Eu, Estudante

Oportunidades acadêmicas

Programa Oportunidades Acadêmicas ajuda jovens a estudar nos EUA

Conheça histórias de filhos de famílias de baixa renda que foram aceitos em instituições conceituadas, como Dartmouth College, Duke University, Harvard University e Universidade de Chicago

Sonhos se realizam. A prova? Davi Maciel, de 19 anos, filho de funileiro e de uma dona de casa, saiu de Caucaia, interior do Ceará, para estudar ciência da computação, na Northwestern University, nos Estados Unidos. Outra prova? Gustavo de Almeida, 23, o paulistano filho de um frentista e uma empregada doméstica. Além da graduação em sociologia, pela Dartmouth College, ele começou o doutorado na Brown, duas universidades da Ivy League, grupo de universidades de elite nos Estados Unidos.

E só mais uma? Augusta Saraiva, 23, que saiu do interior do Rio Grande do Sul e hoje está formada em jornalismo, pela Northwestern University. Além disso, lá mesmo, a jovem que estudou toda a vida em escola pública cursou relações internacionais e fez mestrado em jornalismo político. Sim, sonhos se realizam, mas eles não caem do céu. Determinação, foco e persistência são palavras que combinam com sonhos realizados.

Mas como todos realizaram o sonho de estudar fora do país? Por questões de idioma, localização e qualidade acadêmica, uma boa parte deles tem como destino os Estados Unidos. Mas tão grande quanto o sonho, são as dificuldades encontradas, principalmente no que diz respeito à questão financeira. Com a crescente alta no dólar, o orçamento médio para se estudar em boa faculdade norte-americana por dois anos gira em torno de R$ 50 mil, segundo estimativas da agência de intercâmbios S7.

Por conta do alto custo, estudantes vindos de famílias de baixa renda são impossibilitados de buscarem uma graduação naquele país. E, mesmo com a existência de programas que concedem bolsas de estudos a esses estudantes, a falta de acesso às inscrições e a outras informações importantes acaba se tornando um problema a mais no processo do application.

O application é um processo de admissão diferente do que se está acostumado a ver no Brasil. Nele, além do vestibular tradicional, as universidades analisam o perfil do estudante por meio do histórico escolar, além de uma carta de motivação, uma redação que mostre o porquê ele querer estudar lá (chamada de essay), uma entrevista com os recrutadores. E, por fim, uma carta de recomendação feita por um professor ou coordenador da antiga escola do aluno. No caso dos estudantes estrangeiros, também é preciso comprovar sua proficiência no idioma, podendo ser feito por meio de provas como o Toefl ou o Ielts.

Felizmente, muitos estudantes brasileiros, principalmente os com pouco acesso a recursos para aplicarem, estão conseguindo arrumar maneiras de participar de todo esse processo e conquistar a tão sonhada formação no exterior. Muito disso se deu por meio de programas que apoiam, orientam e financiam tais processos. Uma dessas possibilidades é o Programa Oportunidades Acadêmicas, que já teve alunos aceitos em universidades conceituadas como Harvard University, Northewestern, Universidade de Chicago e outras.

Ranking

Segundo dados do relatório Open Doors 2021, censo oficial da educação internacional nos EUA, o Brasil tem 14 mil brasileiros estudando nas universidades estadunidenses, o que colocou o país em 8º lugar no ranking dos que mais levaram jovens para estudarem nos EUA, subindo uma posição em relação ao ano passado. O Brasil, inclusive, fica acima de países conhecidos por terem um grande fluxo de estudantes para os EUA, como México, Nigéria e Japão, mesmo tendo enfrentado por uma crise social na educação durante a pandemia.

Na Northwestern University

Arquivo Pessoal - Davi Maciel, de Caucaia (CE), estuda na Northwestern University com apoio da Education USA

Inspirado por colegas desde o ensino médio, Davi Maciel,19 anos, foi um dos beneficiados pelo Oportunidades Acadêmicas e, graças ao programa, hoje estuda ciência da computação na Northwestern University. Davi vem da cidade de Caucaia, no Ceará, filho de funileiro e de uma dona de casa, desde os 11 anos participou de olimpíadas escolares de nível nacional, principalmente voltadas para as ciências exatas e da natureza.

