REPUTAÇÃO

A hora de negar uma oportunidade

Ao recusar uma proposta de emprego ou pedir demissão, sobretudo neste tempo de pandemia, é importante tomar alguns cuidados. Especialistas dão dicas de como lidar com este desafio

Correio Braziliense
postado em 17/10/2020 00:20 / atualizado em 17/10/2020 00:22
 (crédito: Odgers Berndtson/Divulgação)
(crédito: Odgers Berndtson/Divulgação)

» Isadora Martins*

Cerca de 14 milhões de brasileiros estão desempregados. Em um momento como este, parece quase impossível conseguir uma vaga, mas as oportunidades começam a surgir. Reposições são necessárias e há empresas também aumentando o time. “Estamos entrando em uma fase de respiro. De um mês para cá, sentimos uma retomada do mercado. Existe esperança e ocorre uma aceleração nas contratações”, diz Lúcia Santos, gerente de Recursos Humanos da Adecco, consultoria de gestão de pessoas.
Após uma série de incertezas sobre como ficariam as relações de trabalho na pandemia, corporações se adaptaram ao novo contexto. “As propostas voltaram a aparecer. O mercado ainda não está 100%, mas as empresas estão recuperando fôlego”, afirma Lúcia. Agora, diante dessa retomada do mercado, imagine a seguinte situação: você passou em dois processos seletivos de emprego e precisa escolher entre um deles. Como avisar ao outro empregador que vai declinar da vaga? Ou, então, como pedir demissão do trabalho sem ser malvisto pelo chefe?
Dizer “não” é uma tarefa complicada, principalmente quando trata-se do mercado de trabalho. Afinal, é preciso tomar cuidado para não sujar a imagem diante do empregador, nem fechar portas na empresa. De acordo com especialistas de recursos humanos, o mais importante é a honestidade. No caso de estar concorrendo a outras oportunidades, a dica é avisar os selecionadores. No entanto, em tempos de alto desemprego, profissionais costumam se guiar pela máxima “melhor um pássaro na mão do que dois voando”.
É natural que exista receio de contar sobre outras oportunidades que está cogitando e, assim, acabar se prejudicando em determinada seleção. Porém, se mais para a frente, duas ou mais companhias o chamarem para o emprego, você terá que lidar com uma bela saia justa e corre o risco de deixar selecionadores da instituição rejeitada chateados. Selecionar um candidato demanda tempo. Descobrir que a pessoa escolhida para a vaga com tanta dedicação, por fim, não a quer pode, sim, queimar o filme dela, dependendo de como ela agirá. Pior ainda se o profissional aceitou a oportunidade e, logo depois, avisa que precisará negá-la porque recebeu resposta de outra empresa.
Abra o jogo

“O melhor jeito de o trabalhador não se prejudicar é ser transparente. Ou seja, se ele está participando de mais de um processo seletivo, é importante deixar claro para os recrutadores”, explica Flávio Pestana, CEO da Odgers Berndtson. “Assim, no momento em que o candidato diz que aceitou outra proposta, não cria constrangimentos”, acrescenta. Gerente sênior de Recrutamento da Robert Half, Flávia Alencastro concorda que o candidato pode e deve contar ao recrutador que está participando de outra seleção.
“Não há problema nenhum nisso. Inclusive, é muito importante e interessante porque o headhunter (recrutador) é um parceiro do candidato. Então, se você atualizá-lo sobre o que realmente está acontecendo, ele só tem a te ajudar”, explica. Ainda de acordo com Flávia, formada em administração, o profissional só deve permanecer em um processo seletivo até o fim se tiver certeza de que quer a vaga.
“Muitas vezes, a gente vê o candidato participando de uma seleção sem a certeza de que vai permanecer. Declinar de uma proposta de trabalho na última fase porque você não teve certeza ao longo da seleção é complicado. Isso fecha portas”, diz. “Agora, se uma pessoa passar em dois processos seletivos simultaneamente e se interessar pelos dois, ela vai precisar entender qual atende melhor às expectativas de curto, médio e longo prazo”, orienta.
Nessa situação, a gerente de recrutamento recomenda que o profissional explique os motivos pelos quais declinou de uma das vagas. “É importante dizer que você não vai aceitar aquela proposta porque outra fez mais sentido, por causa da remuneração, da carga horária, da localização da empresa…”

Seja ágil e sincero

Outro fator essencial é a agilidade para comunicar o recrutador. Se você não pretende assumir a vaga, nada de enrolar para avisar. “No momento em que o candidato que está participando de vários processos seletivos aceita uma oferta, ele precisa dizer aos outros recrutadores”, afirma Flávio Pestana. Segundo Marcela Martins, gerente de Gente da Wavy Global, “quando o profissional sabe que não vai querer uma vaga, precisa dar esse retorno imediatamente”.
Outra dica importante para não se prejudicar ao recusar uma oferta de trabalho é apresentar os reais motivos pelos quais você não pretende assumir a vaga. “A gente não vê com maus olhos pessoas que negam uma proposta de emprego, desde que a recusa seja bem explicada”, diz. “Você pode muito bem dizer que não se adequou à cultura da empresa ou que aquele propósito não se conecta com o seu, por exemplo”, sugere Marcela.
“Sempre de uma forma educada e com respeito”, acrescenta. Ainda de acordo com a psicóloga formada pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), é interessante agradecer o tempo que o recrutador investiu no processo seletivo. “Ele também tem um networking e pode até mesmo indicar o candidato para outra oportunidade”, explica.

Colaborou Ana Lídia Araújo*

*Estagiárias sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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