Para ser policial federal

Concurso da PF: com adiamento, especialistas aconselham continuar estudando

O certame seria no próximo fim de semana, mas foi postergado para maio. A dica para conquistar salários entre R$ 12 mil e R$ 23,6 mil é manter a preparação até lá

Talita de Souza *
postado em 14/03/2021 15:21 / atualizado em 14/03/2021 16:24
Nathalya Amaral, advogada, estuda para o concurso da Polícia Federal (PF) há mais de um ano com preparação intelectual e física -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Nathalya Amaral, advogada, estuda para o concurso da Polícia Federal (PF) há mais de um ano com preparação intelectual e física - (crédito: Arquivo Pessoal)

As provas objetivas e discursivas da Polícia Federal (PF) seriam aplicadas no próximo domingo (21/3), mas, com a crise de covid-19 agravada e o lockdown decretado em diversas localidades do país, o certame foi adiado para a data provável de 23 de maio. O Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) ainda divulgará o cronograma reformulado das outras fases do concurso.

Apesar do adiamento, a recomendação de especialistas é continuar a preparação para quando o teste for, de fato, aplicado. “Se a PF é o seu sonho, continue estudando. Continue se preparando para fazer bem o certame seja em qual data for”, aconselha o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva.

Após três anos do último concurso público da corporação, há muita necessidade de pessoal. “Estamos com cerca de 3 mil cargos vagos na PF, só para delegado, são 400”, diz. O que pode aumentar a chance de o concurso chamar mais aprovados do que o número previsto inicialmente no edital.

O concurso para a PF é composto por duas etapas extensas, de caráter eliminatório e classificatório. Ao todo, o certame testa os participantes durante nove meses. Após a primeira fase, vem o Curso de Formação Profissional (CFP). Para Edvandir Paiva, os candidatos devem ter consciência da importância do CFP.

“No curso você estudará as matérias práticas da profissão, como aulas de tiro, criação e curso de investigação e fará provas para testar o conhecimento do que aprendeu”, explica. “No final, quem tiver a maior pontuação conquistará não só o primeiro lugar do curso, mas, também, terá uma boa pontuação na colocação geral do concurso. Essa colocação te proporcionará o privilégio de escolher onde irá trabalhar”, diz.


De olho no conteúdo

As provas objetivas de todos os postos terão 120 questões sobre matérias de direito (administrativo, constitucional, civil e penal), além de legislações específicas. Já a prova discursiva se dá pela aplicação de um texto dissertativo de até 30 linhas para todos os cargos, exceto para o de delegado, que inclui uma peça profissional. Os cargos de papiloscopista e de escrivão têm matérias específicas que devem ser estudadas com cautela.

Os aspirantes a papiloscopistas devem se atentar à biologia. “É preciso entender muito de genética e anatomia humana”, cita Lana Medeiros, professora de biologia do Instituto Alpes Academ. “Por exemplo, uma pessoa morreu queimada e não tem como fazer a identificação morfológica, então, entra a genética”, exemplifica. Também é importante estudar entomologia forense. “Se alguém foi encontrado morto, como saber há quanto tempo está ali? Pelas larvas no corpo, e isso é chamado de entomologia forense”, esclarece Lana.

Arquivologia é a matéria específica para escrivão. De acordo com o professor Luiz Augusto Rezende, da AlfaCon, o candidato deve estudar a classificação de arquivos, conteúdo tradicionalmente cobrado pela PF. “Existem várias classificações, e, em particular, a de gênero documental, que é suporte no qual o documento foi constituído”, destaca. Por exemplo, gênero filmográfico é um documento multimídia; o iconográfico se refere a fotos. “A novidade desse edital é o conteúdo sobre digitalização de documentos. Então, é bom saber sobre”, recomenda.

Reta final

Para as duas provas, os professores orientam cautela e coragem. Segundo a professora Lana, é preciso ter cuidado ao responder às questões. “O sistema do Cebraspe é marcar uma certa, se não, além de não ganhar pontos, perde. Estude, leia a questão bem e faça escolhas sábias. O estilo da banca é ir para a luta, tipo guerra, que vença o melhor”, declara.

O professor Luis sugere que, na reta final para a prova, seja adotado o estudo remissivo. “É quando a pessoa estuda o que já caiu em provas anteriores para focar o conteúdo cobrado. O candidato da PF pode estudar por todas as provas de arquivologia da banca”, diz.

É o que tem feito Nathalya Amaral, 32 anos. A advogada busca uma vaga de agente e concilia o trabalho e os estudos. Mesmo assim, dedica de nove a 11 horas diárias à revisão de questões de concursos anteriores. “Eu estudo desde setembro de 2019 e, quando saiu o edital, resolvi focar apenas as questões, principalmente dos conteúdos que eu não conheço muito, como contabilidade, informática e raciocínio lógico”, conta. Nathalya fez o concurso da PF em 2018, mas não tinha se dedicado tanto. Agora, o foco é total, e ela está confiante.

O desafio de se manter na barra, um dos exercícios do TAF, foi levado a sério por Nathalya
O desafio de se manter na barra, um dos exercícios do TAF, foi levado a sério por Nathalya (foto: Arquivo Pessoal)

A advogada se prepara também para o teste de aptidão física (TAF). “Sempre malhei, mas nunca fui atleta. Acordo todos os dias às 5h para me exercitar”, conta. Ela tem uma barra em casa para treinar para o exercício de permanecer pendurada, algo que ela pratica todos os dias. O adiamento do concurso não a abala. “Estamos em uma pandemia e, até que tudo se acalme, temos que respeitar. Estou preparada para tudo, inclusive, para aguentar mais um tempo estudando”, afirma.

Esforço para ser delegado

Edvandir Paiva, delegado federal e presidente da ADPF, afirma que o concurso de delegado é um dos mais difíceis do funcionalismo público.
Edvandir Paiva, delegado federal e presidente da ADPF, afirma que o concurso de delegado é um dos mais difíceis do funcionalismo público. (foto: Arquivo Pessoal)

O presidente da ADFP, Edvandir Paiva, entrou na corporação por meio de concurso feito em 2004, e não foi fácil conseguir a provação. “Não tenho dúvida de que o concurso para esse posto é um dos mais difíceis do mercado hoje. Isso porque, além de toda a área difícil de direito, que é preciso dominar para passar pela primeira fase, ainda tem a segunda etapa, do CFP”, conta.

Para Edvandir, os candidatos devem estudar bastante os materiais de direito cobrados no edital e também se preparar para a redação da peça profissional. “Para a peça, é preciso saber escrever, ter uma redação concisa e clara, expressar bem as ideias de maneira eficiente. Além disso, é preciso saber a jurisprudência dos tribunais superiores, principalmente do Supremo Tribunal Federal (STF)”, pontua.

“Você pode dizer a sua opinião sobre o assunto, mas terá muito mais sucesso se falar como o STF se portaria sobre o tema”, alerta. Já na prova oral, Edvandir orienta que o candidato pense como um delegado ao responder aos questionamentos. “A banca pede muito conhecimento das áreas penal, constitucional e administrativa. Farão perguntas sobre processo penal e sobre crimes específicos, principalmente, os federais”, prevê.


O que diz o edital

Concurso público para a Polícia Federal (PF)

Inscrições: fechadas em 11 de fevereiro; confira o edital no link bit.ly/EditalPF21

Vagas: 1,5 mil — delegado (123), agente (893), escrivão (400) ou papiloscopista (84)

Salários: de R$ 12.522,50 (agente, escrivão e papiloscopista) a R$ 23.692,74 (delegado)

Primeira etapa: provas objetivas e discursivas (previstas para 23/5); teste de aptidão física; avaliação médica; exames específicos para dois cargos (prova oral para delegado e prova prática de digitação para escrivão)

Segunda etapa: Curso de Formação Profissional (CFP), feito pela Academia Nacional de Polícia

Locais de prova: todo o país

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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