REPUTAÇÃO

Saiba como recusar uma proposta ou sair do emprego em tempos difíceis

Se foi surpreendido com uma oferta e não pretende aceitar ou se quer largar o trabalho, especialistas recomendam honestidade e avisar com antecedência

Isadora Martins*
postado em 18/10/2020 16:41 / atualizado em 18/10/2020 21:16
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Cerca de 14 milhões de brasileiros estão desempregados. Em um momento como este, parece quase impossível conseguir uma vaga, mas as oportunidades começam a surgir. Reposições são necessárias e há empresas também aumentando o time. “Estamos entrando em uma fase de respiro. De um mês para cá, sentimos uma retomada do mercado. Existe esperança e ocorre uma aceleração nas contratações”, diz Lúcia Santos, gerente de Recursos Humanos da Adecco, consultoria de gestão de pessoas.

Após uma série de incertezas sobre como ficariam as relações de trabalho na pandemia, corporações se adaptaram ao novo contexto. “As propostas voltaram a aparecer. O mercado ainda não está 100%, mas as empresas estão recuperando fôlego”, afirma Lúcia. Agora, diante dessa retomada do mercado, imagine a seguinte situação: você passou em dois processos seletivos de emprego e precisa escolher entre um deles. Como avisar ao outro empregador que vai declinar da vaga? Ou, então, como pedir demissão do trabalho sem ser malvisto pelo chefe?

Dizer “não” é uma tarefa complicada, principalmente quando trata-se do mercado de trabalho. Afinal, é preciso tomar cuidado para não sujar a imagem diante do empregador, nem fechar portas na empresa. De acordo com especialistas de recursos humanos, o mais importante é a honestidade. No caso de estar concorrendo a outras oportunidades, a dica é avisar os selecionadores. No entanto, em tempos de alto desemprego, profissionais costumam se guiar pela máxima “melhor um pássaro na mão do que dois voando”.

É natural que exista receio de contar sobre outras oportunidades que está cogitando e, assim, acabar se prejudicando em determinada seleção. Porém, se mais para a frente, duas ou mais companhias o chamarem para o emprego, você terá que lidar com uma bela saia justa e corre o risco de deixar selecionadores da instituição rejeitada chateados. Selecionar um candidato demanda tempo. Descobrir que a pessoa escolhida para a vaga com tanta dedicação, por fim, não a quer pode, sim, queimar o filme dela, dependendo de como ela agirá. Pior ainda se o profissional aceitou a oportunidade e, logo depois, avisa que precisará negá-la porque recebeu resposta de outra empresa.

Abra o jogo

"Se está participando de mais de um processo seletivo, é importante deixar claro para os recrutadores. Assim, no momento em que o candidato diz que aceitou outra proposta, não cria constrangimentos" Flávio Pestana, CEO da Odgers Berndtson
"Se está participando de mais de um processo seletivo, é importante deixar claro para os recrutadores. Assim, no momento em que o candidato diz que aceitou outra proposta, não cria constrangimentos" Flávio Pestana, CEO da Odgers Berndtson (foto: Odgers Berndtson/Divulgação)

“O melhor jeito de o trabalhador não se prejudicar é ser transparente. Ou seja, se ele está participando de mais de um processo seletivo, é importante deixar claro para os recrutadores”, explica Flávio Pestana, CEO da Odgers Berndtson. “Assim, no momento em que o candidato diz que aceitou outra proposta, não cria constrangimentos”, acrescenta. Gerente sênior de Recrutamento da Robert Half, Flávia Alencastro concorda que o candidato pode e deve contar ao recrutador que está participando de outra seleção.

“Não há problema nenhum nisso. Inclusive, é muito importante e interessante porque o headhunter (recrutador) é um parceiro do candidato. Então, se você atualizá-lo sobre o que realmente está acontecendo, ele só tem a te ajudar”, explica. Ainda de acordo com Flávia, formada em administração, o profissional só deve permanecer em um processo seletivo até o fim se tiver certeza de que quer a vaga.

“Muitas vezes, a gente vê o candidato participando de uma seleção sem a certeza de que vai permanecer. Declinar de uma proposta de trabalho na última fase porque você não teve certeza ao longo da seleção é complicado. Isso fecha portas”, diz. “Agora, se uma pessoa passar em dois processos seletivos simultaneamente e se interessar pelos dois, ela vai precisar entender qual atende melhor às expectativas de curto, médio e longo prazo”, orienta.

