"A pandemia e o trabalho remoto podem ter contribuído para intensificar o burnout"
Desde 2020, com as mudanças inesperadas e rápidas causadas pela pandemia de covid-19, percebemos que planejar ou antecipar o futuro próximo, mesmo que ele esteja apenas alguns meses à frente, é um exercício que, por vezes, se mostra desafiador. No entanto, todo início de ano fazemos previsões sobre quais serão os principais temas e mudanças que irão impactar diferentes áreas. No que diz respeito ao mercado de trabalho, irei compartilhar algumas tendências apontadas para este ano que se inicia.
A melhor forma de olharmos para as previsões, sejam as que trago aqui ou de outras fontes, é encarando-as como possibilidades do que podemos ter à frente, dedicando algum tempo para analisar como os cenários projetados podem nos impactar, mas tendo sempre em mente que o inesperado também é uma constante que não conseguimos antecipar. Quanto mais sintonizados com as mudanças ao redor, mais rápido respondemos aos acontecimentos, principalmente aqueles que ninguém poderia prever.
Modelo híbrido e questões
em aberto
A mudança na forma como trabalhamos, mesclando o home office com idas ao escritório, permanecerá em 2022 e nos anos seguintes, ao que tudo indica. No entanto, existem muitas questões que precisam ser ajustadas para, de fato, migrarmos a forma de trabalho para um modelo híbrido. Questões como auxílio de internet e equipamentos de trabalho para montar uma estrutura adequada em casa, cuidados com os filhos e serviços domésticos durante o horário de expediente, dificuldade em estabelecer uma fronteira mais clara entre vida pessoal e profissional, excesso de trabalho, burnout e saúde mental dos colaboradores são alguns dos aspectos que precisam ser discutidos e aprofundados. É importante refletirmos também sobre o fato de que o modelo híbrido é uma realidade para uma parte específica dos trabalhadores, que realiza funções de caráter mais intelectual, tendo como principais instrumentos de trabalho o computador e a conexão com a internet. Compreender o perfil de colaboradores que vivenciam essa forma de trabalho nos ajuda a pensar como propor soluções para os desafios ainda encontrados nesse formato.
Burnout e saúde mental
A pandemia e o trabalho remoto podem ter contribuído para intensificar o burnout, expressão em inglês que define o esgotamento físico, psicológico e emocional decorrente de um elevado estresse ocasionado pelo excesso de trabalho por um período estendido de tempo. O momento de crise sanitária global e a reclusão prolongada por meses seguidos afloraram a discussão sobre o tema da saúde mental no mercado de trabalho, mas a origem desse desequilíbrio não é tão recente quanto a notoriedade que o assunto vem ganhando.
No livro Não aguento mais não aguentar mais, a jornalista americana Anne Helen Petersen faz uma pesquisa de referências políticas, econômicas e sociais que explicam como as gerações atuais cresceram com a pressão de serem produtivas e bem-sucedidas, justificando o investimento dos seus pais em escola, cursos extracurriculares e outros cuidados que pudessem aumentar as chances de seus filhos ingressarem em boas universidades e, como consequência, conseguirem um bom emprego estável, bem remunerado e reconhecido socialmente.
No entanto, mudanças macroeconômicas, a flexibilização do trabalho, a globalização e as mudanças drásticas em várias indústrias deram menos garantias que as fórmulas que deram certo com os pais e avós dessas gerações atuais de jovens se repitam com eles também. Sobrecarregados e exaustos, o sentimento de boa parte dos trabalhadores é de que precisam se esforçar muito mais para conseguir sustentar uma vida adulta independente. O esgotamento que vem como consequência afeta não apenas os colaboradores, mas a produtividade e a competitividade das organizações empregadoras. Por isso, a discussão sobre saúde mental no trabalho e políticas de enfrentamento do problema estarão na pauta este ano.
Nas próximas colunas, continuaremos refletindo sobre as principais tendências no mercado de trabalho para 2022.