Depois de muitos anos de esforço e dedicação, Reginaldo Lopes da Costa, de 52 anos, concluiu o ensino fundamental. Conciliar o trabalho de servente (ele está fazendo bicos para sobreviver) com os estudos não foi uma tarefa fácil, mas a vontade de se qualificar foi maior. Animado, Reginaldo revela que, agora, buscará o diploma de ensino médio e que já tem novos planos para o futuro.
Nascido no povoado de Condave, no interior do Maranhão, não teve muito acesso à educação. Quando criança, cursou o ensino infantil, onde aprendeu as letras e a escrever seu nome. Durante a noite, o pai de Reginaldo o ensinava, junto de seus irmãos, a ler. Para isso, eles liam as bulas dos remédios que tinham em casa. Sabendo ler e escrever, abandonou os estudos, mas não por opção. Para cursar a próxima série, Reginaldo teria que estudar na cidade. Porém seu pai não deixou.
Aos 19 anos, Reginaldo veio para Brasília em busca de um futuro melhor. Seu irmão já estava aqui e o indicou para um emprego como servente. Até então, não tinha planos para voltar a estudar. Quando passou a trabalhar como caseiro, foi incentivado, pela dona da casa, a procurar uma escola que tivesse educação para adultos. Retomou os estudos no Instituto Dom Orione, localizado no Lago Sul. Por muitos anos, ele parava e retomava o curso, devido à rotina pesada.
Mesmo não tendo formação, fazia questão de incentivar sua esposa a continuar estudando. Cuidava das crianças para que ela conseguisse concluir a faculdade de pedagogia. Além disso, ajudou também na alfabetização de suas duas filhas. Conta que sua prioridade sempre, foi dar educação para elas. Enfrentou muitos desafios, saía de casa às 5h e voltava às 12h, esperando terminar a aula de sua filha mais velha, Neyrilene, e ainda tinha que trabalhar. "Eu sempre priorizei as meninas, sempre dei um jeito para elas estudarem. Quando elas se formaram, tava faltando só o meu canudo", diz.
Em 2016, Reginaldo decidiu que voltaria a estudar e que não desistiria. Inscreveu-se na Escola Municipal Leonino Jesus Soares, em Valparaíso (GO), onde reside, e teve que retomar os estudos do zero. Assim fez. Durante o dia, trabalhava como pedreiro, jardineiro e motorista. Saía correndo do serviço, para não chegar atrasado na aula. Ele relata que, muitas vezes, estava desanimado e que pensou em desistir, mas que encontrava incentivo em seu sonho de ser o primeiro filho formado de sua mãe. "As minhas filhas e minha esposa sempre me animam pra ir estudar. Os professores, também, eles são muito legais, não me deixaram desistir", conta.
Com a crise sanitária da covid-19, não conseguiu assistir às aulas on-line, por não ter um celular com acesso. Porém a pandemia não conseguiu parar Reginaldo. Toda semana ia, de bicicleta, até a escola buscar o material fornecido pelos professores, assim como as atividades. Os papéis se inverteram, e as filhas de Reginaldo passaram, a auxiliá-lo nos conteúdos em que ele apresentava dúvida.
Planos para o futuro não faltam. Em 2022, Reginaldo planeja iniciar o ensino médio e fazer um curso para se tornar instrutor de autoescola. "É mais um passo para qualificação. Saber ler e escrever nunca foi suficiente, sempre diziam que precisava do ensino", conta. Seu maior sonho é ser agente de trânsito, e ele diz que não vai desistir até conseguir: "A gente é capaz do que quer e eu quero muito ganhar um dinheirinho que não dê só pra comer". Desde 2015, ele não tem a carteira fichada e, no momento, está parado. Por esse motivo, tem vontade de ir para outras cidades buscar trabalho, mas conta que a prioridade é cursar o ensino médio.
A formatura de Reginaldo ocorreu em dezembro, e ele conta que se emocionou ao ver todos que estavam presentes o aplaudindo. "Tá todo mundo orgulhoso, me ligando, e eu tô muito contente", diz. O momento foi emocionante para toda a família. Neyrilene, filha mais velha de Reginaldo e formada pela Universidade de Brasília (UnB), conta que chorou do início ao fim do evento. "Meu pai sempre se esforçou para que eu e minha irmã pudéssemos estudar. Significa muito pra gente ver essa conquista, depois de todo o esforço", relata.
Além da esposa e de suas filhas, Reginaldo incentivou outras pessoas a continuarem o estudo, como sua irmã e seu sobrinho. Como conselho, ele diz que é preciso não ter pressa. "Tenham paciência e perseverança, não é por causa da idade que temos que desistir", aconselha.
* Estagiária sob a supervisão do jornalista Marcelo Abreu