De líder para líder

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Carmen Souza
postado em 19/07/2021 21:29 / atualizado em 19/07/2021 21:30
 (crédito: Talita de Souza/Esp.CB/D.A Press)
(crédito: Talita de Souza/Esp.CB/D.A Press)

O futuro das relações de trabalho, o combate às mudanças climáticas e a urgência na adoção de medidas de equidade estão entre os grandes dilemas atuais. Não à toa, fazem parte da pauta da cúpula do G20, grupo formado pelas maiores economias do mundo. Os líderes desses países não estarão sozinhos na reunião de outubro. Contarão com os conselhos de uma delegação composta por lideranças também expressivas. À mesa haverá uma carta de recomendações do Youth 20 (Y20), um encontro protagonizado por jovens para a proposição de soluções de enfrentamento aos principais desafios mundiais.

Três mulheres foram selecionadas para representar o Brasil nessa iniciativa, cujas reuniões decisivas começam amanhã. Amanda Costa, Juliana Degani e Lara Martins também formam uma composição inédita da delegação brasileira no Y20: é a primeira vez que o grupo é composto exclusivamente por mulheres negras — a estreia se deu em 2011.

Rodrigo Reis, diretor executivo do Instituto Global Attitude, organização que seleciona os participantes, conta que não havia um perfil predefinido para a formação da delegação deste ano. Entre mais de 150 candidatos, as selecionadas se destacaram nos quesitos comumente estabelecidos. “É uma escolha muito feliz da nossa parte, podemos dar voz a mulheres negras nos espaços internacionais. Elas representam uma face do Brasil que deveria estar mais presente nesses cenários.”

Segundo Reis, o perfil distinto do trio também chama a atenção. “Temos três delegadas excelentes, com um alinhamento em áreas de conhecimentos distintas, o que as torna complementares. Há a pluralidade que procuramos,” avalia. Conferimos tamanha riqueza. Veja quem são as conselheiras brasileiras do G20.

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. (foto: Arquivo Pessoal)

Amanda Costa, 24 anos

Amanda Costa estreou no ativismo climático em 2017, quando representou o Brasil na Conferência de Clima, a COP, na Alemanha. A experiência foi decisiva. “Achava que, para participar desses eventos, eu tinha que ser mais velha, rica, com pós-doutorado. Eu era o oposto: estava na iniciação científica, fazendo vaquinha para viajar. Mas quando vi que eu poderia atuar com os tomadores de decisão, defini que era o que queria para minha vida.”

De lá para cá, o currículo da paulista formada em relações internacionais pela Universidade Anhembi Morumbi ganhou cargos expressivos, como o de jovem embaixadora das Nações Unidas. A experiência no Y20 entra para reforçar a missão de democratizar as pautas socioambientais. “Quero capacitar outros jovens da periferia para que ocupem esses lugares. Se não nos dão oportunidades, vamos criar. Entender nossas ferramentas, nos conectar com agentes estratégicos e colocar a mão na massa”, diz.

A educação climática é um dos temas que Amanda tem defendido entre os delegados dos outros países. “Não adianta achar que os jovens vão olhar proativamente para o desenvolvimento sustentável. Esse olhar precisa começar na base, fazer parte das grades curriculares”, justifica.

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. (foto: Arquivo Pessoal)

Juliana Degani, 21 anos

Ao ingressar na Universidade de São Paulo (USP) para cursar relações internacionais, em 2018, Juliana Degani sentiu falta de um espaço para discutir questões ligadas à negritude. Ela e dois colegas criaram, então, o Lélia Gonzalez, um coletivo que foi conquistando espaços para além do cenário estudantil.

A iniciativa faz parte, por exemplo, do projeto Redes & Raízes, um fundo da ONU para fortalecer habilidades de resiliência e ativismo na juventude negra. “Com o coletivo, ganhei experiência e atuação regional e comecei a perceber que eu também poderia fazer a diferença em outros cenários”, conta.

A guinada internacional veio com Y20, onde Juliana se dedica a discussões de temas voltados para a inclusão. “Meu papel como delegada é levar a realidade brasileira. Se estamos falando sobre equidade no acesso à tecnologia, temos que pensar também em acesso à eletricidade, que é um desafio aqui e em outros países”, ilustra. O carro-chefe da universitária é a erradicação da pobreza considerando as especificidades urbanas e rurais. “Podemos superar essas divisões com inovação e cooperação”, aposta.

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. (foto: Arquivo Pessoal)

Lara Martins, 29 anos

Especialista em gerenciamento de projetos pela PUC-Rio e graduada em publicidade e empreendedorismo pela mesma instituição, Lara é uma expert em conexões. Saiu, por exemplo, de um intercâmbio na Espanha, em 2014, cheia de contatos e ideias sobre consumo consciente. Desde 2020, gerencia, no Brasil, um movimento global de pessoas que usam os negócios para a construção de uma economia mais inclusiva e regenerativa: a Comunidade de Empresas B.

A ideia é explorar essa mesma habilidade no Y20. “Sou uma articuladora que pensa no global e atuo no local. Acho importante fazer as recomendações e trazer o que tem de bom lá para fazer aqui”, diz a também vencedora, em 2019, do Valuable Young Leaders, prêmio criado pela Harvard Business Review Brasil e pela consultoria Eureca para valorizar jovens líderes.

Uma das propostas de Lara no Y20 é o favorecimento de uma literatura voltada para o digital. “As pessoas não foram letradas para usar os aplicativos”, justifica. Os debates já travados com outros delegados sinalizam que ela não está sozinha em seus projetos. “O ponto alto dessas trocas é saber que mesmo que oceanos nos distancie, vivemos e lutamos por causas muitas vezes similares.”

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. (foto: Centauro/Divulgação)

Olimpíadas

Tempos de reparação...

A delegação brasileira que disputou as Olimpíadas de 1964, em Tóquio, tinha uma única representante: Aída dos Santos. Aos 27 anos, ela chegou à competição sem dinheiro, sem treinador, sem uniforme e cheia de descrédito. Enquanto disputava as partidas de salto em vara, ouvia da arquibancada que seu lugar era na cozinha, conta. Quando conquistou o quarto lugar, deu seu recado: “Peguei o microfone e disse que meu lugar era na cozinha, no quarto e também em uma quadra de esporte.” Agora, 57 anos depois, mais um triunfo se soma à história de Aída. A Centauro criou o uniforme que ela deveria ter usado nas competições. Aos 84 anos, a carioca recebeu as peças na pista de atletismo do Engenhão, no Rio de Janeiro. A coleção, segundo Aída, “muda o fim de uma história e o início de muitas outras”. A entrega das peças foi capturada e transformada em um filme batizado de O uniforme que nunca existiu.

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. (foto: Soul Cap/Divulgação)

...e de decisão polêmica

Também em Tóquio, as Olimpíadas que começarão neste mês já têm, entre as controvérsias, a proibição do uso de toucas de natação feitas para atletas com cabelos volumosos e afros. Segundo a empresa Soul Cap, que fabrica esse tipo de touca esportiva, a Federação Internacional de Natação (Fina) não certificou o uso do produto em competições internacionais alegando que ele “não segue a forma natural da cabeça”. A decisão repercutiu mal, e a Fina comunicou que vai revisá-la, “entendendo a importância da inclusão e da representação”. Entre os nadadores que planejam usar a touca especial está Alice Dearing (foto), do Reino Unido. Torcemos, daqui, por uma reparação menos demorada.

Participe

Trainee da L’Oréal

A L’Oréal Brasil lançou o programa de trainee deste ano — e, pela primeira vez, 50% das vagas são para profissionais negros. Os interessados precisam ter se formado entre julho de 2018 e julho de 2021, com diploma de tecnólogo, bacharel ou licenciatura, e se inscrever, até sexta-feira, no site https://traineeloreal.ciadetalentos.com.br/ . Os selecionados vão trabalhar em São Paulo ou no Rio de Janeiro, com possibilidade de experiências internacionais. Contar com mentoria de executivos da empresa desde o primeiro mês de atuação e com um plano de aperfeiçoamento personalizado também faz parte dos atrativos.

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. (foto: Festival Latinidades/Divulgação)

Aprecie

Festival celebra a ascensão negra

Começa nesta quinta-feira, a 14ª edição do Festival Latinidades, o maior festival de mulheres negras da América Latina. O tema desta edição é ascensão negra. E as homenageadas, a cantora e violinista baiana Rosa Passos, a artista Zezé Mota (foto), a ativista da música afro-peruana Suzana Baca e a vice-presidente da Costa Rica, Epsy Campbell. Pelo segundo ano consecutivo, o evento será totalmente on-line, transmitido pela plataforma YouTube no canal do Afrolatinas. Recitais, rodas de conversas, oficinas, pocketshows e exibição de filmes fazem parte dos quatro dias de programação do projeto que, a partir das artes e da cultura, dialoga, disputa narrativas e fortalece diferentes saberes de mulheres negras. Confira a programação completa no site https://afrolatinas.com.br/ 

Musical conta a história de Zumbi

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. (foto: Coletivo COOXIA/Divulgação)

O canal do coletivo Cooxia apresenta gratuitamente o musical infantojuvenil Zumbido, sobre Zumbi dos Palmares. A peça teatral conta as vivências de Flor, uma menina que conhece o líder quilombola a partir de histórias contadas pela mãe. O enredo revisita a cultura africana, trazendo, por exemplo, aspectos da tradição Bantu, e também destaca expressões artísticas brasileiras, como o samba, o funk e a cultura hip-hop. É possível assistir ao musical até o próximo dia 25, com acessibilidade em libras, no canal do Cooxia no YouTube

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