formas de trabalho

Home office deve permanecer depois da pandemia

As vantagens do trabalho a distância são enormes, por isso, a modalidade deve continuar mesmo quando não for mais necessária

Ana Luisa Araujo. Malu Sousa*
postado em 27/09/2021 19:45 / atualizado em 27/09/2021 20:07
"Atualmente, temos muitos sistemas e softwares que auxiliam na execução do meu trabalho", diz Victória - (crédito: Arquivo Pessoal)

Antes da pandemia, o trabalho de Victória Barros, 27 anos, era uma jornada tradicional. Hoje, as baias e as salas foram divididas de forma que favorecessem a interação do time, mas com segurança, para que ninguém se contamine pelo novo coronavírus. Não há mais copos descartáveis para beber água, cada um precisa trazer o seu; e grande parte da empresa Bancorbrás ainda está de home office.

O setor de gestão de pessoas da empresa ainda está estruturando um plano para que os colaboradores fiquem em trabalho remoto definitivamente, por isso, a companhia se mostra solícita e permissiva em relação à modalidade que se popularizou com a pandemia.

A analista de marketing conta que seu trabalho é facilmente desempenhado a distância. Sua rotina inclui produção, acompanhamento e análise de campanhas publicitárias, alinhamento com as áreas de negócios da empresa para consolidar os produtos e serviços que estão sendo demandados pelo mercado.

“Atualmente, temos muitos sistemas e softwares que auxiliam na execução do meu trabalho, podendo ser acompanhado tanto por outros membros da equipe, quanto pelos gestores. Além disso, as reuniões de alinhamento podem ser realizadas por videochamada”, informa Victória.

Segundo ela, a empresa ainda se preocupa com o psicológico dos colaboradores. A Bancorbrás abriu um canal direto para atendimento, caso haja necessidade de falar sobre estresse, dificuldade de adaptação à nova rotina e qualquer outra consequência psicológica oriunda do momento pandêmico.

Confiança é fundamental

As pessoas são o ativo mais importante da empresa, segundo Guilherme
As pessoas são o ativo mais importante da empresa, segundo Guilherme (foto: Arquivo Pessoal)

Guilherme Dias, diretor de marketing e cofundador da Gupy, empresa de tecnologia para recursos humanos no Brasil, afirma que a maioria de seus funcionários prefere o trabalho remoto. O posicionamento da empresa foi priorizar o modelo — ser uma instituição remote first. Mesmo que a Gupy volte a ter escritório em algum momento, a modalidade principal agora é remota.

O porta-voz da Gupy lembra que home office é diferente de trabalho remoto em meio a uma pandemia. Ter que cuidar dos filhos em tempo integral e ainda se dedicar ao emprego é uma tarefa difícil, o que poderia ter tornado a experiência negativa. Foi mais difícil, é claro, mas, ainda assim, os trabalhadores conseguiram tirar bom proveito deste momento a ponto de querer trocar a modalidade presencial pela remota definitivamente.

Para Guilherme, é fundamental a confiança no desempenho dos trabalhadores. “As pessoas são o ativo mais importante das empresas, e o futuro do trabalho será centrado nos profissionais”, diz. De acordo com ele, se os empregadores não mudarem a mentalidade na gestão, acabarão perdendo pessoas competentes. “Essa mudança é necessária para que seja possível liderar um time de maneira remota, pois, sem confiança e autonomia, as empresas não terão um ambiente propício para o desenvolvimento e o bom desempenho dos colaboradores”, declara o cofundador da Gupy.

O gestor conta que, até 2019, tinham alguns colaboradores se dedicando a distância por morarem fora da cidade, mas nunca havia experimentado colocar toda a empresa nesse modelo. A Gupy, na pandemia, dobrou de tamanho e, agora, tem aproximadamente 350 colaboradores. O antigo espaço físico, segundo Guilherme, não comportaria tantas pessoas.

“Notamos que a equipe estava trabalhando muito bem de maneira remota, e até mesmo os rituais da nossa cultura, que nos preocupava que não fossem mantidos, continuaram ocorrendo naturalmente”, conta. Tudo corroborou para que a empresa ficasse totalmente a distância. (ALA e MS)

Crescimento global

"Alguns gestores acreditam que os profissionais que trabalham remotamente são preguiçosos e evitam tarefas difíceis a qualquer custo", diz Cristiano Soares
"Alguns gestores acreditam que os profissionais que trabalham remotamente são preguiçosos e evitam tarefas difíceis a qualquer custo", diz Cristiano Soares (foto: João Castellano/Divulçgação)

Cristiano Soares é gerente nacional da Deel no Brasil. A empresa oferece gestão de pagamento para equipes remotas internacionais. No caso da instituição, o time é totalmente a favor do trabalho remoto. “Temos um time global de 300 pessoas com mais de 26 fusos horários a em mais “insights” e inovação.

O escritório da empresa fica no Vale do Silício, na Califórnia (EUA). Mas, segundo ele, nem 5% do time frequenta o espaço com frequência, pois a cultura da empresa é permissiva em relação ao colaborador trabalhar de qualquer lugar. No Brasil, eles sequer têm uma sede.

“Alguns gestores acreditam que os profissionais que trabalham remotamente são preguiçosos e evitam tarefas difíceis a qualquer custo. Esse entendimento totalmente enganoso é impulsionado por pessoas que acreditam no poder na microgestão, isto é, de líderes que defendem que devem acompanhar seu time em cada ação que ele realiza durante um dia de trabalho”, explica o gerente nacional.

Para ele, essa desconfiança é danosa à própria empresa, na medida em que monitorar o passo a passo de seus colaboradores é uma tarefa demorada. A comunicação é essencial e desafiadora, mas pode ser realizada de forma tranquila desde que a empresa contrate os profissionais certos, segundo Cristiano. “Além disso, as famosas habilidades comportamentais ganham destaque e se tornam cada vez mais fundamentais”, declara.

Durante a pandemia, Cristiano conta que a empresa cresceu mais de 20 vezes e conquistou o título de unicórnio (startups com valor acima de US$ 1 bilhão). (ALA e MS)

Menos andares no Setor Comercial Sul

"Entregamos dois andares alugados e estamos adaptando os espaços atuais, para que fiquem sem muitas salas" Jeferson Neves, diretor da Bancorbrás
"Entregamos dois andares alugados e estamos adaptando os espaços atuais, para que fiquem sem muitas salas" Jeferson Neves, diretor da Bancorbrás (foto: Arquivo Pessoal)

Na Bancorbrás, não ocorreu de forma distinta da Gupy ou da Deel. No começo da pandemia, todos foram obrigados a entrar em regime de home office, mas, com o tempo, a gestão de processos foi melhorando. Jeferson Neves, diretor executivo do Centro de serviços compartilhados da Bancorbrás, afirma que o próprio desempenho das equipes também foi aprimorado.

Segundo ele, a empresa conseguiu reduzir custos. Antes, eles ocupavam diversos andares em um prédio do Setor Comercial Sul, em Brasília. Hoje, a realidade é diferente. “Entregamos dois andares alugados e estamos adaptando os espaços atuais, para que fiquem sem muitas salas”, explica. Além dos gastos com aluguel, a empresa diminuiu, também, os custos com a manutenção e a conservação de ambientes.

Jeferson conta que foi feita uma pesquisa interna, e cerca de 80% dos colaboradores gostariam de continuar no modelo remoto de trabalho. A opinião dos trabalhadores, conforme sua fala, foi essencial na tomada da decisão de permanecer em home office. (ALA e MS)

O que diz a lei

A Medida Provisória 1.046, de 27 de abril de 2021, publicada com objetivo de direcionar a população com medidas trabalhistas para o enfrentamento da emergência de saúde pública, permite que os chefes possam mudar as regras do regime de trabalho sem concordância do funcionário. A única
questão é que o trabalhador deve ser avisado 48 horas antes.

Caso este não cumpra a exigência, as punições podem ser advertência, suspensão com desconto no salário e demissão por justa causa. O texto é menos rigoroso com aqueles que têm comorbidade. Mesmo assim, caso seja impossível de ser realizado remotamente, o contratante tem liberdade de exigir que o funcionário trabalhe presencialmente, desde que em local arejado e higienizado ao fim de todo expediente.

O trabalhador não está totalmente desprotegido. Caso se contamine com covid-19 e consiga comprovar que foi durante o trajeto ao emprego ou no próprio local de trabalho, a empresa pode responder judicialmente por danos morais e materiais. Isso ocorreria porque a Justiça classificaria o ocorrido
como doença do trabalho.

O trabalhador pode relatar descumprimento das normas de vigilância sanitária, caso a empresa esteja com distanciamento inadequado, não utilizando máscaras e álcool em gel.

 

Sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo

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