AMBIENTE CORPORATIVO

Maus hábitos no ambiente corporativo podem prejudicar as relações e também o emprego

Mentor de carreiras Luciano Santos revela dicas preciosas para quem pretende conquistar a tão ansiada colocação no mercado

Arthur Vieira*
postado em 06/03/2022 06:00 / atualizado em 06/03/2022 06:00
Luciano Santos é autor do livro Seja egoísta com a sua carreira
 -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Luciano Santos é autor do livro Seja egoísta com a sua carreira - (crédito: Arquivo Pessoal)

Todos sabem que trabalhar é necessário para a conquista de uma vida digna. Contudo, se já está difícil conseguir um emprego, mantê-lo pode ser ainda mais complicado, principalmente quando se trata da convivência no ambiente de trabalho, fator que sempre pode causar estresse e levar o indivíduo a adquirir hábitos que prejudiquem seu desenvolvimento profissional. De acordo com o mentor de carreiras Luciano Santos, também escritor e executivo de vendas do Facebook, são comportamentos, situações, decisões e conversas que, eventualmente, a grande maioria das pessoas enfrentará e que, por serem problemas desconhecidos, causam surpresa nos trabalhadores que, usualmente, não sabem como lidar com esses ocorridos que acabam “travando” carreiras.

ravando” carreiras. Santos compilou os 10 hábitos mais corriqueiros que costumam dificultar a carreira de qualquer um, visando ajudar o profissional a ter um norte ao lidar com eles. Os piores hábitos enumerados pelo especialista são: mentir, brigar com a realidade, não saber dar feedback (resposta em tempo hábil), fechar portas, se importar com o ranço dos outros, trair a confiança, não considerar outras perspectivas, compararse, ter medo de ser julgado e, por fim, não tomar decisões (veja quadro).

A lista faz parte de um dos capítulos do livro Seja egoísta com sua carreira - descubra como colocar você em primeiro lugar em sua jornada profissional e alcance seus objetivos pessoais, de autoria de Santos, publicado recentemente pela Editora Gente. O autor conta que concebeu o livro no intuito de ensinar como gerenciar a carreira profissional. “O ambiente de trabalho é um lugar de sofrimento para muitas pessoas. Um dos motivos pelos quais elas não sabem se comportar é o fato de que nunca foram educadas para isso”, explica

.
. (foto: Reprodução)

Santos defende a implementação do ensino sobre comportamento no ambiente de trabalho na grade curricular das universidades, pouco antes dos estágios obrigatórios, por meio de uma disciplina, projeto educacional interno ou de profissionais que não façam parte do corpo acadêmico

Ele enfatiza, entre os comportamentos listados, que não saber dar e receber feedback é um dos que mais podem prejudicar a carreira de qualquer iniciante no emprego. E considera que o feedback é uma das ferramentas mais poderosas de crescimento na empresa: “Quando recebemos um feedback, a gente consegue vislumbrar as áreas em que precisamos melhorar, se desenvolver, ter um pouco mais de atenção”, afirma, completando que esse retorno é como um presente que o profissional dá ou recebe com o intuito de evoluir na carreira

Ainda segundo Santos, há várias razões que levam as pessoas a não conseguirem lidar bem com os feedbacks. Ele alerta para o fato de que muitas corporações utilizam esse recurso como uma arma, como algo para provocar. Outras porque sequer dão retorno ou não foram preparadas para isso. “Toda vez que você receber um feedback não é porque a pessoa não gosta de você, não é porque alguém está lhe atacando. É porque você vai pegar aquela informação, e isso vai te tornar um profissional melhor”, explica. Para evitar maiores transtornos, ele recomenda que o profissional busque entender o que está por trás desse processo, “para que ele não fique no escuro também”

Outro hábito destacado por Santos é “brigar com a realidade”. Ele explica que esse hábito está ligado ao fato de o profissional não saber analisar o ambiente de trabalho em que está inserido e, por isso, exige que esse ambiente se molde às suas preferências ou expectativas. Ele também atribui esse fator ao desconforto que muitos sentem com as mudanças na dinâmica do trabalho. “Faça o que está ao seu alcance e ao seu poder”, aconselha. “O ideal é refletir a respeito do que será melhor nesses momentos, nem que isso resulte em mudança de emprego”, frisa

Parte desses maus hábitos é atribuída a um outro pensamento errôneo que muitas pessoas têm alimentado, o de querer um trabalho perfeito. Santos trata a ideia do “trabalho perfeito” como um mito, algo que existe apenas na imaginação das pessoas. “Qualquer local de trabalho vai estar rodeado de múltiplas dimensões, e elas não vão funcionar do jeito que queremos que funcionem”

Santos reforça que é preciso fazer uma autoanálise e descobrir o que se espera de um emprego. “Supondo que haja seis coisas nesse conjunto de desejos. Se o trabalho atende quatro delas, está bom. Não há emprego perfeito”, alerta.

Saúde mental e emocional são fatores cruciais no trabalho

Ana Carolina: "As pessoas não distinguem mais o momento de descanso e o de trabalho"
Ana Carolina: "As pessoas não distinguem mais o momento de descanso e o de trabalho" (foto: Arquivo Pessoal)

Para a psicóloga Ana Carolina Peuker, a falta de cuidado com a saúde mental e emocional leva os trabalhadores a sérios problemas. “Quando pensamos em carreira, as pessoas acabam investindo muito nelas sob o ponto de vista técnico e não desenvolvem habilidades comportamentais, como a forma que vão interagir com o grupo, como vão se comunicar ou serem mais empáticas”, explica. Ela também faz um alerta para o fato de que as questões emocionais são imprescindíveis para se conseguir um emprego.

Peuker é CEO da Bee Touch, empresa de tecnologia voltada para mensuração de problemas psicossociais e que rastreia fatores de risco entre os trabalhadores a fim de prevenir doenças relacionadas ao trabalho. Ela pondera que esses fatores podem ser causados por vários motivos, tanto do próprio trabalhador quanto da empresa. “Temos vivido muito essa hiperconectividade, em que as pessoas não distinguem mais o momento de descansar e o de trabalhar”, alerta.

Além disso, aponta que problemas de estrutura organizacional, como falta de transparência nas empresas, conflitos internos, ambientes com muita competição e atividades que demandem um ritmo muito acelerado podem levar o trabalhador a ter esses tipos de comportamento e até mesmo adoecer. “Os riscos psicossociais decorrem de deficiências na organização e na gestão desse trabalho”, explica.

Ela faz um alerta aos trabalhadores, no sentido de buscarem sempre apoio psicológico, independentemente de estarem passando ou não por algum problema. “É importante que a pessoa tenha uma regulação emocional para lidar com essas questões de rotina e ambiente de trabalho. O autoconhecimento é peça-chave para isso”, afirma. “As pessoas capazes de reconhecer seu potencial e suas limitações terão mais segurança e podem ser mais autênticas. O autoconhecimento permite identificar melhor suas próprias reações em diferentes contextos, além de garantir maior autocontrole. A questão psicológica ainda é um estigma no cenário do trabalho no Brasil. É preciso que isso seja mais discutido, justamente para evitar que hábitos como esses se propaguem. Sem saúde mental, não há saúde”, afirma.

 

*Estagiário sob a supervisão de Jáder Rezende

 


Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação