Legislação

"Quando nasce uma criança, nasce um pai", afirma médica pediatra

Daniela Piotto atua como profissional de saúde na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e responde a perguntas sobre importância do pai na vida do recém-nascido

Maryanna Aguiar*
postado em 28/06/2021 19:46 / atualizado em 28/06/2021 19:47
Pediatra Daniela Piotto, médica pediatra e reumatologista pediátrica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Pediatra Daniela Piotto, médica pediatra e reumatologista pediátrica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - (crédito: Arquivo Pessoal)

A Daniela Piotto, médica e reumatologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com doutorado em pediatria, respondeu algumas questões sobre a importância da licença-paternidade, que por muitas vezes não é tão destacada:

Qual a importância do período de licença na vida dos pais?
A importância da licença-paternidade é para o pai também poder viver todo esse momento da gestação em que ele viveu com a mãe, de nove meses de preparo para poder receber essa criança. Então, ele vai poder ter essa experiência, do momento do parto, dos primeiros dias, além de dar apoio à mãe, no sentido de cuidar dela também. A gente sabe que a mãe amamenta, mas o pai pode ajudar na hora do banho, de preparar a comida, de dar esse apoio psicológico, e isso acaba fortalecendo todo o vínculo afetivo, e a mulher, nesse momento, fica muito sensível e vulnerável.


A gente pode ver que essa parceria melhora o convívio, a confiança entre o casal e o vínculo afetivo com a criança, porque os bebês tem uma questão sensorial muito desenvolvida, acabam percebendo mais nesses primeiros dias. Eles têm essa sensação do contato da pele a pele, do olfato, do barulho, de reconhecer a voz que ouviu na gestação, da mãe e do pai. Quando nasce uma criança nasce uma mãe, nasce um pai. Então, a gente precisa ter todo esse cuidado de garantir que todos estejam preparados e presentes.

O pai, que só tem direito a cinco dias de licença, pode ter o relacionamento afetado com a criança?
O próprio pai tem benefícios com a paternidade, os homens que se tornam pais, ficam menos agressivos, mais sensíveis e podem até vir a ser bons líderes, ou seja, desenvolver um homem na figura paterna e no desenvolvimento humano. Se ele fica melhor no trabalho, imagina para a criança. A gente sabe que o bebê, nesse começo, tem muita interação entre mãe e filho por conta da amamentação, mas a criança precisa também desse contato com o pai. Como eu mencionei, na questão da audição, do contato, do carinho, no sentido de estimular o convívio, porque isso ajuda no desenvolvimento.


Crianças que são criadas por um pai ausente acabam sendo influenciadas no desenvolvimento, têm problemas psicológicos, muitas vezes elas podem ter sobrepeso, obesidade, sabe-se que a mãe acaba ficando mais ansiosa, o que acaba passando para a criança, por conta do acúmulo de funções que não vai conseguir cumprir.


A figura materna e paterna são importantes para o desenvolvimento motor. As brincadeiras, as quais o pai não tem tanto medo de colocar a criança no chão, para engatinhar e para brincar.

Como os pais devem proceder ao fim de suas licenças?
A gente primeiro orienta que, na licença-paternidade, aproveitem os cinco dias que têm, mas sempre verifiquem na empresa, porque tem empresas que oferecem 20 dias ou mais para se dedicar exclusivamente ao bebê. Alguns locais, inclusive, pedem até certificado de curso de gestante. Então, o casal já faz o curso antes. Isso também permite uma paternidade mais estendida. Por isso é importante o pai verificar na sua empresa quais são os seus direitos depois do nascimento.

Em relação ao nascimento, a gente sempre incentiva que o pai, além de ir às consultas do pré-natal, tire as dúvidas, acompanhe o ultrassom, se possível corte o cordão umbilical e dê o primeiro banho no bebê. Toda essa interação para ele poder estar presente nessa paternidade, junto. Quando acabar, recomendamos que o tempo em que ele estiver em casa interaja com o bebê, ao trocar as fraldas, trocar a roupa, ajudar a mãe, colocar o bebê para arrotar, acompanhar e incentivar a amamentação, trazer água para esse momento da mãe onde ela tem muita sede. Enfim, dar esse apoio em relação à alimentação, em relação às coisas de casa. Porque a mãe não vai ter esse tempo.

Então, quando chegar do trabalho, na madrugada se possível, ajude nas tarefas gerais da casa ou aproveite os fins de semanas para se organizar. Isso é superimportante, esse momento em que estiver livre com a criança, em que voltar do trabalho ou no fim de semana, para conversar com o bebê, aproveitar a própria troca de fralda para interagir, brincar, estimular a visão, audição, tato, colocar para dormir. Então, a presença do pai, mesmo aquele que já tenha voltado ao trabalho, é muito importante.

Com a criação da licença-parental, que prevê 180 dias para até duas pessoas, seria melhor?
Em relação à criação da licença-parental de 180 dias para até duas pessoas, é sim muito importante desde que o pai seja participativo, esteja ativo nessa paternidade, que dê todo esse apoio para a mãe necessário nesse momento. Porque não é somente a figura paterna em si. A gente precisa de alguém que esteja ali ajudando a mãe, que faça aquelas funções que ela não vai conseguir fazer, dando apoio psicológico também.

Eu falo que a figura do pai é muito importante nesse momento do pós-parto por conta da depressão, do baby blues. Então os maridos normalmente percebem que as mães estão alteradas, que as esposas estão diferentes, estão mais choronas, muito tristes, não querem levantar para amamentar. Eles vêm ao consultório, muitas vezes, falando “olha eu acho que a minha esposa está um pouco diferente,ela pode estar passando por uma depressão pós-parto, porque ela está chorando mais do que o normal”.

Ele identifica sinais que são importantes para a gente no dia a dia. É essencial que ele possa realmente dar esse apoio para a mãe durante esses seis meses que ele tiver de direito à licença-paternidade junto à mãe.

O benefício da licença paternidade é para os dois lados, tanto para o pai quanto para o bebê, é muito importante, seja para uma criança que nasceu, seja para uma criança que foi adotada ter uma relação saudável. Porque dá um suporte à saúde emocional e também uma segurança psicológica para esses bebês ou crianças que estão vulneráveis em um novo lar, em uma nova casa. Esse momento de você deixar um pouco o trabalho, deixar um pouco o emprego de lado e criar um laço afetivo e familiar é crucial para o desenvolvimento, porque a criança vai se sentir segura, isso vai trazer benefícios para o resto da vida como uma experiência positiva para ambos.

 

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo

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