Emprego à vista

Tem vaga: serviços em saúde e educação se destacam em contratações

Segundo especialistas, este é um bom momento para investir em uma nova formação e conseguir um posto nessas áreas

Talita de Souza*
postado em 21/02/2021 14:46 / atualizado em 21/02/2021 16:13
 (crédito: Mariane Silva/Esp.CB/D.A.Press)
(crédito: Mariane Silva/Esp.CB/D.A.Press)

Serviços oferecidos pelos setores de saúde e educação, além de essenciais, passaram a ser mais procurados a partir da pandemia da covid-19 no país, iniciada em março de 2020.

A estrutura existente até então se tornou limitada para atender a nova demanda. Mais do que recursos materiais, a maior necessidade foi e ainda é a de força humana para atender e criar novos caminhos de atuação no período pandêmico.

Por um lado, a área de saúde precisa de reforços de profissionais que atuem na linha de frente do combate ao novo coronavírus, desde a detecção da doença em laboratórios até o cuidado nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) dos pronto-socorros.

Por outro, instituições de ensino básico e superior buscam colaboradores da área de som e vídeo para auxiliar na migração e na manutenção de aulas no ambiente virtual, a fim de garantir o direito à educação, remotamente, sem colocar os alunos em risco.

As urgências dos setores resultaram em uma onda de novos postos de trabalho abertas, em 2020, um movimento contrário ao que foi visto em outras áreas ocupacionais. A tendência é de que esses mercados continuem aquecidos neste ano.

Boom na saúde

Para o diretor da Confederação Nacional da Saúde (CNS), Breno Monteiro, o setor de saúde é conhecido por ter alto potencial de vagas. “Tem mais emprego para médico do que para engenheiro. É uma característica da saúde ter uma inserção mais fácil no mercado. Isso deve continuar em 2021”, pontua.

“Mesmo na época de crise econômica, entre 2015 e 2016, contratamos pessoas. Na última década, foram mais de 800 mil postos de trabalho, é um número bastante significativo”, declara.

Levantamento feito pela CNS com dados do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra que o setor de saúde foi o segundo (atrás do de construções) a criar mais novos postos entre janeiro e dezembro do último ano, cerca de 110,7 mil empregos em todo país.

Somente nos primeiros seis meses de 2020, a contratação de enfermeiros cresceu 50,73% em relação a 2019. Técnicos em enfermagem, médicos e fisioteraupetas também estão entre as formações mais contratadas.

Para a consultora de recrutamento e cofundadora do software de recrutamento e seleção a distância Taqe, Denise Asnis, o aquecimento do setor de saúde continuará nos próximos anos, inclusive para auxiliar no cuidado de doenças relacionadas à covid-19.

“O aumento de investimento em saúde não tem mais volta. Vivemos em uma onda secundária e terciária de doenças desencadeadas por tudo isso e que necessitem de outras especialidades, como fisioterapeutas e psicólogos. Então, precisaremos de profissionais para lidar com essas questões”, afirma.

A recrutadora também prevê a abertura de postos para cobrir profissionais da área que estão na linha de frente durante o momento mais crítico da pandemia. “Nos próximos anos veremos enfermeiros e médicos debilitados pelo trabalho feito até aqui. Assim, teremos um grande número de pessoas que se afastarão para se recuperar e precisaremos de outras para suprir a lacuna deixada”, prevê.

Aprendizado tecnológico

A tecnologia é responsável direta pelo aumento de vagas no setor educacional. É a necessidade de entender os processos tecnológicos para possibilitar o ensino a distância que tem feito postos se abrirem em instituições de ensino.

De acordo com a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), o ensino remoto tem registrado, desde 2019, grande aumento de matrículas. Só em janeiro de 2021, instituições de ensino perceberam crescimento de 40% de ingressantes na modalidade de ensino em comparação com o mesmo período de 2020.

Carlos Fernando Araújo Júnior, diretor da Abed
Carlos Fernando Araújo Júnior, diretor da Abed (foto: Abed/Divulgação)

Para Carlos Fernando Araújo Jr., diretor da Abed, a procura intensa por esse formato de ensino fez com que o setor tenha a necessidade de contratar mais pessoas. “Na educação a distância, temos um ecossistema diversificado de funções, maior que o presencial”, explica.

“Há procura por professores, mas, também, por muitos outros profissionais, que trabalham com vídeo, com gestão de dados, com gerenciamento de redes, entre outras funções”, elenca. “Aumentando a demanda, temos a necessidade de ter mais profissionais, o que gera mais empregos”, diz Carlos.

A consultora de RH Denise Asnis afirma que a procura por este tipo de colaborador tem aumentado nos processos seletivos. Para ela, as instituições de ensino que não estavam no formato virtual no período pré-pandemia têm enxergado a necessidade de desenvolver um ambiente especializado.

