Educação

É importante considerar vacina como obrigação, diz reitor sobre passaporte na USP

Ao ser questionado de que forma esse "julgamento" seria feito, ele explicou que ainda não tem um modelo desenvolvido

Agência Estado
postado em 23/02/2022 11:39 / atualizado em 23/02/2022 11:39
 (crédito: Evaristo Sa/AFP)
(crédito: Evaristo Sa/AFP)

O novo reitor da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Gilberto Carlotti Junior, defendeu nesta quarta-feira, 23, o passaporte vacinal na instituição, válido para alunos, professores e servidores técnico-administrativos. As aulas presenciais serão retomadas em 14 de março e, segundo o dirigente, o espaço físico passou por adaptações para reduzir os riscos de transmissão da covid-19.

"É a nossa opção. Temos um aplicativo de identificação em que já pode ser incluída a vacinação. É importante que consideremos a vacinação como obrigação", afirmou ele em entrevista à rádio Eldorado. Segundo ele, um "esquema especial" foi montado às pessoas que não possam - por determinação médica - receber o imunizante contra o novo coronavírus.

Para o retorno, o reitor disse que a universidade aumentou a ventilação nas salas de aula e prevê um esquema preferencial de refeições em espaços amplos. "Nosso objetivo é ter um ensino em 2022 melhor do que foi em 2019 (último ano inteiramente presencial). O corpo docente está preparado para fazer a transição", garantiu.

"Todos os prédios e instalações deverão estar funcionado. É para ser presencial o ensino. O uso de alguma ferramenta mediada por tecnologia será complementar. A USP não é uma universidade de ensino a distância. É isso que nossos alunos estão esperando e o corpo docente também", acrescentou Carlotti Junior, que é médico.

Ações afirmativas

No campo das ações afirmativas, Carlotti Junior tem defendido maior diversidade de gênero para professores - ele inclusive avalia adotar alguma ação afirmativa nesse sentido - e aperfeiçoar os sistemas de identificação dos cotistas (pretos, pardos e indígenas) com o objetivo de evitar fraudes.

"Obviamente temos limitações e legislações para fazer algumas atividades, mas precisamos ter no corpo docente a mesma diversidade no corpo discente. Por isso, a preocupação que considere a diversidade de gênero e racial. Ainda não temos uma fórmula pronta, mas é um interesse da reitoria que isso seja representado. Isso deve ser feito com o processo natural, sem romper a excelência da universidade", frisou. A USP tem 159 professores pretos ou pardos, o que representa 2,7% de 5.788 docentes.

Desde 2017, a universidade adota o sistema de cotas raciais para alunos de escolas públicas no vestibular da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest). Também reserva vagas para estudantes oriundos de escolas públicas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que usa a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em 2020, pela primeira vez, a instituição teve 50% de seus novos alunos vindos da rede pública de ensino.

O desafio agora, para o reitor, é acabar com erros nos cadastros, já que o vestibular utiliza a autoidentificação dos candidatos cotistas. "Nesse período, tivemos quase duas centenas de casos de acusações de fraudes do nosso sistema. A denúncia acontece durante o curso e, muitas vezes, demora quatro, cinco anos até a apuração ser finalizada. O aluno, então, já vai ter deixado de frequentar a universidade após todo esse período", disse. "Ao invés de tratar de forma punitiva o aluno que eventualmente tenha alguma fraude, trataremos isso desde o início."

Ao ser questionado de que forma esse "julgamento" seria feito, ele explicou que ainda não tem um modelo desenvolvido. "O que utilizamos no nosso vestibular é uma descrição de fenótipo (características físicas). Você deve ter o fenótipo identificado para fazer parte das cotas. Acho que esse será o ponto de partida, mas estamos começando a discussão. Precisamos descrever isso melhor, mas pontuar ter um antepassado negro não garante o acesso. Isso é uma confusão feita por muitos os alunos", exemplificou.

Em várias universidades federais, por exemplo, é adotada a estratégia das bancas de heteroidentificação, em que um comitê avaliador indica se o candidato à cota deve ou não ser contemplado com a ação afirmativa. Carlotti Junior, porém, não detalhou se esse é o modelo que a universidade paulista tem no horizonte.

"A maioria do que estamos chamando de 'fraudes' não é voluntária, é por não entender o processo. Vamos tomar o cuidado de não sermos exclusivos ao utilizar o fenótipo com uma característica muito acentuada, certamente vai ter uma gradação, especialmente com os pardos. Mas a universidade tem conhecimento, pessoas capacitadas para fazer essa postura, inclusive para que a sociedade utilize o que nós iremos definir".

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