Elas querem ser professoras

Prática e exemplo dos pais foram fatores fundamentais para abraçar a profissão

Correio Braziliense
postado em 27/02/2022 00:01
Daniela diz que chega a chorar quando pensa no quanto a remuneração de professores é baixa -  (crédito: Arquivo pessoal)
Daniela diz que chega a chorar quando pensa no quanto a remuneração de professores é baixa - (crédito: Arquivo pessoal)

Recém-formada em pedagogia pela Universidade Paulista (Unip), Izabella Moreira, 22 anos, comprova que, em tudo, sempre há "um outro lado da moeda". Ela conta que a opção pelo magistério veio por influência da família. Seu pai, além de ser professor, é diretor de uma escola no Cruzeiro, em Brasília.

"Quando era pequena, sempre fui para a coordenação da escola e acompanhava de perto as reuniões de conselho", lembra a professora. "Cresci em ambiente escolar. Para mim, é um caminho natural", diz. "Além do exemplo do meu pai, encaro o magistério como uma oportunidade de transformar a realidade do país. Esse poder de transformação sempre me encantou e me levou a querer ser professora", conta.

Durante um ano, após se formar, Izabella fez estágio em uma creche. Em seguida, foi contratada em uma escola do ensino fundamental, onde atuou no apoio pedagógico e disciplina, além de ter sido educadora social. Atualmente, ela espera ser convocada pela Secretaria de Educação, por contrato temporário. "Pedi para atuar no Plano Piloto, como professora de atividades", conta.

"Pelo meu núcleo familiar, sempre fui incentivada a fazer pedagogia, mas escutava de algumas pessoas que eu era muito inteligente e podia fazer outra coisa. A maioria das pessoas acha que é fácil ser professor", relata.

 A desvalorização da profissão é uma questão que preocupa a nova professora. Para ela, não só o governo, mas a população em geral não valoriza o profissional de ensino. Izabella relata situações no próprio local de trabalho, onde não é bem atendida pelos próprios colegas. "É uma questão cultural. A gente percebe a desvalorização a partir das classificações de ocupação. Para a Secretaria de Educação, por exemplo, não sou pedagoga, apenas uma professora de atividades", diz.

Daniela Pereira, 24 anos, é outro exemplo de determinação. Ela conta que sua primeira opção de curso foi psicologia, mas obteve uma bolsa de estudos para pedagogia e reviu suas preferências. "Comecei, então, a pesquisar sobre o curso e me encantei. No meu primeiro semestre, consegui um estágio no colégio Sagrado Coração de Maria, no maternal, com crianças com deficiência. Minha paixão foi imediata", diz.

Ela lembra que, logo no início, um aluno com deficiência auditiva despertou sua atenção. "Quando eu cantava, ele dançava, e isso me emocionou bastante. Fui, então, estudando, investigando mais essa área. A mãe dele fez um livro, e ele me deu de presente. Tive naquele momento a certeza de que poderia, sim, fazer diferença na vida das pessoas em uma sala de aula", relata.

Daniela recorda, ainda, que sua escolha pela profissão a motivou a conhecer cada dia mais a prática de perto, saber como poderia ajudar os outros. Daniela se considera "sortuda", pois, desde cedo, conseguiu estágios em escolas de grande porte. Logo depois de sua primeira experiência, foi para o Colégio Mackenzie, onde lecionou língua portuguesa e inglesa.

"Não cheguei a entregar meu currículo e já fui chamada para trabalhar em uma escola. Eu me formei e 15 dias depois fui contratada em uma escola", conta, ponderando que seu primeiro emprego, após formada, foi um pouco frustrante. "Por estar em uma escola particular, esperava pelo menos um pouco de reconhecimento, o que não aconteceu", lamenta.

As frustrações, no entanto, não duraram muito tempo para Daniela, pois, neste ano, ela foi convocada para uma organização não governamental em São Sebastião, local onde reside. O seu trabalho, atualmente, é acompanhar pessoas de baixa renda, principalmente crianças e adolescentes, de 6 a 22 anos, juntamente a um psicólogo e educador social.

"As pessoas veem a profissão do professor e também o ensino como uma área muito rebaixada. Quando você senta em uma mesa com advogados, arquitetos, psicólogos, eles não dão atenção para relatos sobre sua carreira", afirma.

Segundo ela, a profissão é desvalorizada a começar pelo salário. "Há uma diferença muito grande de remuneração entre a área particular e a pública. E o trabalho é quase nos mesmos níveis. Escolas particulares ainda remuneram um pouco mais.", diz.

"Falar de salário é até difícil para mim, porque eu fico muito triste. Já chorei bastante em relação a isso. A gente trabalha muito, damos o nosso melhor para receber tão pouco", pontua. "Nunca pensei em ser professora, mas, agora, não me vejo fazendo outra coisa", afirma a pedagoga.

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