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Educação transforma vidas

Dayana Bárbara dos Santos, a Danda, morou na rua durante 12 anos. Hoje, ela comemora sua aprovação na Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Ana Luisa Araujo
postado em 23/01/2022 00:01
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

Moradora do Rio de Janeiro há sete meses, Dayana Bárbara dos Santos, 36 anos, viveu em Brasília por muitos anos. Durante esse tempo, por não se dar bem com o pai, que bebia muito e morava em Santo Antônio do Descoberto (GO), entorno de Brasília, acabou indo parar nas ruas da capital brasileira. Danda, como gosta de ser chamada, diz que sempre foi uma moradora de rua diferente. Ela sempre estudou e, graças a esse esforço, os estudos a levaram a uma conquista fenomenal, a recente aprovação na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) no curso de letras.

"Eu sempre quis a UnB [Universidade de Brasília], mas ela não me quis", conta, sorridente, ao falar de sua aprovação na estadual carioca.

Natural do Maranhão, Danda afirma que não se lembra de como veio parar em Santo Antônio do Descoberto (GO), distante apenas 50 km do Plano Piloto. "Não me pergunte como, porque uma parte da minha família conta uma história, mas a outra parte diz outra", revela.

A vendedora ambulante só se lembra de que, por volta de oito anos, decidiu sair de casa por causa dos conflitos com o pai e passou a frequentar as ruas de Santo Antônio do Descoberto. Tempos depois, ela estava em Brasília, em situação de rua, onde ficou por 12 anos.

De acordo com a universitária, a liberdade das pessoas que viviam na rua era algo com que ela se identificava. Ela queria experimentar essa sensação, principalmente porque sofria violência em casa. "Fui embora sem contar com nenhuma pessoa", afirma. Aqueles que viviam em situação de rua estavam sempre alegres, lembra ela. Não existia tristeza ou espaço para vida pacata.

Na primeira noite, porém, Danda não dormiu, teve tanto medo que foi para o conselho tutelar. De lá, seguiu para um abrigo de Taguatinga, de onde, depois de um mês, fugiu. Ela queria achar seu lugar; fez, então, da rua sua morada. Mas, diferentemente de outros indivíduos em situação de rua, não usou drogas durante um bom tempo, porque tinha medo de perder o controle de si mesma, e estava sozinha naquele local.

"Demorei um pouco a entrar nesse universo, na verdade, fiquei sempre com muito medo de coisas que não conseguia ter o controle", conta. "Eu ficava na rua, mas quando via que estava apertado demais, a polícia reprimindo muito a galera ou sendo muito violenta,dava um jeito de correr para o abrigo", continua.

A vendedora ambulante diz que nunca sofreu violência de pessoas que moram na rua, mas de policiais, sim. "Tanto na questão da violência física quanto sexual", afirma. "O Estado sendo o Estado", lamenta.

"Na rua, a gente só pernoita", afirma. Segundo a caloura de letras da Uerj, quando a situação apertava e ela corria para o abrigo, era para se libertar um pouco desse mundo. O abrigo era um local para dormir, comer bem e estar em segurança.

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