A greve dos servidores do Instituto Federal de Brasília (IFB) entra nesta quinta-feira (30) em seu quarto dia, com adesão de mais da metade dos câmpus da instituição, segundo o comando de greve. A afirmação, no entanto, é contestada pela reitoria do IFB, que afirma que menos de 10% dos servidores aderiram à paralisação.
O comando de greve ressalta que o movimento está, sim, com boa adesão, apontando como exemplo câmpus de Recantos da Emas e Ceilândia, que registram maior mobilização entre os demais, realizando apenas atividades complementares para os estudantes. Além disso, garante que os servidores intensificarão a mobilização na próxima semana.
A greve de docentes e servidores do IFB teve início na segunda-feira (27) e pede por reajuste salarial e recomposição orçamentária na pasta da educação. Desde maio, universidades e institutos federais sofrem com cortes bilionários que colocam em risco o pagamento de gastos básicos para o funcionamento das instituições, como água e luz, além da continuidade de pesquisas e manutenção de assistência estudantil para permanência de estudantes em situação de vulnerabilidade. A crise instaurada no Ministério da Educação é outra motivação para a paralisação.
De acordo com o coordenador Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) em Brasília, Dimitri Assis, 40, a greve surge em um momento de desespero dos institutos federais, uma vez que não há diálogo do governo com as entidades. "Em apenas três dias de mobilizações, há uma avaliação positiva da greve nos câmpus de Brasília. Estamos promovendo palestras e discussões em todas as unidades para ampliar o movimento", afirma. Ainda segundo Dimitri, há uma tentativa de mobilizar os técnicos. "Estamos buscando um acordo com a Reitoria para a reposição das horas da greve, de forma que os técnicos, especialmente, se sintam mais seguros para aderir", disse.
Segundo Paulo Cabral, professor do campus de Planaltina e membro do comando de greve, há uma negociação em curso para evitar prejuízo tanto pata os alunos quanto para os professores. Ele afirma que a greve é “justa, necessária e satisfatória”, já que, devido aos cortes, a instituição perde a capacidade de expansão e de operacionalização.
“A educação é um direito de todos e dever do Estado”, defende, ressaltando que embora os alunos não estejam em greve, participam e acompanham as diversas atividades artísticas, esportivas e palestras.
Ele admite que, pelo fato de a greve ainda estar no início, não há mobilização forte, mas destaca que a adesão, no geral, tem sido boa.
Nesta quinta-feira, estudantes e servidores promoveram panfletagem e manifestação no centro de Planaltina para sensibilizar o público sobre a greve.
Durante a próxima semana, afirma Assis, esforços serão redobrados para que o movimento cresça ainda mais em câmpus menos mobilizados, como os do Gama, Estrutural e Samambaia, com convocação de novas atividades.
A reitora do IFB, Luciana Massukado, ressalta que menos 10% dos servidores aderiram à greve e que os estudantes prosseguem com aulas normais. No entanto, ela pondera que a baixa adesão se justifica pelo retorno presencial e que a preocupação maior é com os estudantes, que já foram muito prejudicados pelo ensino a distância no auge da pandemia.
A reitora afirma que mantém diálogo sempre aberto, e que respeita e defende a importância da greve. “A instituição não proíbe os servidores de se mobilizarem e nem os obriga a isso, mas respeita aqueles que querem aderir à paralisação”, disse Luciana.
Ela lembra que o IFB foi pioneiro ao deflagrar atos em defesa da educação e afirma que, no momento, além das reivindicações cobradas pelos docentes, a atenção está voltada para o projeto de lei orçamentária anual de 2023, que já está sendo analisado e segue em tramitação no Congresso Nacional.
Votação no Congresso
O Congresso Nacional deve votar, em sessão conjunta, antes do recesso parlamentar, até 17 de julho, a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2023, que define quais serão as metas, prioridades e regras para o gasto público do ano. A lei serve de base para a elaboração do projeto de lei orçamentária (LOA).
De acordo com relatório da comissão de orçamento, entre outras áreas, gastos com educação, assistência a estudantes, ciência, tecnologia e inovação serão protegidos e não poderão ser bloqueados pelo governo.
"Dessa forma, a previsão é de que o IFB siga em greve até que a votação seja realizada", diz o professor Paulo Cabral, assegurando que servidores de institutos federais de outros estados, como Goiás, São Paulo e Bahia, se reunirão para fortalecer o calendário de protestos que acontecerão em Brasília antes da votação.
*Estagiário sob a supervisão de Jáder Rezende