Eu, Estudante

INVENÇÕES DO BRASIL

Após transição capilar, estudante cria modelador para facilitar o processo

Thamyris Costa estava há seis anos em transição e decidiu fazer algo para auxiliá-la a finalizar o processo sem danificar os fios ou cortar o cabelo mais do que desejava

Conhecido como transição capilar, o processo de retorno à estrutura natural do cabelo após procedimentos de alisamento dos fios não é fácil para quem se propõe a vivê-lo. Quem transita tem duas opções: cortar grande parte do cabelo para retirar a química e voltar aos fios cacheados e crespos, ou conviver com as duas texturas, liso e cacheado, o que pode ser incômodo.

As duas opções pareciam inviáveis para Thamyris Costa, 28 anos, estudante do sexto semestre de engenharia civil da Universidade Estácio de Sá e dona de uma lanchonete. A carioca estava há seis anos em transição e decidiu fazer algo para mudar e ajudar outras pessoas na mesma situação.

O resultado que ela deseja inserir no mercado é o Ecocachos, “um equipamento que pode estar na bolsa, rápido e que não danifique, que faça a mulher ser dona de si, e não escrava do seu cabelo”. A proposta está em fase de desenvolvimento pelo empresa júnior (EJ) Fluxo da Consultoria, da área de engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Pontapé da inovação

O processo para chegar à ideia foi marcado, inclusive, por traumas. “Desde 2015, decidi aceitar meu cabelo natural. É um processo difícil. Já até fiquei careca por causa de procedimentos no cabelo”, desabafa. Decepções com profissionais de cabelo, que mudaram a estrutura dos fios de Thamyris sem autorização, e o sofrimento de conviver com a transição motivaram a ideia.

Saiba Mais

“Meu cabelo ainda não estava bonito, as duas texturas o deixavam estranho. Eu me perguntei: por que não inventam um produto para que a gente não precise cortar as partes lisas enquanto a parte natural não cresce e fica do tamanho necessário para o corte?”, lembra. “Já que não existia alguém que criasse essa opção, eu poderia ser essa pessoa”, relata.

A estudante decidiu inventar um modelador que simulasse cachos nas partes lisas do cabelo. “Mas tinha que ser um equipamento criado com temperaturas ideais para não danificar os fios, que já estão frágeis”, complementa. Thamyris começou a testar possibilidades em casa. “Acabei com um difusor testando possibilidades. Cortei, inseri um canudo para testar a modelagem parecida com a do babyliss, fui testando até dar certo”, lembra. “Quando vi que era possível, chorei de emoção”, revela.


Aplicando uma “loucura”

Consultoria/Arquivo Pessoal/Divulgação - Aparelho modelador de cachos é pensado exclusivamente para quem parou de alisar o cabelo cacheado ou crespo e lixa de unha 3 em 1 é outra invenção


Contente, ela se decidiu a levar a invenção a um próximo passo: criar um protótipo funcional e, futuramente, produzir em massa e colocar no mercado. Foi quando ela conheceu a empresa júnior Fluxo de Consultoria. “Vi que era um grupo de estudantes destinados a criar equipamentos a partir da ideia de alguém”, diz.

Em contato com a EJ, Thamyris passou a ter certeza de que a ideia dela não era “loucura”. Integrante da equipe da Fluxo de Consultoria, Raquel Cavalcanti, estudante do oitavo semestre de engenharia nuclear da UFRJ, afirma que a proposta do Ecocachos é sólida e assertiva. “É um modelador com a estrutura de um babyliss, mas tem furos no canudo para permitir a saída de jatos de ar para aquecer e modelar, em vez de trazer calor excessivo, como um babyliss”, detalha.

A equipe instalou três opções de temperatura: fria, média e quente. “Mas, mesmo a quente, não danifica os fios”, assegura Raquel. O protótipo conta com um mecanismo que desliga o aparelho caso a temperatura fique muito quente devido ao tempo de uso. “Nossas pesquisas validaram o que a Thamyris descobriu, a temperatura alta danifica o fio que já está fragilizado e nosso intuito é evitar isso”, pontua.

O protótipo em desenvolvimento ainda passará por testes. A estimativa é de que, daqui a dois meses, Thamyris tenha o resultado final em mãos para ir atrás de investidores. A carioca, inclusive, já entrou com o pedido da patente, pelo qual pagou R$ 70. No total, a jovem investiu cerca de R$ 14 mil no protótipo e até se desfez de bens (incluindo notebook, esteira e outros itens) para arcar com os custos.

“Ideias nunca são baratas. O Brasil tem grande potencial inventivo, mas, muitas vezes, as pessoas desistem por não ter apoio emocional e financeiro”, desabafa. “Mas eu vou persistir. Quero ajudar mulheres e homens em transição. Quero que seja um produto com custo acessível para que pessoas de todas as classes tenham acesso a algo que aumente a autoestima”, pontua.

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa