COLUNA SABER

Os desafios das mulheres no mercado de trabalho

Conectar-se com outras pessoas do sexo feminino para compartilar experiências é uma das dificuldades que essa população enfrenta

Ana Machado
colunista
postado em 02/08/2021 21:26 / atualizado em 02/08/2021 21:26
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Ana Machado é mestra em educação pela Universidade Stanford, especialista em psicossociologia da juventude e políticas públicas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FEPSP) e bacharel em marketing pela Universidade de São Paulo (USP)

Propósito é uma das palavras mais usadas, recentemente, quando falamos sobre carreiras com significado e grandes feitos. Conseguir alinhar nossos valores, sonhos e trajetória profissional tornou-se um desejo das novas gerações, assim como estabilidade financeira e bens materiais eram objetivos prioritários para gerações passadas. No entanto, alcançar um equilíbrio entre o que acreditamos, o que sabemos fazer e quais trabalhos pagam as nossas contas nem sempre é uma equação simples.

Uma das temáticas que me move é a equidade de gênero no mercado de trabalho. Apesar de as mulheres terem alcançado a equiparação com os homens em termos de qualificação, ainda são a minoria em postos de liderança, tanto em organizações privadas quanto públicas. Ajudar a transformar essa realidade, acelerando as mudanças que devem acontecer a nível coletivo e individual, é uma responsabilidade que deve ser compartilhada por todos.

Problemas complexos como esse tem várias facetas que podem ser investigadas para um aprofundamento de causas e possíveis soluções. Resolvi começar pela identificação dos desafios que as mulheres enfrentam, escutando delas próprias os aspectos que mais dificultam a sua ascensão e permanência em cargos de liderança. Por meio de uma pesquisa de duas etapas, uma quantitativa e outra qualitativa, alguns dos entraves principais foram descobertos.

O desafio número um apontado pelas mulheres é o de planejamento de carreira, que envolve saber desenvolver e executar planos que as ajudem a crescer profissionalmente. O segundo desafio mais citado foi o de conexão com outras mulheres no ambiente de trabalho, principalmente aquelas em posições de liderança, para networking, mentoria e compartilhamento de experiências. O terceiro maior desafio é o de se comunicar com confiança, transmitindo o seu ponto de vista com segurança e credibilidade, especialmente em contextos desafiadores.

Além desses, outros entraves também apareceram, como saber lidar com o nível de autoexigência, sucesso e medo de falhar. Conseguir equilibrar vida profissional e pessoal também teve destaque, pois a sobrecarga de trabalho das mulheres fora do ambiente corporativo se dá devido ao acúmulo de funções que não são economicamente valorizadas, relacionadas aos cuidados dos filhos, da casa e dos membros da família. O desequilíbrio de gênero nas organizações e a falta de políticas institucionais para lidar com ele também foram desafios citados pelas respondentes, assim como a inexistência de um sistema de suporte que apoie as mulheres no desempenho de seus múltiplos papéis — ponto que ganhou destaque.

No que diz respeito às competências socioemocionais, as mulheres disseram que precisam fortalecer a autoconfiança e saber lidar com sentimentos negativos e timidez. A modéstia para expor as suas conquistas e opiniões ainda é uma atitude mais comum entre elas do que perante os homens, que, desde cedo, são mais estimulados a competir e exaltar seus feitos. O estereótipo de que as mulheres são mais emotivas do que racionais também atrapalha a ascensão delas, principalmente pelo estigma que ainda há na cultura organizacional.

Há também barreiras em termos de competências técnicas, principalmente em áreas com predominância masculina como tecnologia e finanças, temáticas centrais para qualquer negócio de sucesso na atualidade. Com a baixa representatividade feminina nessas áreas, há poucos exemplos que sirvam de inspiração e menos oportunidades para mulheres ganharem experiência e bagagem relevantes nesses assuntos. Como se pode perceber, temos muito o que avançar em diferentes frentes para apoiar a jornada das mulheres rumo ao topo. O caminho é longo, mas, juntas, somos mais fortes e chegaremos mais rápido.


"A modéstia para expor as suas conquistas e opiniões ainda é uma atitude mais comum entre elas [mulheres] do que perante os homens"

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