Falso flagrante

Juíza absolve estudante negro preso acusado de levar drogas na mochila

Desde o início das investigações, defesa sustentou que flagrante foi forjado. Universitário foi acusado de portar maconha e supositórios de cocaína

Eu Estudante
postado em 25/08/2022 17:33
 (crédito:  Chalirmpoj Pimpisarn/iStock/Imagem ilustrativa)
(crédito: Chalirmpoj Pimpisarn/iStock/Imagem ilustrativa)

A juíza Daniela Pazzeto Meneghine Conceição, da 11ª Vara Criminal do foro da Barra Funda, absolveu das acusações de tráfico de drogas o estudante negro Gabriel Apolinário Ribeiro, que foi abordado e preso em uma abordagem policial em 13 de julho de 2020, no Jardim São Luis, zona sul de São Paulo. A decisão foi publicada nesta segunda-feira, 22, e também absolve o outro acusado, Marcelo Julio dos Santos. A magistrada viu contradições nos depoimentos dos policiais militares responsáveis pela detenção dos dois réus.

Na época da prisão, de acordo com a denúncia, "policiais militares, apurando notícia anônima de tráfico de drogas no local, conhecido como ponto de venda de drogas, para lá se encaminharam, e, lá chegando, depararam com os indiciados em atitude suspeita, razão pela qual decidiram abordá-los". Santos foi acusado de estar em posse de 20 porções de cocaína e de 14 pedras de crack, enquanto Apolinario teria, segundo o texto da denúncia, indicado um matagal onde estava escondida uma mochila com 487 supositórios com cocaína e 20 embalagens de maconha, que pertenceria a operações de tráfico.

A peça, assinada pelo promotor de justiça Luís Guilherme Sampaio Garcia, pede a condenação de ambos pelo crime de tráfico de drogas e arrola como testemunhas apenas os dois policiais militares indicados como responsáveis pelo flagrante, Alex Bezerra da Silva e Hermes Vicente Ferreira Neto. Na época, Apolinário tinha 18 anos e cursava marketing. Ele chegou a ficar dois meses preso e conseguiu responder ao processo em liberdade depois de um recurso direcionado ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Desde o começo das investigações, a defesa de Apolinário afirma que o flagrante foi forjado. Bruno Borragine, advogado que representou Apolinário, afirma que "desde a primeira análise do caso que a gente verificou que havia um enorme abuso policial". No processo, a defesa apresentou prints de conversas que o jovem teria tido com um amigo uma semana antes da sua prisão, no dia 6 de julho, nas quais conta que foi ameaçado por policiais militares no mesmo ponto onde foi detido no dia 13. Ele diz ao amigo que os policiais teriam encostado uma arma na sua barriga e mostrado entorpecentes dentro da viatura, que seriam usados para incriminá-lo.

No dia da abordagem, Apolinário e Santos afirmam, por meio de suas defesas, que foram detidos em horários e locais distintos e que nenhum dos dois portava dinheiro ou drogas ilícitas. Eles teriam sido reunidos já dentro da viatura policial, meio pelo qual foram conduzidos à delegacia.

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