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GESTÃO

Cultura emocional: conheça o novo termo que tem mudado empresas no país

Entrevista com o gestor Rodrigo Cândido explica a necessidade de empresas em home office apostarem em uma cultura que é empática e preocupada com o emocional

Um ano após o início da pandemia, diversos profissionais completam o primeiro aniversário de trabalho em home office. Depois de uma adaptação inicial, muitos estão plenamente adaptados ao formato. No entanto há aspectos da convivência presencial que são difíceis ou até impossíveis de substituir.

Nada é como aquele aperto de mão, o abraço ou beijinhos, diálogos animados tomando cafezinho no corredor da firma, a conversa jogada fora com a equipe, o papo olho no olho ou um almoço presencial... Empresas e equipes têm feito esforço para suprir essas lacunas, promovendo, por exemplo, happy hours virtuais e outros momentos de descontração.


Como dizia Aristóteles na Grécia Antiga, o ser humano é um ser social. Apesar de algumas pessoas serem mais reservadas, todas precisam de interações com outras. Com a pandemia de covid-19, muitos hábitos tiveram de ser adaptados. Mas, cada vez fica mais claro para empregados e empregadores que, apesar de o distanciamento físico ser importante para a prevenção do coronavírus, é preciso criar uma proximidade social digitalmente.

Um levantamento feito pela agência de comunicação Oribá entre seus 28 funcionários revelou que todos da empresa se sentem confortáveis trabalhando em esquema de home office. No entanto o estudo também evidenciou como a interação física entre os colegas de trabalho faz falta: 100% dos empregados sentem falta do ambiente de trabalho. A agência está de home office desde o início da pandemia.

O contato presencial é considerado muito importante para todos que responderam à pesquisa. Outros dados mostram que uma das principais vantagens apontadas de estar em home office é a redução do tempo de deslocamento de casa até a agência. Com isso, os funcionários afirmaram que está sendo possível se dedicar mais ao autocuidado, à família e a outras atividades para as quais antes faltava tempo.

Quando questionados sobre se aceitariam trabalhar definitivamente em home office, mais da metade dos colaboradores (54,2%) disse que preferia que o formato remoto fosse parcial. O sócio-diretor da Agência Oribá, Rodrigo Cândido, explica que o levantamento foi feito para dar uma “fotografia de como os funcionários estavam se sentindo com o afastamento”. A partir dos resultados, foi possível propor “mecanismos de conforto para a equipe”.


Entrevista / Rodrigo Cândido

O que a agência levou em consideração na pesquisa?
Dividimos em dois cenários diferentes, mas complementares: o dia a dia e questões práticas — como necessidades laborais, ambiente de trabalho, internet, disponibilidade de telefone, cadeiras (ergonomia), custos com energia, entre outros fatores — e a questão emocional / psicológica — que nos deu uma visão sobre a troca diária com os times e seus gestores, calls de alinhamento, preocupação com a resiliência mental, inclusive as dificuldades de adaptação e bem-estar emocional de todos, uma vez que é um cenário completamente novo.

A saúde mental dos colaboradores foi impactada pela pandemia?
No início, essa questão emocional era ainda mais latente, pois não havia resposta ou perspectiva para nada. Havia um enorme desafio de lidar com essa realidade e apoiar nosso time em questões de ansiedade e, por vezes, pânico.

A pesquisa evidenciou que os colaboradores sentem falta da interação física com os colegas de trabalho. Como a empresa está lidando com esse resultado?
Essa foi a principal reclamação de todos e já era algo de que desconfiávamos. A pesquisa veio para confirmar isso. Nós criamos alguns mecanismos para tentar amenizar essa perda momentânea de contato.

Que ações o seu time implementou para ter interações a distância que podem servir de exemplo para outras equipes?
Por exemplo, semanalmente, fazemos um café da manhã, cada um em sua casa, com sua bebida ou petisco de preferência e, nesse momento, aproveitamos para falar de amenidades, contar as novidades e nos divertir. Incorporamos, ainda, momentos de meditação. Além disso, criamos uma agenda com a participação de profissionais do mercado que estão trazendo temas para serem debatidos em grupo e que não sejam sobre trabalho.

Saiba Mais

A gente percebeu que a situação envolve muito mais o equilíbrio emocional, que acaba impactando outras áreas da vida, inclusive o trabalho. Tudo isso estimula a troca de experiências neste momento tão único e nos possibilita conhecer mais uns aos outros, pois acabamos participando mais das conversas on-line e abrimos nossas angústias, nossos medos e até expectativas em relação a este momento de distanciamento.

Como a empresa tem lidado com essa cultura emocional, que é relativamente nova no Brasil?
O cuidado emocional já era uma preocupação da Oribá, desde sua fundação em 2015. Aliás, o propósito da existência da agência é justamente este: ter um ambiente saudável em que as pessoas possam trabalhar e serem elas mesmas. Nós traduzimos isso nos esforços que dedicamos ao clima da agência, que vai desde o ambiente até a presença de cães (da agência e dos colaboradores também que levam seus pets para alegrar o dia a dia). A interação entre equipes é sempre incentivada por meio de happy hours, rodas de conversa e várias outras atividades a distância. O que temos visto com o cenário trazido pela pandemia é que mais do que nunca essas ações precisam continuar e se expandir.


Entenda

Pensando nas novas formas de trabalhar que a pandemia apresentou, ganha importância o termo cultura emocional, que significa a soma das inteligências emocionais de cada pessoa da equipe. E, agora, mais do que nunca, as empresas precisam lidar com a saúde emocional de seus times. De acordo com uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma) em nove países, o Brasil ocupa o segundo lugar em casos de síndrome de burnout, distúrbio caracterizado pelo estresse e pela tensão emocional provocados por condições de trabalho desgastantes. Por isso, é necessária uma mudança de postura por parte das organizações e um maior envolvimento com a cultura emocional dos colaboradores.

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa