CONQUISTA

Brasileiro é o primeiro negro aprovado em MBA de instituição americana

Wellington Vitorino foi selecionado na segunda tentativa no MIT. Desde muito novo se envolveu com o empreendedorismo e teve que contornar desafios para estudar

Mateus Salomão*
postado em 28/04/2021 20:37 / atualizado em 28/04/2021 21:50
 (crédito: IARA MORSELLI)
(crédito: IARA MORSELLI)

Brasileiro é o primeiro negro a passar em um curso de MBA no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Wellington Vitorino, 26 anos, também é o segundo negro a conquistar uma vaga no MBA em uma das sete melhores instituições, que engloba: MIT Sloan, Harvard Business School, Stanford Graduate School of Business, Columbia Business School, Booth Business School, Wharton e Kellogg.

Além da aprovação ser uma conquista pessoal para Wellington, que nasceu em Niterói e cresceu em São Gonçalo, o resultado positivo guarda uma história de superação das dificuldades encontradas na periferia do Rio de Janeiro.

Ele observa que precisou de determinação para ir atrás do sonho, mas também atribui o resultado às pessoas que o apoiaram durante a preparação, ou até mesmo antes. “Muita gente colocou muita energia nesse sentido, porque sabia que era um, um reforço muito positivo pro Brasil nesse sentido”, observa.

“O Brasil é um país que tem entre 200 e 300 milhões de pessoas. É bonito para mim (ter essa conquista), mas deveria ser para a sociedade vergonhoso que na história a gente só conseguiu que uma pessoa fosse aprovada, mas que representa mais que 50% da população”, reflete sobre as desigualdades de representação de pessoas negras.

Formação diferente do Brasil

Wellington explica que o MBA nos EUA difere da forma como é oferecido no Brasil, uma vez que garantem o título de mestre. Além disso, as instituições têm número bastante restrito de cursos oferecidos no segmento. "Simplificando, lá fora só tem um tipo de MBA, que te credencia como mestre em negócios”, observou.

Ele ressalta que enquanto estiver no país não poderá trabalhar nos dois anos em que estiver estudando. “Eu só posso trabalhar nos Estados Unidos, podendo ficar mais dois anos trabalhando sem nenhuma preocupação de visto, depois que uma empresa quiser“, pontua.

De acordo com o estudante, o processo de aplicação para tentar uma das vagas é semelhante ao da graduação: com provas, entrevistas e análise da trajetória. Onde Wellington considera que foi mais forte, era no aspecto da história, que chamam de delta. “Da onde você saiu até onde você conseguiu chegar”, explica.

Atualmente, ele mantém um instituto responsável pelo PróLíder, que é um programa de formação de lideranças do país; tem uma marca chamada Fuor Summit, com eventos e grandes referências no país. “Hoje, a gente desenvolve metodologias de treinamento e estuda o treinamento em empresas”, acrescenta.

Relação com os negócios é antiga

Wellington começou a trabalhar cedo, quando tinha apenas 8 anos, vendendo água e refrigerante na praia, com o pai. Embora não precisasse sustentar a família, os pais valorizavam a atividade como um aprendizado sobre o valor do trabalho e do dinheiro. Nas idas à praia, durante as férias, ajudava nas vendas e o que conseguisse de lucro ficava para si.

Aos 12 anos, passou a vender picolé em um batalhão da Polícia Militar. “(Tinha) um acordo com os coronéis que eu deveria mostrar meu boletim. Só que lá era muito lucrativo porque eu faturava, por dia, por volta de uns R$ 50”, explica sobre a quantia que podia chegar a superar um salário mínimo no mês.

Com os rendimentos, pôde investir no ramo da produção de doces caseiros. “Depois passei a fornecer para buffets e festas infantis doces menores. E comecei a fornecer caixas de doces”, afirma. Investiu até que conseguiu uma bolsa para terminar o ensino médio em uma escola renomada no Rio de Janeiro.

Grandes conquistas nos estudos, mas não foram fáceis

Então, o desafio passou a ser as cinco horas e meia de trânsito diárias. Encontrou como solução a oferta de dormir escondido em escola pública no Leblon para ficar mais perto da Gávea, onde estudava. “Eu sabia que eu tinha que dar resultado”, pondera o estudante que dormia em um sofá-cama na sala dos professores.

Os resultados compensaram nos anos seguintes: passou em vestibulares, tirou nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ganhou bolsa para a graduação. Além disso, já teve a oportunidade de estudar um mês em Oxford, conquistou o apoio da Fundação Estudar e da Fundação Lemann -- a última atualmente oferece uma bolsa.

Para bancar todos os custos dessa formação, e também para a preparação, tem contado com apoio de empresários que acreditaram na mudança que sua formação pode gerar. “Pessoas físicas, generosas, que acreditam, que acompanharam o processo, também vão ajudar financeiramente”, observa. Durante o processo, ele contou com mentoria da Monteiro Marques Admissions, na preparação da aplicação, e Mr. Browm, com aulas gratuitas de inglês.


Apoio na caminhada rumo à aprovação


Diante das dificuldades de todo o processo, Wellington mantinha em mente que a mãe merecia ter um filho formado pelo MIT e ir para uma formatura lá. Além disso, considera que diante de tantos sonhos, talentos, boas pessoas colocadas em seu caminho, precisava fazer o sonho virar realidade.

“No meu caso, eu acho que tinha uma responsabilidade de ser um dos primeiros e especificamente, dependendo da categoria, ser o primeiro a ponto de quebrar essa barreira”, conta. Para o futuro, pretende se desenvolver em negócios que envolvam o Brasil e algumas outras partes do mundo, mas almeja investir na política futuramente.


*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá

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