Nessa situação, a gerente de recrutamento recomenda que o profissional explique os motivos pelos quais declinou de uma das vagas. “É importante dizer que você não vai aceitar aquela proposta porque outra fez mais sentido, por causa da remuneração, da carga horária, da localização da empresa…”

Seja ágil e sincero

A gente não vê com maus olhos pessoas que negam uma proposta de emprego, desde que a recusa seja bem explicada" Marcela Martins, psicóloga e gerente de Gente da Wavy Global
A gente não vê com maus olhos pessoas que negam uma proposta de emprego, desde que a recusa seja bem explicada" Marcela Martins, psicóloga e gerente de Gente da Wavy Global (foto: Wavy Global/Divulgação)

Outro fator essencial é a agilidade para comunicar o recrutador. Se você não pretende assumir a vaga, nada de enrolar para avisar. “No momento em que o candidato que está participando de vários processos seletivos aceita uma oferta, ele precisa dizer aos outros recrutadores”, afirma Flávio Pestana. Segundo Marcela Martins, gerente de Gente da Wavy Global, “quando o profissional sabe que não vai querer uma vaga, precisa dar esse retorno imediatamente”.

Outra dica importante para não se prejudicar ao recusar uma oferta de trabalho é apresentar os reais motivos pelos quais você não pretende assumir a vaga. “A gente não vê com maus olhos pessoas que negam uma proposta de emprego, desde que a recusa seja bem explicada”, diz. “Você pode muito bem dizer que não se adequou à cultura da empresa ou que aquele propósito não se conecta com o seu, por exemplo”, sugere Marcela.

“Sempre de uma forma educada e com respeito”, acrescenta. Ainda de acordo com a psicóloga formada pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), é interessante agradecer o tempo que o recrutador investiu no processo seletivo. “Ele também tem um networking e pode até mesmo indicar o candidato para outra oportunidade”, explica.

Quero sair do emprego. E agora?

Pedir desligamento de uma empresa onde você trabalha há meses ou anos não é fácil. Se não agir bem, o profissional pode destruir a reputação construída. Quando a decisão é motivada por descontentamento com o serviço, é importante refletir se a insatisfação é passageira ou se, de fato, é hora de encerrar o ciclo. “Tomar uma atitude precipitada pode prejudicar o futuro da carreira”, alerta Flávia Alencastro.

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. (foto: Thiago Fagunde/CB/D.A Press)

Em tempos de crise sanitária, a pressão do isolamento social ou, em alguns casos, o aumento do peso do trabalho remoto ou presencial pode interferir na decisão. “A pandemia foi vivenciada em diferentes intensidades por cada um. Presenciei pessoas pedindo desligamento por isso”, conta Lúcia Santos, da Adecco.

Se, depois de fazer uma autoavaliação, você optar por pedir desligamento, é importante tomar cuidados para não “se queimar”. Lembre-se de que outros recrutadores podem pedir recomendação para a empresa da qual você está se desligando. Em primeiro lugar, é importante comunicar a demissão com antecedência.

Legalmente, o funcionário precisa cumprir aviso prévio de 30 dias antes de sair. No entanto, de acordo com Flávio Pestana, CEO da Odgers Berndtson, esse tempo, na maioria das vezes, é “ruim” para todas as partes envolvidas. “A organização não quer ficar trabalhando 30 dias com uma pessoa que deseja ir embora; o funcionário que vai embora também não quer ficar lá sabendo que já arrumou outro emprego; o novo empregador, por sua vez, não quer esperar 30 dias para o novo profissional começar.”

Por isso, de acordo com o CEO, o ideal é que empregador e empregado negociem o melhor prazo. “É importante que o profissional se mostre disposto a ajudar nessa transição e estabeleça um tempo adequado para a saída, de forma que a empresa não se prejudique”, aconselha. “O profissional precisa ter ciência de qual é a importância dele na organização, em quais tarefas está envolvido e tomar cuidado para que a empresa não tenha um processo de descontinuidade em relação a algum projeto importante porque o funcionário resolveu que precisa sair no dia seguinte”, acrescenta.

