UFPB

Reitor da UFPB é aprovado em curso superior por meio de cotas

Ministério Público Federal abriu investigação para apurar suspeita de favorecimento e violação de regras para ingresso na mesma instituição pelo Sisu

Jáder Rezende
postado em 02/03/2022 21:39 / atualizado em 02/03/2022 22:34
O reitor Valdiney Gouveia foi aprovado na UFPB por meio de cotas que beneficiam estudantes de escola pública -  (crédito: Reprodução/Arquivo Pessoal/Facebook)
O reitor Valdiney Gouveia foi aprovado na UFPB por meio de cotas que beneficiam estudantes de escola pública - (crédito: Reprodução/Arquivo Pessoal/Facebook)

O Ministério Público Federal (MPF) abriu, nesta quarta-feira (2), investigação contra o reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Valdiney Veloso Gouveia, por ter utilizado cotas para estudantes que terminaram o ensino médio em escolas públicas. O caso gerou polêmica no meio acadêmico. A Associação de Docentes da Universidade Federal da Paraíba (Adufpb) entende que Gouveia não pode conciliar o cargo de reitor e estudante.

Gouveia foi aprovado no curso de engenharia de produção na mesma instituição, com 638.9 pontos. De acordo com o edital do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2022 e o regimento da UFPB, sua aprovação não representa impedimento para conciliar os estudos com a função que exerce.

A procuradora do MPF, Janaína Andrade de Souza, foi a responsável pela instauração de uma Notícia de Fato para que se dê início às apurações. Pesa contra o reitor suspeita de eventual favorecimento e/ou violação de regras para o ingresso na UFPB pelo sistema de cotas, no qual se insere o Sisu. De acordo com o MPF, “Notícia de Fato” é um procedimento inicial para coleta de informações.

O MPF determinou à pró-reitoria de graduação da UFPB que se manifeste acerca do ocorrido “de forma fundamentada”, no prazo de dez dias, a partir da data em que a instituição receber o ofício. A assessoria de comunicação da UFPB informou que não vai se pronunciar sobre a ação do MPF “por se tratar de um assunto de cunho pessoal”. Com relação à citação da pró-reitoria de graduação, informou que haverá posicionamento apenas quando o documento for entregue.

Em entrevista ao Correio, Gouveia disse estar tranquilo. “Não vejo nenhum problema. O Ministério Público Federal merece todo o nosso respeito. Não fiz o Enem como reitor, mas como um cidadão. Não compreendo tanto assombro por um interesse pessoal. Qualquer aluno oriundo de escola pública pode se candidatar pelo sistema de cotas do Enem. Isso não é nada do outro mundo”, disse, completando que o MPF “deve investigar se houver anormalidade ou desigualdade e punir da mesma forma”. “Se eu fiz realmente algo errado, devo responder como qualquer cidadão”, afirmou.

Gouveia fez 638,9 pontos na prova do Enem e entrou para o curso de engenharia de produção, que consta com horário noturno. Considerando que os alunos aprovados devem iniciar suas aulas no próximo semestre, Gouveia, que tomou posse em dezembro de 2020, deve passar um ano e meio conciliando os estudos universitários e o trabalho na reitoria, até novas eleições para reitor serem convocadas na instituição.

Gouveia possui licenciatura e (1989) e formação (2005) em psicologia pela UFPB e bacharelado em direito pelo Centro Universitário de João Pessoa, onde concluiu o curso em 2016, além de especialização em psicometria (1993) e mestrado em psicologia social e do trabalho pela Universidade de Brasília (UnB), concluído 1991. Há 30 anos é professor do Departamento de Psicologia da UFPB. Entre os tópicos aos quais vem se dedicando, ele destaca “valores humanos, bem-estar subjetivo, comportamentos pró e antissociais e individualismo coletivismo”. “Já fiz dois cursos e provavelmente farei outro. Minha intenção é me aperfeiçoar sempre. Este é o papel de um professor”, diz.

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