Eu, Estudante

Certames suspensos

Especialistas projetam retomada de concursos públicos a partir do controle da pandemia

A partir da escalada de casos da covid-19 e a consequente suspensão das provas de certames, concurseiros se cercam de dúvidas. Na opinião de especialista, há chances de retomada dos certames ainda este ano

Com a nova escalada exponencial de casos e mortes por covid-19 nos últimos meses no Brasil, o destino de muitos concursos tanto nacionais quanto locais tornou-se incerto. Nos primeiros meses de 2021, foram suspensas provas de certames de órgãos como o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Diante de suspensões, concurseiros que sonham com uma vaga no serviço público veem uma segunda onda de dúvidas tomar conta das projeções feitas no fim de 2020. No entanto, especialistas na preparação para os certames alertam que não é hora de desistir, mas, sim, de aproveitar o tempo e realinhar os objetivos, pois se espera que haja abertura de concursos represados quando as condições sanitárias melhorarem.

“Houve um aquecimento no cenário de certames no fim de 2020 e no começo de 2021, com várias provas agendadas, inclusive, para março. Mas, com o aumento de casos de covid-19, o movimento parou”, afirma o vice-presidente da Associação de Apoio aos Concursos Públicos e Exames (Aconexa) e co-fundador do Meu Curso, Marco Antônio Araújo Júnior.

O retorno das provas não está distante, segundo Marco. Ele aposta na retomada dos exames entre os meses de abril e junho, devido à ampliação da vacinação e de medidas de contenção à disseminação da doença mais severas implementadas no DF, em estados e municípios. Assim, espera-se uma diminuição da transmissão do vírus, o que possibilitaria reunir concurseiros nos locais de provas.

“Nossa esperança é de que, entre abril e junho, tenham caído os números tanto de mortes quanto de contágio em razão da vacinação. Aí começaria a ficar um cenário um pouco mais tranquilo para aplicação de concursos públicos”, aponta.

“O risco vai existir, e eu acho que nós vamos conviver com ele durante algum tempo, por isso, o protocolo de biossegurança vai ser necessário. Mas é muito provável que o ambiente mais favorável a concursos comece a surgir ali pelo mês de maio”, avalia.

É no que também acredita a professora e gerente do Estratégia Concursos, Laura Amorim. Para ela, assim que a vacinação for ampliada ou que uma forma mais segura de aplicação seja encontrada, os órgãos farão os certames para ocupar cargos que estão há meses sem profissionais.


Volta esperada

“Como a demanda por pessoal não pôde ser suprida em 2020, nem neste início de 2021, entendemos que tão logo seja possível a realização das provas, talvez com o avanço das vacinas ou uma forma mais segura de aplicação, os concursos vão voltar bem fortes”, observa Laura.

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Ela exemplifica esse contínuo movimento dos órgãos por novos servidores no lançamento dos editais da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Laura também destaca outros concursos policiais, com oportunidades no Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.

Além disso, outros editais devem ser anunciados em breve, mas estão demorando por causa da pandemia. “Eu acho que, tão logo seja possível, nós vamos ter muitas provas”, reafirma.

373 certames represados

Neste ano, a lista de certames para os quais concurseiros devem ficar atentos é extensa. Diversas oportunidades estão espalhadas pelo país. Além dos editais, também entram em foco certames com chances de serem anunciados ou terem os editais publicados a qualquer momento, principalmente com um futuro arrefecimento da pandemia. Com base em informações dos cursos preparatórios Gran Cursos e Estratégia Concursos, o Correio listou 372 concursos para ficar de olho em 2021.

São certames de agências, bancos, cartórios, conselhos, controladorias, defensorias, corpos de bombeiros, departamentos de trânsito, hospitais, institutos, ministérios públicos, polícias, prefeituras, procuradorias, secretarias estaduais e municipais, Poder Executivo federal, Poder Legislativo local e federal, tribunais, universidades, colégios e outras instituições. Para conferir todos os 372 concursos previstos, acesse o site: www.correiobraziliense.com.br/euestudante.

Bancas devem aprimorar aplicação

Marco Antônio Araújo Júnior, vice-presidente da Asssociação de Apoio aos Concursos Públicos e Exames, afirma que a suspensão das provas é uma prevenção das bancas. “Por vezes, as provas são desmarcadas por conta de uma atitude de precaução e outras são desmarcadas na véspera por falta de estrutura, que foi o que aconteceu com a Polícia Civil do estado do Paraná”, ressalta.

Após o Núcleo de Concursos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) constatar a ausência de requisitos indispensáveis de segurança, a aplicação do concurso público da Polícia Civil do estado foi suspensa.

A decisão ocorreu na madrugada da data marcada para a realização das provas, 21 de fevereiro. O certame se destina ao provimento de 400 vagas para cargos de nível superior, que se dividem entre postos de delegado de polícia (50 vagas), investigador de polícia (300) e papiloscopista (50).

O vice-presidente da Aconexa, porém, considera que tanto a aplicação quanto a suspensão devem ser aprimoradas pelas bancas aplicadoras. Ele ressalta que a associação tem sugerido às bancas que, se decidirem pela suspensão das provas, o façam com antecedência para evitar prejuízo, principalmente aos inscritos que viajaram para participar dos certames.

Quanto à aplicação, Marco Antônio lembra que concursos públicos, por essência, provocam aglomerações e por isso, as bancas devem avaliar os riscos e implantar medidas que garantam a segurança sanitária. Portanto, as bancas devem avaliar os riscos e atuar na redução do potencial de contaminação dos inscritos e aplicadores.

Entre as ações sugeridas pela Aconexa durante os testes estão a utilização de máscaras, o distanciamento, a disponibilização de álcool em gel e a garantia de estrutura física para ter um menor número de candidatos por sala de aula. Além disso, antecipar a abertura dos portões pode ser uma boa medida para evitar aglomerações. “As bancas precisam, efetivamente, se adaptarem ao cenário de pandemia se quiserem continuar realizando concursos públicos”, afirma.

Desafio para os concursos nacionais

O cuidado da banca deve aumentar ao promover certames nacionais. De acordo com Marco Antônio Araújo Júnior, a quantidade de pessoas mobilizadas em provas dessa amplitude deve levar a organizadora a fazer uma avaliação mais criteriosa para entender se os testes deveriam ser aplicados ou não.

Eduardo Cambuy, professor do Gran Cursos Online, acrescenta que outro fator determinante é a desigualdade tanto na disseminação do vírus quanto no combate à pandemia. “Realizar uma prova de âmbito nacional exige analisar a desigualdade sanitária em cada região. Imagine você fazer uma prova em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais… Teríamos diferentes situações sanitárias.”

Mesmo em condições anteriores à pandemia, a logística de um certame nacional era bem mais complexa que a de um local. “Mas as duas formas são possíveis de serem ou não realizadas, dependendo dos índices e do avanço da pandemia”, pondera.

 

Estagiário sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa*