A Administração Pública Federal não consegue ter êxito se não houver funcionários que desempenhem o trabalho e façam com que a máquina continue funcionando. Por causa da suspensão dos concursos públicos, muitos órgãos estão com falta de funcionários. Concursos federais que providenciam cargos voltam, neste segundo semestre de 2021, para preencher essas lacunas. O setor é otimista, mas o governo federal pede cautela aos órgãos na retomada em razão da situação financeira do país.
Na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021, a previsão foi de 54.006 vagas. As antecipações da LOA inflaram a expectativa dos concurseiros. Mas, um exemplo de como o tempo urge para o serviço público foram as duas provas para certames policiais aplicadas ainda no primeiro semestre deste ano: Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ambas já haviam sido adiadas.
“Não há dúvidas de que a realização das provas dos concursos da PF e da PRF foi decisiva para essa retomada, pois, mesmo durante a pandemia, permitiu-se a realização”, argumenta o professor Sérgio Rocha, do IMP Concursos.
A expectativa do Estratégia Concursos também é esperançosa. Em nota publicada no site, o cursinho afirma que o grupo “tem a certeza de vários editais iminentes, com banca definida”.
A coordenação da empresa diz que a maioria dos provimentos é destinada ao Poder Executivo, sendo aguardadas 48.679 vagas. “Importante ressaltar que teve aumento na quantidade esperada de 50.946 para 54.006”.
O Supremo Tribunal Federal autorizou, no fim de maio, a realização da prova da PF e, na semana seguinte, vários órgãos começaram a retomar seus certames. “A tendência é de ter as provas com as adaptações do momento”, argumenta o presidente do Gran Cursos Online, Gabriel Granjeiro.
“Nós enxergamos que agora vai ter uma grande enxurrada de concursos. Por mais de um ano ficaram represados. Tivemos em 2011 um represamento federal e, às vezes, há uma coisa regionalizada, mas nunca tudo ao mesmo tempo”, explica.
Segundo ele, todas as esferas estavam paradas por um fator maior, que paralisou o mundo. “A gente vai ter dois anos de provas concentradas em um semestre. O candidato vai ter que escolher qual fazer”, conclui.
A previsão, no entanto, é do setor de concursos. O governo federal é cauteloso e pede cuidado aos órgãos na hora de realizar certames. As solicitações de realização de concursos públicos são encaminhadas ao Ministério da Economia, pelos outros órgãos da Administração Pública, até 31 de maio. O Ministério em questão afirma que “os quantitativos e os valores previstos na PLOA constituem limite máximo autorizativo e não pressupõem a sua plena execução”. A pasta, diz também, que os certames podem deixar de ocorrer por diversas causas.
O Ministério afirma ser preciso levar em conta a atual situação fiscal, que limita a administração em ações que acarretem impactos financeiros que durem por exercícios subsequentes.
Gabriel Granjeiro afirma que há órgãos que não fazem concursos há anos.
O professor do IMP Concursos Sérgio Gaúcho concorda. Para ele, não há como continuar a prestar serviços públicos sem realizar provas. “Mesmo com a possibilidade do trabalho home office, a ferramenta humana é essencial, porque a inovação tecnológica proporciona meios eficientes de prestação de serviço, mas essa mesma tecnologia aumenta a demanda pelos serviços, pois facilita o acesso do cidadão. Vejamos a situação do INSS, mesmo com contratação de profissionais temporários, não solucionaram o deficit no atendimento. Nada substitui o servidor público”, diz.
Falta de pessoal no serviço público é grave
O principal problema do deficit de pessoal é a precariedade da prestação do serviço público, segundo o presidente da Associação de Apoio aos Concursos Públicos e Exames (Conexa), Renato Saraiva.
“Isso chega a ser cruel. A principal consequência da falta do concurso é a ausência da presença e da assistência do Estado. Se não tem concurso, não tem servidor. É uma cadeia de prejuízo que acaba atingindo os mais fracos. O prejuízo, no fim, é para todos, pois o povo não tem atendimento e o Estado acaba gastando muito mais”, argumenta o presidente.
O represamento tem suas consequências como, por exemplo, a aplicação de provas muito perto uma das outras, ou até na mesma data. “Vivemos isso recentemente com os concursos da PF, PRF e PCPA (Polícia Civil do Pará). A Aconexa, inclusive, oficiou aos órgãos e bancas para que essas datas sejam melhor planejadas e tragam mais benefícios aos concurseiros”.
Segundo ele, todos precisaram passar por uma adaptação e, agora, estão se organizando, mais uma vez, com a rotina voltando a ser aquilo que as pessoas estavam acostumadas. No mundo dos concursos está acontecendo a mesma coisa.
O desafio agora seria escolher, entre tantos concursos, qual fazer. “O prejuízo é grande também para os concurseiros. Fazer um concurso, ser aprovado, segue etapas que vão desde o estudo, passando pelo edital, pela prova e, por fim, pela posse. Quando essa cadeia é prejudicada, o candidato desanima, fica se sentindo perdido e sem perspectiva”. Foi o que ocorreu com Ana Flávia Cunha, 37 anos, para a concurseira, “a suspensão dos concursos foi um balde de água fria”.
Hoje, ela estuda para o concurso do Banco do Brasil. O edital do certame saiu em 23 de junho, e, no dia seguinte, ela voltou a estudar. Mesmo estando parada nos últimos meses, ela sempre foi concurseira, e seu objetivo é trabalhar em um banco.
“Eu faço uma média de cinco horas líquidas. Devido à pandemia, algumas organizações estão de home office. Então, a gente consegue conciliar algumas rotinas”, relata. Sua mira também está no concurso do Banco Central, mas o último edital foi em 2013.
A rotina da volta
É impossível que a pandemia não tenha afetado os candidatos de concursos e suas respectivas rotinas de estudos. Entretanto, o que estava, antes, longe do fim, fica agora cada dia mais perto de acabar.
“Acho que quanto mais o tempo passa, mais difícil fica, vi que muitas pessoas desanimaram com a pandemia. Agora, que as coisas estão mais estabilizadas e os concursos estão saindo novamente, quem aproveitou a oportunidade para se dedicar está ficando entre os cabeças”, avalia a graduanda em direito Marcela Corrêa, 25 anos.
A jovem diz que a prova da Polícia Rodoviária (PRF) foi difícil. “As notas de corte para a redação do concurso da PRF foram bem altas”. Ela afirma que há quem diga que as pessoas estudam seis meses apenas e passam. “Mas, pelo padrão de prova que está saindo, não acredito que hoje em dia você passe por sorte. É dedicação e disciplina”, argumenta.
Saiba Mais
Segundo ela, o curso de direito, desde o início, foi feito pensando nos concursos públicos que prestaria. Mesmo faltando pouco tempo para se formar, ela continua focando naqueles estudos que nada tem a ver com a faculdade.
A rotina, claro, não é nada fácil. “Hoje, eu acordei cinco horas, estudei até o meio-dia, fui almoçar com meus pais, e voltei às 14h. Estou estudando desde então. Adianto o máximo que posso as matérias da faculdade para sobrar tempo para os outros estudos”, conta.
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo