O tema da redação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021 "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil" marcou a vida do estudante José Carlos Conceição Santos, 60 anos, não apenas no dia da prova, como em toda a sua adolescência.
Nascido em Pedrinhas, interior de Sergipe, José Carlos vivenciou a invisibilidade ainda muito jovem, com o repentino abandono da familia adotiva. Quando tinha entre 10 e 14 anos de idade, o garoto foi "colocado" em um trem com destino a Salvador.
Apesar de ter vivido pouco tempo com a família, não sente raiva pelo abandono. Para ele, esse momento o fortaleceu para enfrentar as adversidades do mundo.
José Carlos morou cerca de seis anos nas ruas de Salvador. A fome, o frio e os olhares de desprezo foram a sua única companhia nos dias e noites solitárias. Ele acredita que conseguiu superar as adversidades graças ao seu "instinto de sobrevivência.
Apenas aos 16 anos, José Carlos nasceu socialmente, quando foi abordado por uma família que o recolheu das ruas e emitiu sua certidão de nascimento.
Ele iniciou os estudos por meio do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), onde aprendeu as letras e a escrever o próprio nome, mas logo abandonou a escola para trabalhar.
Começou na lavagem de carros, depois, passou a vender água de coco e geladinho na praia, trabalhou em um restaurante em troca de alimentação.
Ainda que estivesse ocupado com o trabalho e não tivesse tempo para frequentar a escola, José Carlos declarou sempre ter sido apaixonado pelo mundo da literatura, amava as revistinhas e gibis da época e, por esforço próprio e com a ajuda de pessoas próximas, aprendeu a ler.
"Um dia, eu quero ser um herói desses [dos quadrinhos]. Hoje, os gibis deram espaço aos livros de sociologia, filosofia e psicologia.
*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá