motorista de ônibus.

A irmã da estudante foi a primeira da família a ingressar no ensino superior. Em 2018, ela passou por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni), para cursar relações internacionais na Unisinos.

Mesmo com as dificuldades financeiras, a família da estudante sempre incentivou a educação dentro de casa, principalmente, por meio da leitura. Maiara afirma que cresceu rodeada por livros e destaca um momento, quando ela tinha 10 anos, a mãe foi a uma livraria comprar um livro que estava juntando dinheiro a um certo tempo e levou a menina junto. Mas, quando chegou ao local, um livro de literatura juvenil despertou o interesse de Maiara e a mãe comprou o que a filha tinha gostado no lugar do dela.

Para Maiara, a primeira vez que ela percebeu que o esforço que os pais faziam para mantê-la estudando teve resultado foi aos 12 anos. Na ocasião, a redação dela foi uma das 89 selecionadas na competição 'Crianças e Jovens do Rio Grande Escrevendo Histórias', promovida pela secretaria de educação do Rio Grande do Sul. A estudante foi a primeira do Colégio Estadual Engenheiro Paulo Chaves a ter a produção selecionada na disputa.

Por ter sido escolhida, a menina participou da Feira do Livro de Porto Alegre de 2014, onde teve a oportunidade de estar em uma tarde de autógrafos no evento. “Aquele momento serviu para determinar que eu iria buscar uma mudança na minha vida através da educação”, afirma.

Arrecadação


Para custear as despesas de ida para o Qatar, Maiara está fazendo uma vaquinha on-line. Ela precisa de R$17 mil reais para pagar a passagem aérea, a taxa de dormitório, o teste de covid-19 e a hospedagem para fazer quarentena exigida ao chegar no país. Até o momento, ela conseguiu somente R$ 155.

Além disso, ela está organizando uma rifa com prêmios doados pelos moradores da cidade a ela. A venda vai ocorrer pelo perfil do Instagram dela @maiaralohmann).

 

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo