O programa de trainee anunciado pelo Magazine Luiza é voltado para formar futuras lideranças da empresa. A rede informou que, atualmente, 53% do quadro de funcionários são formados por pretos e pardos, mas apenas 16% deles ocupam cargos de liderança. Dessa forma, com a proposta de reparar as desigualdades dentro da companhia, o Magazine tornou o processo seletivo de trainee exclusivo para negros.
O programa exige que o candidato tenha se formado entre dezembro de 2017 e dezembro de 2020 em curso de bacharelado ou licenciatura. Nesta edição, exige-se que o candidato se autodeclare negro. O salário é de R$ 6.600, além de benefícios. As inscrições estão abertas até 12 de outubro no site maga.lu/trainee2021. O processo seletivo inclue testes e entrevistas.
A multinacional alemã Bayer anunciou dois programas: um, de trainee, e outro, de mentoria, ambos focados em profissionais negros. As inscrições estão abertas somente para o primeiro e vão até 21 de outubro. Para participar, acesse o site: liderancanegra.ciadetalentos.com.br.
O programa oferece 19 vagas em várias cidades da região Sudeste e Nordeste. O candidato precisa ter se formado entre dezembro de 2017 e dezembro de 2020. A remuneração é de R$ 6.900, mais benefícios. A Elanco Saúde Animal também anunciou programa de estágio direcionado a afro-descendentes e pessoas com deficiência (PCD).
Racismo reverso?
O Ministério Público do Trabalho em São Paulo indeferiu denúncias recebidas contra a decisão do Magazine Luiza. A analista de desenvolvimento de ações afirmativas e treinamento em empresas do Instituto Identidades do Brasil (ID-BR) Heloise da Costa ressalta que atitudes como as dessas companhias reconhecem a realidade de desigualdade racial no contexto de cargos executivos. “As empresas estão numa desproporcionalidade muito grande de representação, quando a gente vai olhar cargos mais altos”, lembra.
Heloise ressalta que a repercussão negativa nas redes sociais está relacionada a uma falsa ideia de harmonia racial entre brancos e negros. “A gente só está vendo tudo isso porque, no DNA racista da sociedade brasileira, não se aceita que pessoas negras estejam em lugar de destaque”, afirma.
Existe ilegalidade?
A advogada trabalhista Maria Lúcia Benhame enxerga que, por serem pontuais e não impedirem a contratação de empregados de outras raças, as iniciativas não descumprem a legislação. “É uma ação afirmativa para tentar minimizar um dano antigo, que decorre de toda uma estrutura social. Mas entendo que o corte não deve ser somente por raça, mas, também, social, de maneira a privilegiar os realmente mais prejudicados”, destaca.
Repercussão esperada
A diretora executiva de gestão de pessoas do Magalu, Patrícia Pugas, conta que já esperava que o projeto desencadeasse debates.
Vale ressaltar que a repercussão polarizada rendeu uma valorização de cerca de 2,6% nas ações da empresa negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo até terça-feira (23). A executiva reforça que, mesmo com os ataques, a rede continuará com o programa de diversidade e inclusão. “Trata-se de uma decisão de negócio para corrigir uma distorção interna, que é nociva. Somos mais fortes, se mais diversos,” esclarece.
Corrigir desigualdades
Por meio de nota, a Bayer afirmou que o programa de trainee é o primeiro em 10 anos que traz um recorte étnico-racial e que vem para auxiliar a empresa na composição de um quadro mais diverso. “O programa observa a legislação vigente, inclusive o Estatuto da Igualdade Racial, que prevê a possibilidade de ações afirmativas por parte das iniciativas pública e privada”, afirma.
* Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá