Diversidade no ambiente coorporativo

As ações focadas em diversidade nas empresas são poucas

Mateus Salomão*
postado em 06/06/2021 14:39 / atualizado em 06/06/2021 17:31
"O que a pesquisa traz é um tapa na cara" Vitor Del Rey, presidente do Instituto Guetto: - (crédito: Arquivo Pessoal)

O presidente do Instituto Guetto, Vitor Del Rey, afirma que os resultados mostram um avanço em relação aos últimos anos. “No ano passado, o tema da diversidade nas empresas foi muito discutido. Ele não só estava em alta como, também, estava em sala de aula”, observa. Com a escalada da discussão do racismo, as capacitações sobre o tema também ganharam maior espaço.

“O que a pesquisa traz é um tapa na cara”, dispara. Segundo o especialista, apesar dos discursos e iniciativas de inclusão de mais pessoas negras, são poucas as ações efetivas e focadas em diversidade racial dentro do ambiente corporativo. “É como se a gente tivesse medindo diversidade e efetividade de diversidade pela quantidade de pessoas”, conta.

Na visão do especialista, a constatação de que uma empresa aposta em diversidade também deve considerar a qualidade do ambiente corporativo.

A parcela de 47,8% dos profissionais negros que não têm a sensação de pertencimento às empresas em que trabalham os expõe a um contexto de vulnerabilidade a problemas psicológicos, como depressão e síndrome do pânico. Para as empresas, o resultado, segundo Del Rey, é movimento de turnover, quando há uma grande rotatividade de pessoal.

Para além do discurso

Ele considera que as contratações estavam focadas em ouvir o lado das empresas dessa temática, e ela sempre vem com muito discurso e obviamente, dados, fica parecendo que tá tudo bem. “E aí a pesquisa, que ouve o lado dos funcionários, mostra que isso não é verdade. As empresas que estão com iniciativas nesse sentido precisam estar atentas para fazer de forma correta”, conta.

Os dados mostram que ainda temos um longo caminho a percorrer, como observa. “Quando você tem uma, duas ou três pessoas nesse ambiente majoritariamente branco e provavelmente esvaziado de questões raciais, realmente vai ser difícil que esses funcionários negros tenham essa falta de pertencimento”, observa.

Além dessa contratação, há rodas de debate para se discutir o assunto, a presença de negros na chefia. Isso gera um senso de pertencimento que ainda não foi visto. “Mas não é porque tem e porque também é um problema estrutural que as empresas não precisam desenvolver ações para tentar mudar isso no ambiente corporativo”, ressalta.

“Então, basta apenas contratar mais pretos, se elas não conseguem desenvolver a carreira dentro da empresa? Se não há pessoas negras em cargos de tomada de decisão?”, questiona.

Há solução?

O professor da UnB Nelson Fernando Inocêncio da Silva destaca que, no setor público, existem cursos de formação para lidar com questões que afetam o funcionalismo. Segundo ele, esse tipo de capacitação poderia ser adotado também na iniciativa privada para atender também a temas de diversidade.

Além disso, ele recorda como uma via proposta de atribuir um selo a empresas como forma de premiar aquelas que apostaram na diversidade, por exemplo, de gênero e racial. Além disso, ressalta o papel que podem ter os incentivos fiscais.

O presidente do Instituto Guetto ressalta como possibilidades a ideia de letramento racial e formação antiracista continuada, ambas com a premissa de educar e disseminar informações. Na pesquisa 40% dos entrevistados disseram acreditar na eficácia da primeira e 68% também apostam na segunda.

“A formação não é uma palestra em 20 de novembro, na Semana da Consciência Negra, ou em 13 de maio, que é uma data que a gente nem considera. É a formação anti-racista”, alerta. “Ainda temos um longo caminho a percorrer, quando se trata de racismo no ambiente corporativo.”

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