Histórias de consciência

Pedagoga negra lança guia para pais falarem sobre racismo com filhos

Escritora e doutora em sociologia, Cida Chagas busca incentivar famílias a conversarem sobre combate ao racismo, respeito e problemas sociais

Ana Lídia Araújo*
postado em 13/12/2020 14:14
Cida Chagas, pedagoga, autora, mestra em educação e doutora em sociologia -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Cida Chagas, pedagoga, autora, mestra em educação e doutora em sociologia - (crédito: Arquivo Pessoal)

Em 2018, mais de 75% das vítimas de homicídios no Brasil eram negras, com uma taxa 37,8% contra 13,9% entre não negros (soma de brancos, amarelos e indígenas), segundo o Atlas da Violência, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

No Brasil, o racismo mata. “Conversamos com as crianças sobre não assistir a alguns filmes ou desenhos porque são violentos, quando, na verdade, a violência está aqui. A desigualdade e a ignorância humana estão presentes nas nossas vidas de forma real”, diz a escritora, pedagoga, mestra em educação e doutora em sociologia Cida Chagas, 46 anos.

Recentemente ela publicou a obra Guia para mães e pais lutarem contra o racismo, pela igualdade e justiça, uma tradução e adaptação à realidade brasileira da obra da empresa de babysitting Yoopies, do Reino Unido. O objetivo é ajudar famílias a conversarem com crianças e adolescentes sobre o racismo e orientá-los a como a apoiar essa luta.

“O que mais me motivou é o que eu tenho em casa Meu caçula vai fazer 10 anos, a menina tem 13 anos e o mais velho tem 15. A discussão racial sempre foi muito presente na minha casa porque sou uma mãe preta e eles têm um pai branco. Então, você pode imaginar que tenha certos olhares”, relata.

“Trazer esse guia é uma oportunidade de tentar tocar o coração de mães e pais. É importante conversamos com nossos filhos para criar uma geração que entende o que é respeito, discute problemas sociais e busca transformações”, diz.

Trajetória

Campo-grandense, Cida começou a trabalhar aos 13 anos como office girl no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Mato Grosso do Sul. No órgão, conheceu grandes mentores. “Tive a sorte e o privilégio de me aproximar de pessoas que me orientaram e me deram a mão. Pude conviver com mulheres negras que apostaram em mim”, diz.

Da maior influenciadora, Cida nunca esqueceu: a professora, advogada e ativista de direitos humanos Raimunda Luzia de Brito. “Ela estava sempre ali para dar alguma orientação e puxar a orelha. Se eu tivesse que colocar a foto de alguém na parede, seria dela”, diz. A escritora também se inspirou em uma tia que era professora.

“Ela era nossa referência. Era a pessoa que conseguiu um diploma e uma profissão diferente das outras tias e da minha mãe, que era empregada doméstica”, conta. Com esse estímulo, Cida passou no primeiro vestibular que fez e concluiu o curso de pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Em 1998, passou em concurso público para assessora técnica no Decanato de Pós-Graduação da Universidade de Brasília (UnB), onde concluiu o mestrado em educação e o doutorado em sociologia e onde continua trabalhando. No Distrito Federal, Cida construiu uma família e iniciou a carreira de escritora.

Leia

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. (foto: Cida Chagas/Reprodução)


Baixe o e-book Guia para mães e pais lutarem contra o racismo, pela igualdade e justiça no site: bit.ly/guiaparamaesepais. Saiba mais e confira outros livros infantis da autora no site www.cidachagas.com.

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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