"Tive que escolher entre dois empregos"

Arquiteto Bruno Tobias: empatia
Arquiteto Bruno Tobias: empatia (foto: Arquivo Pessoal)

O arquiteto Bruno Tobias, 25 anos, foi aprovado em dois processos seletivos para trainee, paralelamente. Para fazer a escolha, ele levou em consideração a cultura organizacional e os valores de cada empresa e escolheu a que mais tinha a ver com seu perfil. “Assim que eu soube que havia passado na seleção de outra companhia, comecei a pensar em como tomar essa decisão e como seria dar a notícia negativa a um dos recrutadores”, relembra. Como durante o processo de recrutamento o contato foi feito por e-mail, ele decidiu formalizar a negativa da mesma forma.

“Em se tratando de comunicação profissional, não vejo método melhor do que utilizar o e-mail”, justifica. Ele pondera, no entanto, que poderia ter ligado para o recrutador. “Um bate-papo por telefone seria uma boa opção, até mesmo para que eu pudesse trocar feedback com ele.” Bruno conta que se preocupou em dar a notícia o quanto antes, pois reconhece que o tempo do headhunter é valioso. “Sei como é trabalhoso o processo de admissão e queria conceder minha vaga para outro participante o mais rápido possível. Por isso, avisei três semanas antes do início do trabalho”, afirma.

Na opinião dele, a honestidade é fundamental nesses processos. “Eu avisei que estava participando de outras seleções em paralelo e que havia passado em uma empresa que tinha mais a ver comigo”, relata. “Infelizmente, a empresa e o candidato estão sujeitos a negativas. O ideal, nesses casos, é que haja empatia e transparência de ambas as partes.

"O patrão não queria que eu saísse, mas não me queimei"

Letícia Caroline Lopes, ex-funcionária de uma agência de turismo e estudante de medicina
Letícia Caroline Lopes, ex-funcionária de uma agência de turismo e estudante de medicina (foto: Adriana Lima / Divulgação)

Ano passado, Letícia Caroline Lopes, 20 anos, pediu demissão da agência de turismo onde trabalhava como tradutora, em Águas Claras. Ela conquistou o sonho de ingressar em uma faculdade de medicina, na Argentina, e precisava se mudar do Brasil. O chefe não gostou da notícia. “O dono da agência havia me convidado para passar o ano viajando com ele, a trabalho, para ajudá-lo com o inglês, já que ele não falava o idioma”, conta Letícia.

“Ele ficou bem chateado com o pedido de demissão, porque gostava muito de mim como profissional, mas meu sonho era outro”, acrescenta. O patrão, inclusive, tentou convencê-la a ficar. “Ele disse que, se eu continuasse na agência, teria a oportunidade de viajar o mundo e conhecer novos lugares.” Apesar da situação desagradável com o superior, ela considera que não se queimou no mercado de trabalho. Afinal, foi sincera e comunicou a demissão com bastante antecedência, cerca de três meses antes da viagem.

Letícia também se dispôs a trabalhar a distância, mas o dono da agência não aceitou a proposta. Na opinião dela, a melhor forma de não se sujar nesses casos é ter uma conversa franca com o patrão, explicando os motivos pelos quais quer sair. A estudante de medicina pondera, porém, que sinceridade tem limite. “Você não vai dizer para seu chefe que o lugar onde você trabalha é um lixo”, brinca. “Há coisas que você pode fazer para tentar não se queimar, mas isso depende muito da cabeça do seu patrão. Não é você quem define.”

Feedback

Ao pedir demissão, pode ser um momento para ser sincero e comunicar ao líder por que você está se desligando da empresa. Sugestões são sempre bem-vindos, mas, claro, é preciso cuidado, escolhendo bem as palavras e exemplos que usar. Essa não é a hora de desabafar o seu descontentamento acumulado por meses ou anos, mas, sim, de dar um feedback objetivo. E o modo de comunicar isso faz toda a diferença. Se achar que não consegue ser polido nesse tipo de conversa, talvez melhor seja não iniciá-la. Agora, caso tenha comedimento, é possível usar essa oportunidade.

“É importante fazer críticas construtivas para que o gestor e o RH consigam resolver eventuais problemas para as pessoas que permanecerão na empresa. Essa atitude demonstra respeito em relação aos colegas de trabalho”, afirma a especialista em gestão empresarial pela FGV Marcela Martins. De acordo com ela, é importante que a cultura de feedbacks faça parte do cotidiano das empresas. “O processo de desligamento de um funcionário não deveria ser surpresa para o chefe”, afirma. “Se o líder faz um acompanhamento rotineiro com os liderados, ele já vai saber os motivos pelos quais algum profissional está insatisfeito com o ofício.”

Chantagem emocional

Na hora de pedir demissão, pode acontecer de o chefe ou colegas tentarem convencer o profissional a permanecer na equipe por meio de chantagem emocional. É comum escutar frases do tipo “você é muito importante para essa empresa”, “você é meu braço direito”, “logo agora que eu queria te promover” ou, então, “vai sair logo no momento em que eu mais precisava de apoio?”. Esse tipo de abordagem, por vezes, deixa o trabalhador sem saber o que fazer, ainda mais se nunca tinha escutado antes sobre sua importância para a equipe ou que o gestor tem planos para o futuro dele.

O conselho de especialistas é se manter firme na escolha de abandonar o cargo. “Uma vez que a chefia tente uma abordagem muito emotiva, é importante que você mantenha a decisão de seguir aquilo que é importante e interessante para a sua carreira. Ser o braço direito de alguém não pode te impedir de ser o braço direito de outra pessoa em outra empresa nem de seguir novos caminhos”, explica Flávia Alencastro. “Não é fácil pedir demissão. Querendo ou não, uma relação de trabalho é uma relação de todos os dias. Se houver, nessa situação, algum tipo de chantagem emocional, sugiro que a pessoa não mude a linha de raciocínio, porque não foi à toa que ela tomou a decisão de sair da empresa”, completa.


"Ser o braço direito de alguém não pode te impedir de ser o braço direito de outra pessoa em  outra empresa nem de seguir novos caminhos"

Flávia Alencastro, gerente de recrutamento

"Seja egoísta com sua carreira"

Luciano Santos: oportunidade
Luciano Santos: oportunidade (foto: Arquivo Pessoal)

Em pos no LinkedIn, Luciano Santos, diretor de vendas de uma empresa de tecnologia, reflete sobre um caso de chantagem emocional, após o pedido de demissão, que terminou com uma reviravolta inesperada. Confira:

“Senta que esse caso é a prova viva do que venho falando há tempos: seja egoísta com sua carreira. Recebi um depoimento pela hashtag #lucianoresponde. Nele, a pessoa me contou que, depois de um longo processo, recebeu uma oferta para trabalhar no concorrente. Oferta excelente: salário mais alto, benefícios melhores em uma empresa que é referência no setor.

Ao comunicar para o chefe que iria sair, ele marcou uma reunião com os dois e o diretor da área. Nela, os dois se revezaram em falar que a saída dele era um erro, que lá já tinham investido muito tempo e energia nele, pagaram um curso, que o futuro dele seria brilhante e que ele fazia parte de uma família. E as famílias ficam juntas, né?

Conseguiram fazê-lo mudar de ideia apenas com os argumentos emocionais. Não deram um aumento de salário, não deram melhores benefícios ou a promessa de promoção. Deram apenas palavras carinhosas. Agora, o impensado. Um mês depois o chefe dele anuncia que está saindo da empresa. Alguém quer arriscar e adivinhar para onde ele estava indo? Para o mesmo concorrente.

E o diretor faria o mesmo se também tivesse oportunidade e recebesse uma oferta boa, essa é a dinâmica do mercado. Temos que ser racionais na hora de decidir o que fazer com a nossa carreira. Pense em você.”

E o salário?

Apresentar a remuneração como motivo para não aceitar uma proposta ou o fato de ter recebido uma oferta financeiramente mais atrativa pode queimar seu filme? Para Flávio Pestana, CEO da Odgers Berndtson, a resposta é “não”. “Se você disser para o recrutador que se interessou pela vaga, mas, por exemplo, o salário está aquém do que você precisava ou imaginava ganhar, isso não vai te prejudicar com a empresa”, justifica.

“Na hora de pedir demissão, é importante ser transparente. Você pode dizer, por exemplo, que recebeu uma proposta que te interessa muito porque oferece um salário ou posição melhor. Por mais que isso possa gerar uma irritação momentânea no empregador, ele vai entender que cada profissional precisa buscar o que é melhor para ele”, completa.

Cuidado: transparência tem limite!

Ao participar de processos seletivos de trabalho enquanto você está empregado, pode surgir a seguinte dúvida: “devo contar ao meu chefe?”. Afinal, dessa forma, ele estaria preparado para um possível desligamento. Na opinião de especialistas em RH, no entanto, a resposta é “não”. Aqui, realmente, vale a máxima melhor um pássaro na mão do que dois voando. Ao avisar o líder da intenção de sair, a pessoa corre o risco até de ser mandada embora, de passar a ser boicotada ou se prejudicar de outra forma. “Uma vez que a chefia sabe que o funcionário está participando de outra seleção, ela provavelmente ficará desconfortável com a situação”, explica Flávia Alencastro.

“E o profissional não sabe qual será o resultado da seleção. Ele pode correr um risco desnecessário”, completa. “Eu recomendo não comentar”, diz Flávio Pestana. “Transparência tem limite”, brinca. De acordo com o especialista em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV), ao comunicar essa informação para a empresa, o profissional demonstra que está insatisfeito com o ofício. “O chefe vai pensar: ‘por que manter aqui alguém que não quer trabalhar quando tanta gente quer?’. E é importante lembrar que há tanto uma chance de ser aprovado quanto de o contrário acontecer.”

Quando rejeitar uma promoção?

Pode parecer estranho, mas nem sempre a oportunidade de subir de cargo é a mais adequada. O bom senso diz que os profissionais agarrem as oportunidades que surgem no horizonte, afinal, “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”, correto? Porém, sempre há exceções. Em algumas situações, não aceitar uma promoção pode ser o melhor para o profissional.

O time de analistas da consultoria de carreiras e RH Thomas Case & Associados preparou uma lista de reflexões para a hora de avaliar uma proposta do tipo. A mesma análise também pode ser adotada quando receber uma oferta de emprego. Seja qual for a proposição que se coloca sobre a mesa, mesmo quando há um salário maior envolvido, é importante avaliar o cenário para tomar a melhor decisão.

Antes de aceitar um cargo mais alto, avalie...

» Se você se julga efetivamente preparado para a nova função;
» Se o desafio envolvido é, de fato, interessante;
» Se o interesse na promoção se resume à remuneração;
» Se há sinergia entre os valores da empresa e os seus;
» Se o novo cargo será realmente motivador;
» Qual será o tamanho do impacto à sua vida pessoal no caso de aceitar a proposta;
» Qual rotatividade esse cargo apresentou anteriormente.

» E, se, por fim, você decidir recusar a promoção, existe chance de se queimar? Segundo a Thomas Case & Associados, isso vai depender do jeito que você declinar da oportunidade. Além disso, nem todas as empresas são iguais e o ponto mais importante é como a proposta de promoção foi colocada à sua frente. Total mudança de responsabilidades, necessidade de mudança de cidade ou de país e o fato de herdar a posição de um colega são exemplos compreensíveis que podem levar à recusa da ascensão corporativa.

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O autoconhecimento e a honestidade ao declinar de uma proposta

Por Mylena Cuenca, headhunter na consultoria Trend Recruitment e formada em  administração de empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
Por Mylena Cuenca, headhunter na consultoria Trend Recruitment e formada em administração de empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (foto: Arquivo Pessoal)

“Ter um bom currículo e reunir as principais competências que estão sendo demandadas pelo mercado de trabalho tornam alguns profissionais muito disputados entre as empresas. A maioria dos candidatos com esse perfil, quando está em busca de uma recolocação ou mesmo de fazer uma transição de carreira, acaba participando de vários processos seletivos e, por isso, em algum momento, precisa declinar de algumas propostas. O problema é que a maioria dos profissionais não sabe como ou quando dizer não para uma oferta de trabalho. Essa atitude acaba gerando um tremendo desconforto em todos os envolvidos no processo seletivo.

Antes de pensarmos sobre qual a melhor forma de recusar uma oferta, é importante destacar que o profissional precisa conhecer profundamente os motivos que o estão direcionando para essa movimentação na carreira. Se o candidato não sabe o que espera conseguir, se não tem um plano de carreira bem definido, o processo de decisão entre uma vaga e outra acaba sendo muito confuso. O autoconhecimento, portanto, é o primeiro passo para os profissionais que participam de mais de um processo seletivo. É muito importante entender profundamente cada oportunidade, cultura, valores e se, de fato, aquela oportunidade combina com você e está dentro das suas habilidades técnicas. Se você optar pela oportunidade ‘errada’, irá se arrepender logo nos primeiros dias.

O segundo passo, não menos importante, é a transparência, ou seja, a honestidade com os recrutadores desde o início do processo. Deixar claro para as empresas que você está participando de mais de um processo seletivo é indispensável para que você construa um elo de confiança e profissionalismo com as pessoas que podem ser seus futuros empregadores. Você deve ser transparente em todas as situações. Obviamente não irá comentar com seu líder que está buscando novas oportunidade fora, mas deve deixar sempre claro nos feedbacks mensais ou semestrais o que realmente busca, e o que está esperando dentro da cadeira em que está e o prazo em que isso deve acontecer para evitar surpresas.

Alguns candidatos me perguntam qual é o melhor momento para desistir de um processo seletivo e o que eu digo é: o quanto antes. Ou seja, assim que o profissional souber com clareza que aquela vaga não está dentro de suas expectativas. Isso pode acontecer em vários momentos. Para aqueles que têm um plano de carreira definido, muitas vezes, no contato telefônico com o headhunter, assim que a oportunidade é apresentada, consegue-se discernir se aquela vaga está ou não dentro de suas expectativas. Para outros, isso acontece apenas na entrevista de emprego, quando são apresentadas as expectativas, os desafios da vaga e o pacote de remuneração. Esse é um momento importante para dizer ‘não’ ou para apresentar suas expectativas para o recrutador.

No entanto, em alguns casos ocorre que o profissional espera até a última etapa do processo seletivo para aí, sim, declinar da proposta, o que se torna muito frustrante para o futuro empregador e para o recrutador da posição. Esse tipo de caso costuma gerar um grande mal-estar entre todos aqueles que se envolveram na seleção. É claro que pode acontecer de o candidato estar verdadeiramente interessado na proposta, nos desafios e na remuneração e, nos 45 do segundo tempo, mudar de ideia. Mas, certamente, se ele tivesse maior clareza sobre seus motivadores de carreira, isso dificilmente aconteceria.

Nesses casos mais críticos, o profissional sai do processo seletivo marcado negativamente e acaba por se prejudicar com a empresa e com o recrutador, principalmente se não tiver sido transparente sobre as suas intenções desde o início. É importante recusar uma oferta pelos verdadeiros motivos que te fazem declinar. Se no início do processo você disse para o headhunter que seu principal motivador é a mudança de carreira, alertando que o salário ou o pacote de remuneração não são o foco nesse momento, é incoerente recusar uma proposta dizendo que recebeu uma contraproposta salarial na sua atual posição.

É claro que para que o profissional seja transparente sobre suas intenções, o recrutador tem que dar abertura e criar um ambiente de confiança. Nós, brasileiros, temos medo de parecermos prepotentes ao dizer que estamos buscando uma remuneração mais alta. Parece mais nobre dizer que queremos outras oportunidades e desafios de carreira, mas não se chega a lugar nenhum omitindo suas reais intenções. O recrutador precisa dar essa abertura para que o candidato se abra verdadeiramente.

Quando o profissional finalmente decidir encerrar sua participação, é educado fazer isso de maneira pessoal e humana. Uma ligação para os recrutadores, incluindo headhunter e gestores da empresa, explicando seus reais motivos, é imprescindível. Em alguns casos, quando existe essa abertura e quando se construiu um canal de confiança, o candidato pode, inclusive, indicar outros colegas de profissão para fazer parte do processo seletivo.

Por fim, aconselho que você siga todos esses passos de maneira empática, demonstrando gratidão e revelando os motivos que o fazem desistir da proposta. Tratar o assunto com a delicadeza e atenção que ele merece mostra para os recrutadores que você tem profissionalismo e senioridade. Essa postura não só fortalece a relação de confiança como também o deixa no radar para as próximas oportunidades. Saber declinar de uma proposta de forma ética e correta até ajuda a construir um marketing pessoal que acrescenta ainda mais valor ao seu perfil profissional.”

Por Mylena Cuenca, headhunter na consultoria Trend Recruitment e formada em
administração de empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

Colaborou Ana Lídia Araújo*

*Estagiárias sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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