Conquista

Brasiliense é o mais jovem a concluir doutorado no país

O anúncio foi feito esta semana pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A autarquia considera Luan Ozelim um exemplo do sucesso das ações dedicadas ao aperfeiçoamento nas modalidades de mestrado, doutorado e pós-doutorado

Mateus Salomão*
postado em 18/05/2021 17:40 / atualizado em 18/05/2021 17:41
Luan Ozelim recebeu o título de doutor em 2014, aos 22 anos. Porém, toda a trajetória acadêmica é marcada por conquistas e excelência independentemente da idade -  (crédito: Arquivo pessoal)
Luan Ozelim recebeu o título de doutor em 2014, aos 22 anos. Porém, toda a trajetória acadêmica é marcada por conquistas e excelência independentemente da idade - (crédito: Arquivo pessoal)

Luan Ozelim, 28 anos, é natural do Distrito Federal e, aos 22, concluiu doutorado pela Universidade Brasília (UnB). De acordo com levantamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), com base nos cadastros de bolsistas inscritos nos Programas de Pós-Graduação do Brasil a partir de 2013, ele é destaque por ser o mais jovem a concluir doutorado no Brasil.

A autarquia, que completa 70 anos de existência, considera Luan Ozelim um exemplo do sucesso das ações dedicadas ao aperfeiçoamento nas modalidades de mestrado, doutorado e pós-doutorado, uma vez que ele contou com apoio da Capes, que financiou toda a formação.

Em 2014, Luan Ozelim defendeu tese de doutorado em geotecnia, que é uma vertente da engenharia civil que lida com estruturas e intervenções em solos e rochas. Anteriormente, graduou-se em engenharia civil também pela UnB.

Apesar da formação conhecidamente precoce, a notícia de ser o doutor a se formar mais jovem o surpreendeu. "Fiquei muito surpreso com a notícia, pois sei que o Brasil conta com inúmeros talentos no mundo acadêmico”, conta.

“Ter alcançado esse feito me deixou extremamente honrado e agradecido a todos que participaram dessa caminhada, principalmente à minha família e amigos”, reforça.

Luan passou na UnB antes mesmo de se formar no ensino médio

Luan recorda que a trajetória escolar começou na Escola Classe da Vila do RCG, que fica no Setor Militar Urbano de Brasília. “Já nos primeiros anos, ainda na Escola Classe do RCG, minha mãe, Lenilza, e o grupo psicopedagógico da escola notaram que eu poderia me desenvolver melhor caso avançasse um ano na grade escolar, o que foi feito”, conta sobre a progressão de série quando ainda estava no jardim 3.

Depois, estudou em alguns colégios particulares antes de ingressar no sistema Colégio Militar, passando pelas unidades de Curitiba, Rio de Janeiro, Manaus e, por último, Brasília. Ainda na metade do 3° ano do ensino médio, foi aprovado no vestibular da UnB para engenharia civil.

“O Colégio Militar de Brasília permitiu que eu obtivesse o diploma do ensino médio antes do fim do ano em decorrência do desempenho no primeiro semestre letivo”, conta sobre o ingresso precoce na universidade.

Conquistas não pararam na graduação

Foi na UnB que começou a flertar com a carreira acadêmica. “Por mais que, durante a escola eu tivesse tido contato com a área acadêmica, principalmente em decorrência da participação em Olimpíadas de Física, Matemática e Química, a carreira como pesquisador se tornou mais pronunciada em meus objetivos a partir do 2° semestre de graduação, quando conheci o professor Pushpa Rathie nas aulas de probabilidade e estatística da UnB”, conta.

“Naquele momento, vi nele um espelho do que gostaria de me tornar como pesquisador, redirecionando meus estudos nesse sentido. A partir de então, segui com esse objetivo até finalizar meus estudos”, relembra. Luan Ozelim participou de cinco projetos de iniciação científica, ainda na graduação.

Para que pudesse ingressar na pós-graduação da forma mais rápida possível, finalizou o curso de engenharia civil em quatro anos, enquanto o comum é levar cinco anos. Tendo um repertório recheado de publicações ao longo da graduação, com algumas em revistas de alto impacto internacional, professores sugeriram que pleiteasse o ingresso diretamente ao doutorado.

“Felizmente, fui aceito e dei início aos meus estudos. Por já estar inserido na temática de pesquisa da minha tese, foi possível completar o doutorado em dois anos, em vez de quatro, fazendo com que eu obtivesse o título de doutor aos 22 anos”, conta.

Luan relata que sempre tinha o objetivo de finalizar a graduação e a pós-graduação o mais rápido possível, de forma a alcançar o objetivo principal: ser professor da Universidade de Brasília. “Não tinha ideia de que esse caminho acelerado pudesse trazer esse reconhecimento de doutor mais jovem do Brasil”, destaca.

Atualmente, Luan é servidor concursado do Senado Federal no cargo de analista legislativo, com especialidade em engenharia civil. “Além disso, sou pesquisador colaborador Pleno vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Geotecnia na UnB”, observa.

Cenário de pesquisa é dificultado pela diferença de oportunidades, considera Luan

Para o futuro, Luan almeja dar início a um instituto de pesquisa, em que instituições públicas e privadas possam encontrar um ambiente propício para trocas acadêmicas valiosas. “A evolução da ciência tem mostrado que o estudo interdisciplinar é capaz de gerar grandes descobertas, pois a solução de problemas em áreas aparentemente desconectadas pode encontrar alguma similaridade”, conta.

Sobre as dificuldades de seguir a carreira acadêmica no país, ele considera que, assim como tantas outras, não depende de maneira exclusiva do pesquisador. “Tenho claro para mim que o maior desafio no cenário científico nacional é o nivelamento de oportunidades. Nesse sentido, instituições de apoio à pesquisa fortes e atuantes são cruciais para que a ciência nacional avance”, afirma.

“Como dito, muitos pesquisadores acabam abrindo mão de estabelecer um vínculo empregatício externo para que possam se dedicar integralmente às suas pesquisas”, observa o doutor. “Sem uma rede de proteção à pesquisa, que contempla bolsas, laboratórios e uma infraestrutura apropriada, essas dificuldades serão agravadas”.

Ele reafirma que o Brasil conta com inúmeros talentos que, em última análise, dependem desses incentivos para que possam avançar a pesquisa nacional. Para aqueles que estão ingressando na carreira, recomenda que se mantenham sempre curiosos e ávidos por conhecimento.

Ele recomenda que os pesquisadores busquem dialogar sobre ciência, ouçam seus colegas, critiquem os trabalhos de maneira ponderada e fundamentada. “Uma ciência construída conjuntamente é não apenas mais divertida, mas também muito mais impactante e relevante para todos”, pondera.

*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá

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