Eu, Estudante

Diversidade no ambiente coorporativo

As ações focadas em diversidade nas empresas são poucas

O presidente do Instituto Guetto, Vitor Del Rey, afirma que os resultados mostram um avanço em relação aos últimos anos. “No ano passado, o tema da diversidade nas empresas foi muito discutido. Ele não só estava em alta como, também, estava em sala de aula”, observa. Com a escalada da discussão do racismo, as capacitações sobre o tema também ganharam maior espaço.

“O que a pesquisa traz é um tapa na cara”, dispara. Segundo o especialista, apesar dos discursos e iniciativas de inclusão de mais pessoas negras, são poucas as ações efetivas e focadas em diversidade racial dentro do ambiente corporativo. “É como se a gente tivesse medindo diversidade e efetividade de diversidade pela quantidade de pessoas”, conta.

Na visão do especialista, a constatação de que uma empresa aposta em diversidade também deve considerar a qualidade do ambiente corporativo.

A parcela de 47,8% dos profissionais negros que não têm a sensação de pertencimento às empresas em que trabalham os expõe a um contexto de vulnerabilidade a problemas psicológicos, como depressão e síndrome do pânico. Para as empresas, o resultado, segundo Del Rey, é movimento de turnover, quando há uma grande rotatividade de pessoal.

Para além do discurso

Ele considera que as contratações estavam focadas em ouvir o lado das empresas dessa temática, e ela sempre vem com muito discurso e obviamente, dados, fica parecendo que tá tudo bem. “E aí a pesquisa, que ouve o lado dos funcionários, mostra que isso não é verdade. As empresas que estão com iniciativas nesse sentido precisam estar atentas para fazer de forma correta”, conta.

Os dados mostram que ainda temos um longo caminho a percorrer, como observa. “Quando você tem uma, duas ou três pessoas nesse ambiente majoritariamente branco e provavelmente esvaziado de questões raciais, realmente vai ser difícil que esses funcionários negros tenham essa falta de pertencimento”, observa.

Saiba Mais

Além dessa contratação, há rodas de debate para se discutir o assunto, a presença de negros na chefia. Isso gera um senso de pertencimento que ainda não foi visto. “Mas não é porque tem e porque também é um problema estrutural que as empresas não precisam desenvolver ações para tentar mudar isso no ambiente corporativo”, ressalta.

“Então, basta apenas contratar mais pretos, se elas não conseguem desenvolver a carreira dentro da empresa? Se não há pessoas negras em cargos de tomada de decisão?”, questiona.

Há solução?

O professor da UnB Nelson Fernando Inocêncio da Silva destaca que, no setor público, existem cursos de formação para lidar com questões que afetam o funcionalismo. Segundo ele, esse tipo de capacitação poderia ser adotado também na iniciativa privada para atender também a temas de diversidade.

Além disso, ele recorda como uma via proposta de atribuir um selo a empresas como forma de premiar aquelas que apostaram na diversidade, por exemplo, de gênero e racial. Além disso, ressalta o papel que podem ter os incentivos fiscais.

O presidente do Instituto Guetto ressalta como possibilidades a ideia de letramento racial e formação antiracista continuada, ambas com a premissa de educar e disseminar informações. Na pesquisa 40% dos entrevistados disseram acreditar na eficácia da primeira e 68% também apostam na segunda.

“A formação não é uma palestra em 20 de novembro, na Semana da Consciência Negra, ou em 13 de maio, que é uma data que a gente nem considera. É a formação anti-racista”, alerta. “Ainda temos um longo caminho a percorrer, quando se trata de racismo no ambiente corporativo.”