De técnico a gestor: gerente busca inspirar novos profissionais negros

Jeferson Neves foi o primeiro negro a ocupar um cargo de gestão na empresa de turismo em que trabalha, posto que ocupa há quase duas décadas

Talita de Souza*
postado em 29/11/2020 14:24 / atualizado em 29/11/2020 16:58
"Quando assumi o primeiro cargo de gestão, ouvi de um colega de equipe que era para tomar cuidado por ser o único negro gestor na empresa" Jeferson Neves, gerente executivo da Bancorbrás - (crédito: Arquivo Pessoal)

Fora da curva. É assim que Jeferson Neves, 43 anos, entende a trajetória dele como negro ao ocupar cargos de gestão no clube de turismo Bancorbrás há 17 anos. Hoje, ele é gerente executivo do Núcleo de Suprimentos e Logística. O bacharel em redes de computadores ingressou na empresa como técnico em informática e, atualmente, é responsável por mais de quatro áreas.

Conquistou o posto de gerente pela primeira vez em 2007, sete anos após o ingresso na empresa e cinco após a primeira promoção. De técnico em informática, foi promovido a analista de sistemas de infraestrutura e se tornou gerente da área de Infraestrutura e Tecnologia.

“Quando assumi o primeiro cargo de gestão, ouvi de um colega de equipe que era para tomar cuidado por ser o único negro gestor na empresa. Negros eram minoria na organização como um tudo, mas, confiante, continuei a fazer o que sempre fiz: o meu melhor”, descreve Jeferson.

Durante os 10 anos em que liderou a área de infraestrutura, o trabalho dele conquistou a admiração dos colegas, o que resultou em uma nova promoção. Em 2017, o gestor recebeu o convite para liderar a gerência executiva de Logística do Centro de Serviços Compartilhados da Bancorbrás.

“Aceitei o desafio e, hoje, sou responsável por essa área de administração que contempla os núcleos de compras e contratos, manutenção predial, materiais e transportes e centros de documentação”, pontua.


Gratidão

A carreira é uma maneira de agradecer aos pais pelo esforço para proporcionar oportunidades de estudo para ele. “Meus pais sempre trabalharam e minha avó materna cuidava de mim e das minhas irmãs. Era a forma de nos proporcionar tempo para somente estudar e não trabalhar”, afirma.

Mesmo com todo o esforço, os gastos eram regrados, não havia margem para desperdício ou luxo. Até mesmo o carro da família ficava mais dentro de casa do que em movimento. “Servia apenas para emergência ,porque não havia dinheiro para abastecer”, diz.

Os pais trabalharam, inclusive, para financiar o ensino superior dos filhos. Ao ingressar na faculdade, Jeferson começou a trabalhar para ajudar a família financeiramente. “Eles não tiveram ensino superior, então o sonho deles era proporcionar isso para nós”, lembra.

O emprego conquistado na época da graduação era como técnico em informática, fazendo manutenção de computadores e impressoras. Foi por meio dessa posição que ele prestou serviços para a Bancorbrás e conheceu pessoas que o convidaram para ingressar na organização, em 2000.



Referência

Depois de quase duas décadas como gestor, Jeferson entende que a trajetória dele serve de inspiração para outros negros. A certeza disso veio com uma experiência em um trabalho social promovido pela Bancorbrás em escolas de ensino médio de Samambaia, em 2018.

“Na ação, contamos para os alunos o que fazíamos e como fazíamos e vários deles, negros, me abordaram para saber como entrar e crescer em uma empresa, mesmo com outros gerentes disponíveis. Eu entendi ali que estava inspirando essas crianças de alguma forma”, conta.

Jeferson enxerga o futuro com esperança e encoraja os novos profissionais. “As empresas vêm se modernizando. A Bancorbrás, hoje, tem muitos negros, inclusive na gestão”, compara. “Essa nova geração é diferente, não aceita nenhum tipo de preconceito, como deve ser. O que posso dizer é: estude e dê o seu melhor, não deixe uma pedra no caminho impedir seus sonhos”, aconselha.

 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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