“Acadêmicos consideram que a educação feita em 2020 foi emergencial porque não havia recursos e materiais disponíveis. Mas, agora, há uma procura muito grande por pessoas que comecem a desenvolver, de fato, educação a distância com qualidade”, conta.

“Não somente professores, mas profissionais de audiovisual e design, que queiram ajudar na construção de um processo educacional claro, são recrutados”, diz. Carlos tem a mesma visão e complementa: mesmo após o retorno presencial das aulas, a educação a distância não será deixada de lado.

“A tendência é continuar a ser um mercado em crescimento, não terá um passo atrás”, afirma o diretor da Abed. “Muitas instituições que migraram para a EaD observaram que o aluno pode aprender on-line, então, estamos a caminho de um regime híbrido, com o uso de ambientes virtuais e presenciais”, aposta.

Profissões em alta

Confira carreiras promissoras nos setores de saúde e educação

Saúde
» Atendente de farmácia
» Biomédicos
» Cuidador de idosos
» Enfermeiros
» Farmacêuticos
» Fisioterapeuta
» Médicos generalistas
» Técnicos em enfermagem

Educação
» Editor de vídeo
» Professor
» Professor de reforço
» Técnico audiovisual
» Técnico de som
» Cinegrafista

Fontes: Quero Bolsa com dados do Caged, consultora de RH Denise Asnis e Abed

Pensou em migrar para os setores em alta?

Aquecimento dos setores pode viabilizar mudanças de carreira

Denise Asnis, cofundadora da consultoria Taqe
Denise Asnis, cofundadora da consultoria Taqe (foto: Taqe/Divulgação)

O boom das áreas de educação pode ser visto como uma possibilidade para quem deseja trocar de ramo de atuação. A consultora e recrutadora Denise Asnis afirma que migrar para esses setores em alta é uma boa ideia, desde que seja viável.

“Mudar de carreira demanda formação; por isso, não são todos que poderão fazer isso. Mas, se é possível, eu acho uma boa ideia aproveitar esse boom”, diz. “No entanto, é preciso estar certo de que, principalmente na área da saúde, a vocação importa. Não é um setor para o qual podemos fazer uma corrida por retorno financeiro, como a de negócios”, alerta.

Para os decididos a migrar de carreira, a consultora aconselha planejar a mudança. O primeiro passo é entender a disponibilidade financeira e o tempo disponível. “Se a pessoa precisa trabalhar para sustentar a si e a família, a resposta é óbvia: é preciso agir aos poucos, fazer cursos de formação da nova área em paralelo com o trabalho atual”, sugere.

“Ao mesmo tempo, é necessário ler sobre o mercado e buscar trabalhos voluntários, para conhecer a realidade do setor em que quer atuar”, diz. Aqueles que não precisarem se preocupar financeiramente podem fazer a mudança de forma integral, a partir da busca por estágios formais na área e se dedicar a cursos com maior duração.

“Em todos os casos, eu aconselho a entenderem a área de atuação primeiro, conversar com quem já está lá e conhecer os conflitos do setor e tomar uma decisão lúcida”, pontua. O processo deve levar o profissional a entender qual é a área certa para ele, de forma que não perca mais tempo em ramos que não se encaixam com ele.

“É um tempo de experimentar e tirar a aura de fantasia da posição desejada. É saber se perguntar sobre o que quer”, reflete Denise. “Não gosta de trabalhar sob pressão, mas adora cuidar de gente? Escolha um ramo que não tenha urgência de tempo, como a área de prevenção, no setor de saúde”, exemplifica Denise.

Da criação ao consumo em EaD

A educação tem se tornado, também, um negócio cada vez mais rentável. De acordo com levantamento da comunidade de benefícios de compras myWorld, a categoria “educação e cursos” registrou aumento de 120% nas transações da plataforma em relação a 2019 no Brasil, nos Estados Unidos, no Canadá, no México e na Colômbia.

Segundo a myWorld, a categoria educacional apresentava a menor saída no e-commerce (modelo de vendas on-line) e o crescimento demonstra a preocupação das pessoas em se capacitar durante o isolamento social.

A plataforma on-line de educação Descomplica também registrou alta no consumo dos produtos oferecidos. De acordo com a empresa, em 2020, foram feitas mais de 32 mil novas matrículas nos cursos de pós-graduação da plataforma. No total, foram registrados mais 300 mil novos pagantes e mais de 5 milhões de novos alunos nos cursos preparatórios de vestibular.

O Descomplica também aumentou o quadro de colaboradores, com a contratação de 160 professores. A abertura de novos postos devido ao crescimento da procura e do consumo de conteúdos educacionais a distância é uma oportunidade para técnicos audiovisuais e de som voltarem a atuar nas profissões em que se formaram.

 

* Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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