Toda a sua dedicação foi recompensada quando conseguiu uma bolsa para estudar o ensino médio em uma das melhores escolas de Fortaleza. Ele tomou gosto por física e começou a participar de competições internacionais também, somando duas medalhas nessas olimpíadas e mais de 25 no total em que participou. Davi conta que o programa lhe trouxe confiança para o processo de aplicação.

Com o desejo incessante de querer estudar fora do país, Davi foi atrás do programa Oportunidades Acadêmicas, que aplicou para 10 universidades. Ele conseguiu na Northwestern. "Me sinto privilegiado, fiquei um ano me dedicando a isso, depois de ter tomado a decisão, e consegui ser aprovado em uma universidade boa", conta.

Segundo ele, a falta de estrutura no início dos estudos foi algo que poderia ter atrapalhado bastante sua trajetória escolar. Ele chegou a ter que pegar três ônibus por dia só para chegar à escola durante o ensino médio. Voltava para casa às 21h30. "Era bem cansativo, mas eu estava muito motivado, porque, finalmente, tinha conseguido estudar em uma das melhores escolas do Brasil, com gente muito dedicada", conta. Ele admite que se sente realizado por poder servir de inspiração para vários outros jovens que queiram trilhar esse caminho, entre eles, a irmã, que também se dedicou somente aos estudos e hoje tem uma educação de qualidade graças ao benefício da bolsa de estudo.

Doutor em Brown University

Arquivo Pessoal - Gustavo de Almeida: "Agora, quero terminar o doutorado e seguir carreira acadêmica"

Gustavo de Almeida, 23 anos, foi um dos estudantes que fez grande progresso na vida acadêmica graças ao programa Oportunidades Acadêmicas. O jovem paulista vem de uma família de baixa renda. Filho de um frentista e uma empregada doméstica, nascido e criado no bairro Jardim Fontalis, o mesmo de onde veio o rapper Emicida, Gustavo sabe o que é ter que lutar pela vida. Enfrentou muitas dificuldades e, além de ser o primeiro da família a terminar o ensino médio, realizou o sonho de estudar nos Estados Unidos, algo que para a realidade dele era quase impossível realizar.


Mas, graças ao programa, isso foi possível. Além da graduação em sociologia, pela Dartmouth College, onde conseguiu bolsa de estudos integral com ajuda do programa, Gustavo, agora, está fazendo o doutorado em Brown University, duas universidades da Ivy League, grupo de universidades de elite nos Estados Unidos. “A mentoria, o apoio, a ajuda com todos os custos, tudo isso me fez ver caminhos que eu não imaginava possíveis. Agora, quero terminar o doutorado e seguir carreira acadêmica”, planeja.

"Sou a primeira pessoa da família a concluir o ensino médio e a universidade. Quando eu tinha 10 anos, minha realidade não comportava sequer sonhar em chegar até aqui. A mentoria, o apoio, a ajuda de todos os custos, tudo isso me fez ver caminhos que eu não imaginava possível. Agora, quero terminar o doutorado e seguir carreira acadêmica", diz.


O filho do pedreiro analfabeto chegou à Stetson University

Arquivo Pessoal - Felipi Alisson: feliz com a conquista

Felipi Alisson, 20, também faz parte desta geração de jovens que são os primeiros da família a alcançarem o ensino superior. Felipi vem de origem humilde, e sempre estudou na rede pública. Começou a trabalhar aos 14 anos para ajuda em casa.

Filho de uma dona de casa e um pedreiro, a mãe teve de abandonar os estudos para cuidar dos filhos. O pai não sabe ler ou escrever, mesmo assim, ambos, na dificuldade para criar a família, sempre enxergaram a importância da educação para o filho. Mais que isso: o impacto positivo que ela pode gerar.

Dito e feito, Felipi conseguiu lidar com a rotina cansativa para conciliar os estudos e o trabalho. Hoje, conta em seu repertório com uma boa quantidade de experiências internacionais.


Graças ao seu esforço e aos programas de apoio que ele participou, e, por meio do Oportunidades Acadêmicas, ele conseguiu se firmar de vez no exterior e conseguir uma vaga na Stetson University, em agosto, onde faz dupla graduação em biologia e filosofia. “Meu ensino médio foi muito louco, eu estudava de manhã, trabalhava de tarde e à noite fazia escola técnica, eu saía de casa às 5h e voltava meia-noite”, lembra o esforço diário.

Felipi participou do processo de aplicação durante a pandemia, entre o ano passado e o início deste ano. E ele investiu seu tempo em atividades extracurriculares, fatores cruciais para a sua candidatura ter sido aceita. Contudo, assim como vários estudantes ao redor do país, Felipi conta que boa parte das suas dificuldades durante a pandemia foram voltadas para a questão da saúde emocional e mental, principalmente por conta da falta de interação entre alunos e professores, por conta do sistema de aulas remotas.


Hoje, psicologicamente mais fortalecido, ele reforça a importância dos cuidados com a saúde mental e emocional para os que sonham em chegar aonde ele chegou. “É uma responsabilidade muito grande servir de inspiração e sei o quanto foi difícil esse último ano. E que é ‘ok’ se sentir inseguro, é possível [estudar nos EUA], mas existem muito mais benefícios se você mantiver sua saúde mental e prezar pelos seus objetivos”, avalia.

Formada, gaúcha mora nos EUA: "Tudo mudou"

Arquivo Pessoal - Augusta Saraiva, nascida na cidade de Rio Grande, cursou jornalismo e relações internacionais na Northwestern University

Passando agora por uma etapa ainda mais avançada na carreira, Augusta Saraiva, 23 anos, sente-se grata pelo apoio fornecido pelo programa ao longo do seu período acadêmico. Nascida na cidade de Rio Grande, no interior do Rio Grande do Sul, ela sempre estudou em escola pública, e seu grande sonho era se formar em jornalismo para ser uma correspondente internacional.

Ela vê a carreira como "uma oportunidade de viajar e conhecer outros lugares", e enxergava no país norte-americano o destino ideal para tal realização. "Ter tido essa oportunidade mudou a minha vida. Saí de uma cidade no interior do Rio Grande do Sul e, hoje, moro na capital dos Estados Unidos, tudo mudou!", comemora a caminhada.

Augusta concluiu a graduação na Northwestern University, onde, além de jornalismo, cursou, também, relações internacionais e ainda fez um mestrado em jornalismo político, em outro câmpus. Ela conseguiu estágios em diversas revistas internacionais e já viajou para muitos países durante a graduação. Com a experiência adquirida na formação acadêmica, trabalhou na Bloomberg News, uma das maiores redes de notícias dos Estados Unidos, em Washington,D.C.

A jornalista diz que se sente grata pela oportunidade oferecida e por todo o apoio que teve no programa: "O Oportunidades Acadêmicas pegou uma pessoa que tinha um sonho e o transformou em realidade. Eu, com certeza, não teria chegado aonde estou hoje se não fosse por ele. É uma rede que mudou minha vida, honestamente", emociona-se.(AV)

Carioca está se preparando para estudar no exterior

Arquivo Pessoal - Anna Carolina se inscreveu em 10 universidades

A jovem carioca, nascida em São Gonçalo e criada em Engenho Novo, Anna Carolina Aragão, 20 anos, ainda está em processo de candidatura para estudar no exterior. Por meio do programa Oportunidades Acadêmicas, ela se inscreveu para 10 universidades até o momento.

Anna sempre se interessou pela área de empreendedorismo. Desde pequena, movimentava as turmas da escola, organizava campanhas de arrecadação, participava de projetos voluntários e outras atividades.

Os projetos e as atividades extracurriculares que desenvolveu a qualificaram para tentar uma formação acadêmica de qualidade por meio do programa. Para ela, só bastava uma oportunidade. E ela veio por meio do programa para conseguir realizar o sonho: "Se eu posso, se viram potencial em mim e a única coisa que eu tenho é a paixão por querer mudar minha comunidade, por que outros não podem?",indaga.

A estudante, assim como todos os outros alunos, veio de uma família humilde, com recursos limitados. "Nunca passou pela minha cabeça que um dia eu poderia aplicar para uma universidade lá fora, com alguma mentoria", diz.

A pandemia ainda piorou a situação, além de problemas pessoais e emocionais, a questão financeira também foi afetada, tanto que ela teve que começar a trabalhar logo depois da graduação no ensino médio para ajudar nas contas da casa. Mas conseguiu passar por tudo isso. Agora, pode focar mais ainda nos processos de aplicação para as universidades. (AV)

 

Estagiário sob a supervisão de Ana Sá