DEMOCRATIZAÇÃO DA CULTURA

Estudante aprovada na Northwestern sonha em democratizar o cinema nas periferias

Yasmin veio de uma região periférica e pretende estudar ciência política, jornalismo e cinema. A jovem fez uma vaquinha para conseguir cobrir as despesas

Gabriella Castro*
postado em 09/06/2021 17:00 / atualizado em 09/06/2021 18:24
 (crédito: arquivo pessoal)
(crédito: arquivo pessoal)

Estudante de escola pública da periferia de São Paulo (SP), Yasmin Dianni, 19, não tinha perspectiva de que teria formação superior. Foi após uma conferência da atual deputada Tábata Amaral (PDT-SP) que ela começou a sonhar com estudar no exterior. "A história dela é muito parecida com a minha e, quando eu vi que era possível uma pessoa de baixa renda e de escola pública estudar no exterior, especificamente nos Estados Unidos, para mim foi muito incrível e gratificante ter essa informação'', recorda.


Yasmin passou para a Universidade Northwestern, em Illinois, Estados Unidos, onde pretende estudar ciências políticas, cinema e jornalismo. “O que me move é a periferia, sem dúvidas”, conta a estudante. Ela explica que acompanhou de perto a falta de acesso à cultura que jovens periféricos sofrem e conta que teve apoio de projetos culturais, por isso, quer voltar para o Brasil e retribuir com o que aprendeu. Ela ainda tem o sonho de trabalhar na Secretaria Especial da Cultura.


Para ela, um dos fatores que mais influenciou na admissão na faculdade foi ser co-fundadora do Cinema na Praça, um projeto que visa democratizar o acesso ao cinema para periferias de SP. “Íamos todos os finais de semana montar o cinema, com projetores e caixas de som. Impactamos mais de 33 comunidades”, relata. “O interessante do projeto é que procuramos proporcionar filmes com aprendizados sociais, para no final debatermos sobre o assunto.”


Além do cinema, Yasmin foi roteirista do clube de teatro da escola em que estudava, criou uma horta comunitária, e foi estagiária da Organização das Nações Unidas (ONU) por cinco meses, onde traduzia documentos do inglês para o francês.


Dificuldades para estudar no exterior


A aprovação na Northwestern veio acompanhada da bolsa de 95%, que cobre mensalidade e hospedagem, mas não cobre outros gastos como alimentação e passagens aéreas.


Por isso, ela criou uma campanha pelo site Vaquinha para quem puder e quiser ajudar a jovem a realizar o sonho de morar no exterior. Yasmin já visitou, inclusive, a prefeitura de Vinhedo (SP), cidade onde reside há três anos.


A campanha visa cobrir os gastos com alimentação, passagens aéreas, expected contribution (contribuição esperada por ano), taxa de confirmação do dormitório, passaporte e outros custos.

 

Processo mais humano


“As universidades querem pessoas que aproveitem o ensino”, conta Yasmin, que tirou um ano sabático após o ensino médio para se preparar mais para os exames. “Eu tive que ter excelência acadêmica, eu tive que aprender inglês, fazer atividades extracurriculares, participar de competições”. Ela conta que chegou a passar em torno de 10 horas escrevendo redações para os processos.

A estudante ainda aprendeu inglês e francês por conta própria. Mas a jornada de Yasmin também contou com muita ajuda profissional. Por meio de pesquisas, ela conheceu as mentorias Project Access e Matchlighters Scholarship Program, que ajudam jovens em potencial de baixa renda a ingressarem nas universidades americanas.

“É um processo complexo, mas vale muito a pena porque ele é mais humano”, recorda. “Não é uma nota da prova que te define. Eles querem conhecer quem você é”.

 

*Estagiária sob a supervisão da editora Ana Luisa Araujo

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