retranca

Jovem de futuro

Brasiliense, que cresceu na área rural e investiu no sonho de ser cientista, ganha bolsa para estudar na universidade americana Duke University

*Arthur Vieira
postado em 20/02/2022 00:01
Wanghley Soares passou nos vestibulares da UnB, UFMG, USP e Unicamp -  (crédito:  Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Wanghley Soares passou nos vestibulares da UnB, UFMG, USP e Unicamp - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

O nome do jovem Wanghley Soares, 19 anos, é único, assim como a sua trajetória nos estudos. Morador de uma fazenda de suínos no PAD-DF, zona rural do Paranoá, ele é filho de um auxiliar administrativo e uma agente comunitária de saúde. Estudou na rede pública da zona rural a vida toda, mas esse fato não foi impedimento para que se dedicasse aos estudos e pesquisas em informática aplicada a doenças degenerativas, área que recebeu alguns prêmios. O brasiliense também contabiliza a proeza de ter passado nos vestibulares de quatro importantes universidades brasileiras: Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de São Paulo e Universidade Federal de Minas Gerais. Esta semana, Wanghley recebeu  a notícia de que ganhou bolsa de estudos na Duke University, a 9ª melhor universidade dos Estados Unidos.

Wanghley se mostrou um garoto prodígio na infância. Aos 10 anos, criou um alimentador automático para galinhas e um sistema de irrigação para ajudar os pais nas tarefas diárias da fazenda. Na escola, os professores viram um potencial imenso no garoto. Quando fez 13 anos, uma avaliação psicológica de Altas Habilidades e Superdotação fez Wanghley descobrir ser superdotado nas áreas de ciências naturais e exatas, principalmente para engenharia e computação. "Foi aí que meu mundo mudou bastante", revela.

Aos 14 anos, Wanghley passou no processo seletivo para o curso técnico em informática no Instituto Federal de Brasília (IFB), e foi lá que começou a desenvolver projetos de tecnologia para a área médica, principalmente voltados para doenças degenerativas. Um dos  projetos mais ambiciosos e renomados foi um dispositivo de baixo custo para diagnóstico do mal de Parkinson, que não só lhe rendeu prêmios na maior feira de ciências do Brasil, a Febrace, como o levou para vários outros eventos de incentivo à ciência para  jovens, como a Conferência Internacional de Jovens Cientistas, ocorrida no ano passado. Além disso, o projeto levou Wanghley a ser considerado um dos quatro Jovens Inventores de 2021 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Mesmo graduado no curso técnico em informática, Wanghley continuou w no IFB como pesquisador voluntário e externo, e continuou firme nas  pesquisas. Até hoje, ele trabalha no aperfeiçoamento de seu dispositivo para diagnóstico do Parkinson e também no desenvolvimento de outros projetos, como o do ventilador automático para pacientes com Covid-19, o qual trabalha junto a uma equipe de cerca de 30 pessoas. Depois de formado, o jovem cientista fez o Exame Nacionalo do Ensino Médio (Enem) e o Programa de Avaliação Seriada (PAS). Foi aprovado na UnB, além da UFMG, na Unicamp e na USP. Mesmo tendo passado nas melhores instituições do país, Wanghley,  desistiu de se matricular em uma dessas instituições brasileiras para tentar uma bolsa de estudo na universidade americana Duke University. E conseguiu. O resultado saiu agora e as aulas começam em agosto.

Estudar fora não fazia parte de seus planos

Sua intenção era prosseguir os estudos no Brasil em alguma das quatro universidades em que foi aprovado. Porém, tudo isso mudou no fim de 2019, quando  foi aprovado para um programa de Engenharia Aeroespacial na Flórida, sendo um dos três selecionados entre mais de mil candidatos. "Quando fui selecionado, eu percebi que dava para ir além, que eu podia tentar algo a mais", disse. Por conta da pandemia, a viagem foi cancelada, mas Wanghley decidiu tentar aplicar nos Estados Unidos, assim que terminasse os estudos no IFB.

Como não conseguiria arcar com todas as despesas que a estadia no exterior exige, resolveu entrar para dois programas de concessão de bolsas: o da Crimson Education e o do Oportunidades Acadêmicas. Ele resolveu entrar para o da Crimson, e ali foi quando ele se deu conta da decisão que tinha feito: "Foi uma escolha trocando o certo pelo incerto, como diz meu pai. Foi uma decisão muito difícil", relata. Wanghley conta que seus pais ficaram bastante receosos no início, muito por conta das incertezas que tinham com relação ao processo de application e o dinheiro a se investir, mas depois de muita conversa, aos poucos eles começaram a apoiar o filho nessa jornada rumo aos Estados Unidos.

Foi assim que o jovem dedicou todo o ano de 2021 nas candidaturas para o ingresso nas universidades americanas. Com o apoio de toda uma equipe da Crimson, Wanghley aplicou para 10 instituições de ensino, um período em que ele mesmo classifica como cansativo e estressante: "É até difícil achar uma palavra para descrever, mas foi muito difícil". Ele atribui boa parte da dificuldade e do cansaço à quantidade de etapas a mais que ele teve de passar para essas candidaturas, ainda mais no auge da pandemia. A parte mais difícil, para ele, foi a das redações, uma vez que exigiam uma escrita bem diferente do que a que os estudantes brasileiros estão acostumados a fazer nos vestibulares nacionais. Em uma de suas redações pessoais, inclusive, Wanghley passou por uma situação bem adversa: "Eu fui achando que ia terminar em uma semana, e eu acabei levando mais de três meses e e fiz  81 versões até chegar ao texto final", conta.

Mesmo aplicando para 10 universidades diferentes, somente uma tinha todo o coração de Wanghley: a Universidade de Duke. Essa é classificada como a 9ª melhor universidade do país e, para ele, era a universidade ideal, já que atendia justamente o que ele queria para sua formação e para sua carreira. O hospital universitário da instituição foi um fator que motivou muito Wanghley a aplicar ali, uma vez que atendia muito ao seu perfil de seguir com a pesquisa na área de tecnologia voltada para a área da saúde. A paixão de Wanghley por Duke se intensificou tanto que ele mesmo assinou um contrato de exclusividade com a universidade, em que caso fosse aprovado, ele desconsideraria qualquer outra proposta vinda de outra universidade e partiria para Duke.

E foi justamente isso o que aconteceu. Wanghley foi aprovado na faculdade dos sonhos, para o curso de engenhariae elétrica e da computação, ganhando uma bolsa de mais de R$ 1,7 milhão, uma bolsa que, segundo o site da universidade, só é concedida, anualmente, para pouco mais de 20 pessoas no mundo. Ele não esconde a euforia e a emoção que inundou sua casa quando chegou o resultado: "Quando eu abri a carta de aceitação e li 'Wanghley, parabéns, em 2022 esta é sua universidade', me passou um flashback na cabeça, mostrando todo o esforço que foi colocado ali, todos os fins de semana que não saí com minha família ou meus amigos, todas as madrugadas que fiquei escrevendo. Vai demorar umas duas ou três semanas para cair a ficha". Ele se mostra grato também por toda a ajuda da Crimson, à equipe que o auxiliou e o apoiou em todo o processo da aplicação: "Sem eles, eu não estaria aqui".

Agora, com a oportunidade de realizar seu sonho, Wanghley se vê engajado em muitos outros projetos no futuro. Com um espírito empreendedor muito forte dentro de si, ele deseja se formar e montar sua própria empresa para o incentivo e o desenvolvimento de pesquisas na área de tecnologia para a área médica, além de criar produtos de baixo custo que possam ser mais acessíveis para todo o mundo. "Quero mostrar que o Brasil, além de ser o país do futebol, é um país de grandes cientistas, que desenvolve e exporta tecnologia", disse. Ele ainda revela querer continuar com  os estudos  sobre o diagnóstico do Parkinson e trabalhar com outras doenças como diabetes e o mal de Alzheimer, utilizando a computação, a engenharia e amedicina.

"Até agora eu continuo sem acreditar que eu vou estudar em uma grande universidade dos Estados Unidos,  que isso está sendo possível para alguém como eu. Isso para mim é um sonho", confessa Wanghley. Com o início das aulas já previsto para o mês de agosto, o jovem cientista  prepara as malas  rumo à Carolina do Norte, onde fica a universidade de Duke.

E para os que desejam ter o mesmo destino, Wanghley tem um recado: "A energia que você gasta para sonhar baixo é a mesma que você gasta para sonhar alto. Então, por que não pensar além? Eu nunca imaginei estar aonde estou hoje, e aqui estou, mesmo com todo este background que eu relatei. Então, o negócio é pensar além, e fazer o que você faz porque isso lhe impacta, porque é quem você é, e não o que você quer mostrar para alguém".

Sobre a Crimson Education

Fundada em 2013, a consultoria educacional e internacional oferece suporte especializado na preparação de alunos para que sejam aceitos nas mais renomadas universidades dos EUA, Reino Unido e Canadá. Anualmente, centenas de alunos da Crimson Education conquistam aprovações em universidades da Ivy League (em que se incluem Harvard e Yale) e em outras instituições renomadas como Stanford, MIT, UCLA, Johns Hopkins University, NYU, UC Berkeley, Oxford, Cambridge, University of Toronto, UBC, entre outras. Neste ano, 40% de alunos brasileiros obtiveram aprovações em uma das 20 melhores universidades dos Estados Unidos, 100% em uma das 10 melhores do Reino Unido e 83% em uma das três melhores do Canadá.

Contatos: www.crimsoneducation.org e  (11) 99190-1529.

 

 

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação