Diretora de gente e comunidade na empresa Neurotech de inteligência artificial no Brasil, Ketty Sanches, 41 anos, considera que ser mulher em um ambiente que lidera pessoas é um eterno "equilibrar pratos". "A gente tem família, sonhos e se cuida como mulher", explica. Para a administradora, as dificuldades acerca da ascensão feminina ainda são latentes nos dias de hoje. "O maior desafio é não conseguir enxergar inspirações em grandes cargos de poder. Além disso, é gritante a escassez no mercado de mulheres que venceram lacunas sociais", diz.
A executiva observa que em pleno século 21 elas ainda enfrentam grandes dificuldades de enquadramento nas empresas. "Podemos querer ter filhos ou não, viajar ou não, sem contar que a mulher leva bem mais tempo para conseguir subir de cargos, por horários que brigam com a vida pessoal", pondera.
A líder de recursos humanos lembra o desafio enfrentado ao experimentar a maternidade aos 18 anos, viver o mesmo processo aos 22 e, ainda assim, ter alcançado o sonhado doutorado em Valência, na Espanha. "Família é um combustível pra mim. Mesmo eu sendo vista como uma pessoa diferente, não preciso escolher entre a vida profissional e a pessoal. É preciso apenas conciliar", afirma.
Ketty conta que já passou por situações desconfortáveis com colegas de trabalho, chegando a ser criticada apenas pelo fato de ser mulher. "O preconceito é velado, mas, muitas vezes, bem aberto. É comum escutarmos frases do tipo: 'esse comportamento é de mulherzinha', ao se sensibilizar com alguém ou alguma coisa, e até mesmo ser interrompida em uma reunião, não conseguindo ser ouvida em um ambiente majoritariamente masculino", lamenta. (MA)