Prêmio

Quem é Geovana Ramos?

Conheça a jovem pesquisadora espacial premiada por ter descoberto, este ano, 46 asteroides

Arthur Vieira*
postado em 24/12/2021 13:22 / atualizado em 24/12/2021 13:25
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Ao perguntar para jovens garotas ao redor do país o que elas querem ser no futuro, podemos receber muitas respostas diferentes. Algumas querem ser médicas, outras, veterinárias ou talvez policiais, engenheiras, jornalistas, modelos, entre várias outras profissões. Provavelmente, poucas responderiam ter um sonho tão desafiador e ousado como o de ser uma astronauta, e uma delas é a estudante Geovana Ramos, 21 anos, apaixonada por astronomia desde o início de sua vida e que agora caminha para pôr seu nome na história da pesquisa espacial brasileira, e chegar aonde pouquíssimas mulheres no mundo chegaram, ainda mais nessa idade.


Geovana vem de Manaus, criada no bairro Jorge Teixeira, na zona leste da cidade, e desde muito nova sua paixão pela astronomia se fez presente em sua vida. Ela conta ter tido o hábito de pegar livros do colégio para ficar observando os planetas desde os 10 anos de idade. “Eu me lembro de passar muito, muito tempo vendo aquilo, totalmente apaixonada, e tendo aquela consciência da imensidão que é o universo e do quão pequena eu sou”, relembra Geovana. Mas de pequena ela só tinha o tamanho, pois sua mente já estava destinada a buscar ser uma das maiores no ramo da astronomia no país.


Vida escolar e acadêmica

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. (foto: Arquivo Pessoal)

A estudante passou a vida escolar estudando de manhã e à tarde, tendo uma rotina cansativa. Mas sempre em busca do sonho de trabalhar no ramo espacial e de ser uma pioneira na representatividade feminina na área. No segundo ano do ensino médio, foi quando ela decidiu, de fato, que queria cursar astronomia.


Pela insegurança com relação às oportunidades na área e à questão financeira, Geovana acabou cursando contabilidade. “Foi uma decisão entre a razão e a emoção”, relata. Porém seu sonho falou ainda mais alto e, após dois anos, ela trancou o curso e largou o antigo emprego para estudar para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em busca da formação em astronomia. A primeira opção, até então, era a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), porém, com a suspensão das aulas, Geovana acabou decidindo se mudar para o Ceará, por conta das oportunidades existentes ali para quem quer estudar, pesquisar e trabalhar nessa área.


Hoje, ela mora no município de Tianguá, no interior cearense, e entrou para o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE - Câmpus Sobral), onde cursa licenciatura em física e se sente bastante grata por tudo que passou para chegar até lá: “A IFCE me acolheu e, juntos, temos grandes projetos pela frente. Estou no melhor lugar onde eu poderia estar”.


Projeto Caça-Asteroides

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. (foto: Arquivo Pessoal)

Pode-se dizer que, por enquanto, o maior feito de Geovana foi quando ela participou do projeto Caça-Asteroides, quando, em um período de seis meses, conseguiu detectar 46 asteroides em regiões próximas à Terra e em uma região entre os planetas Marte e Júpiter, um feito grandioso para uma pesquisadora tão jovem e em início de carreira.


O projeto faz parte de uma iniciativa do IASC (International Astronomical Search Collaboration), da NASA, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Geovana se inscreveu nele como uma estudante que queria aproveitar a oportunidade de desbravar o espaço sideral. A estudante relata ter sido um trabalho árduo de se realizar. Ela conta que teve de assumir trabalhos de colegas que acabaram desistindo do processo e revelou que perdeu muito sono para desenolver o projeto. “Me senti o próprio Elon Musk fazendo esse trabalho”, diz ao fazen referência ao fundador da Tesla. Mesmo assim, ela persistiu, pelo seu comprometimento e de todos os envolvidos no projeto com a NASA, além da esperança de que a experiência lhe proporcionasse chances de trabalhar em parceria com a agência espacial estadunidense em outros projetos.


O esforço e o comprometimento da estudante com o IASC/NASA foram recompensados. Seu feito de detectar os asteroides a fez ser reconhecida nacionalmente. Ao fim da edição deste ano, em novembro, Geovana recebeu certificados de reconhecimento do próprio IASC/NASA e do MCTI e foi, ainda, premiada com uma medalha de honra ao mérito pelo seu feito na 18° Edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília, em 9 de dezembro, entregue pelo astronauta e ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.


Geovana diz se sentir uma cientista valorizada por ter recebido reconhecimento e notoriedade nacional, ainda mais por ser uma mulher do eixo Norte-Nordeste do país na Ciência, o que a faz se sentir ainda mais honrada. Ao mesmo tempo que Geovana fica cada vez mais ambiciosa e buscando atingir patamares ainda mais altos na carreira, sua gratidão é algo que já a marca bastante: “Eu vim para trabalhar, para fazer ciência, e se estou aqui, foi porque muitos me colocaram aqui, tem uma penca de ‘mãozinhas’ me mantendo em pé, graças a Deus”.

Canal no YouTube

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. (foto: Arquivo Pessoal)

Se você achou que ela guardou conhecimento, experiência e pesquisas apenas para si, está enganado! Geovana criou um canal no YouTube em julho deste ano, chamado Astrofísica e Ciência por Geovana Ramos. Nele, a jovem propaga conhecimentos diversos do ramo astrofísico e conta relatos pessoais de sua experiência na sua graduação e nos projetos de que participou.


Mesmo com uma rotina um pouco exaustiva, ela procura sempre conciliar seus estudos com a programação de vídeos no seu canal. “O que mais me inspirou foi propagar a ciência, e propagá-la para todos, porque nosso Brasil é forte na área, e quanto mais brasileiros tiverem acesso à ciência, mais longe nós iremos”, afirma. Como o seu canal está começando, Geovana testa novas metodologias para o ensino e aguarda ansiosamente para que ele ganhe ainda mais notoriedade no país. Até o momento, são 260 inscritos e mais de 1.800 visualizações, e ela tem esperanças de que esses números cresçam cada vez mais.


Teste-drive


Segundo a estudante, trabalhar no projeto Caça-asteroides foi como “test-drive do seu futuro”. Geovana tem na cabeça que essa será a rotina que vai seguir, quando for trabalhar em outros projetos relacionados. Até porque vale lembrar que a estudante está no início da graduação.


Além de trabalhar com a astronomia, a sua grande paixão, a jovem pesquisadora espacial tem outro objetivo: conquistar o Prêmio Nobel, a honraria máxima concedida a qualquer teórico e pesquisador em todo o planeta. Geovana começa a traçar planos para essa conquista. “Quero me alinhar ao governo e trabalhar pela ciência no nosso país e, independentemente de qualquer coisa, continuar propagando o ensino científico, continuar fazendo pesquisas e ser uma professora do voluntariado”, afirma.


Ela reforça, mais uma vez, o compromisso que tem com a educação brasileira, de se sentir na obrigação de fazer com que o ensino científico e uma educação de qualidade chegue a todos os brasileiros e brasileiras. Ela também revelou ter vontade de fazer mestrado fora do país, em uma faculdade renomada, para, assim, ter a capacidade e a chance de trazer o tão sonhado Nobel para o Brasil.


Geovana Ramos é um exemplo de superação, foco e disciplina para conquistar um sonho. Ela veio de uma família humilde, estudou sempre na rede de ensino pública fora das grandes metrópoles brasileiras. Hoje, é uma garota que deu um grande passo para ter seu nome eternizado no campo da pesquisa espacial brasileira e que dará muitos outros para que isso se concretize.

 

*Estagiário sob supervisão de Ana Sá

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