Formação sem fronteiras
Com apenas 19 anos, Lara Campos dá os primeiros passos na vida profissional. Aprovada, há menos de um mês, no curso de medicina da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), a jovem chega ao ensino superior certa de que venceu adversidades e teve a oportunidade de vivenciar experiências ímpares, como estudar no exterior, por apostar no poder da educação, “conselho” ensinado desde a infância.
Graças aos incentivos do pai, estudou para conseguir uma vaga no Colégio Pedro II. O ingresso na escola tradicional carioca expandiu os horizontes da menina com, na época, 10 anos. “Como havia vários alunos com diferentes realidades socioeconômicas, tive contato tanto com pessoas que viajavam para o exterior duas vezes ao ano, quanto pessoas que viviam na favela”, conta.
Foi o pontapé inicial para ampliar as fronteiras. “Quando vivenciei a diversidade no colégio, entendi o quão precioso era estar com pessoas de diferentes realidades e percebi que os melhores centros acadêmicos estavam no exterior”, revela. A primeira experiência internacional de Lara foi em 2019, quando participou do Summer Camp, um programa de intercâmbio para adolescentes, na Flórida, com ensinamentos em ciência, tecnologia e informática. Ela e um grupo de amigos abriram uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro para a viagem e acabaram surpreendidos com o custeio por uma companhia aérea.
A jovem gostou tanto da experiência que passou a se preparar para um intercâmbio. Em março de 2021, foi aprovada para cursar ciências políticas na Northwestern University (EUA) com uma bolsa de cerca de R$ 2 milhões. Mas a proximidade da família falou mais alto. “Queria construir um caminho no Brasil também”, diz. Um ano depois, veio a aprovação em medicina. Mas futuras experiências fora do Brasil não estão descartadas. Até porque o currículo de Lara é repleto de outras experiências que ampliam as fronteiras de sua formação. Entre elas, programas internacionais como o National Flight Academy, o Latin America Leadership Academy e cursos de verão na Cambridge University. * Estagiária sob supervisão de Carmen Souza
Empreendedorismo com propriedade
Três moradoras do DF foram selecionadas para participar do Aceleração de Negócios de Empreendedoras Negras, uma iniciativa da Meta e da PretaHub, do Instituto Feira Preta, que pretende contribuir para o empoderamento econômico de mulheres. Durante seis meses, Quezia Costa dos Santos, Maria das Graças Santos e Mel Colonna Silva receberão suporte, técnico e financeiro, para empreenderem com robustez — uma realidade pouco comum no país.
“Não é possível falar de evolução da população negra sem a união da capacitação e do acesso a recursos, pois somente essa combinação é capaz de transformar o empreendedorismo de sobrevivência em oportunidade bemsucedida de negócio”, avalia Adriana Barbosa, que comanda o Instituto Feira Preta.
Cinquenta projetos foram selecionados em todo o país, e cada um receberá R$ 32 mil, além de cursos gratuitos de capacitação e consultorias. Quezia e Maria das Graças vão usufruir do suporte para cuidar ainda melhor de cabelos afros. A primeira é dona do salão Nega do Pixain, que começou em Ceilândia e hoje é procurado por clientes de todo os lugares. O Afro N`Zinga Cabeleireiros está entre os preferidos dos brasilienses há mais tempo, já que Maria é uma das pioneiras do ramo no DF. Mel Colonna vai turbinar o ConexãoAfro, um projeto voltado para o fortalecimento de atividades socioculturais.
União pelas cotas
A União Nacional dos Estudantes (UNE) começou a mobilizar diversos setores da sociedade, como artistas, influenciadores e organizações civis, para pressionar o Congresso Nacional pela renovação e pelo aprimoramento da Lei de Cotas nas instituições de ensino federal. A entidade lançou a campanha Eu defendo as cotas — Esse é o Brasil que a gente aprova e aproveitou o Ato pela Terra, no último dia 9, na Esplanada dos Ministérios, para unir forças. Criolo, Emicida, Elisa Lucinda, Duda Beat, Seu Jorge e Lázaro Ramos (foto) estão entre os que abraçaram a iniciativa. A Lei 12.711/12 completa uma década neste ano e, conforme um processo previsto em seu artigo sétimo, terá que ser revisada. Há um temor de que a polarização partidária prejudique a política pública. “Não temos qualquer dúvida sobre a vigência da reserva de vagas, mas, na revisão da lei, ela deve ser aprimorada, com o objetivo de aperfeiçoar a permanência estudantil, implementar metas e fortalecer o monitoramento”, diz Bruna Brelaz (foto), presidente da UNE.
Sinpro lança documentário
O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) lançará, amanhã, o documentário O baobá, ambientado no plantio da tradicional árvore africana, em novembro, na chácara da entidade. A obra, de nove minutos, traz entrevistas com especialistas e militantes da luta antirracista, que falam sobre a importância do baobá para os povos africanos no continente e na diáspora.”No Brasil, essas árvores representam a resistência dos povos escravizados. Sua presença é marcante nos locais de maior ocupação negra no período escravocrata”, diz Márcia Gilda, coordenadora de Assuntos de Raça e Sexualidade do sindicato. Aqui no DF, as árvores formam o Recanto dos Baobás, uma homenagem a mulheres brasileiras que protagonizaram a luta antirracista. O lançamento da obra será às 19h, na sede do sindicato, e faz parte da comemoração dos 43 anos da entidade.
21 de março
É o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. A data foi criada pelas Nações Unidas em memória ao Massacre de Sharpeville, na África do Sul. Em 1960, mais de 20 mil pessoas protestavam contra o passe, uma lei que limitava os locais em que a população negra poderia circular, quando foram reprimidas violentamente pela polícia. Sessenta e nove pessoas morreram e centenas ficaram feridas. A ONU institui a data nove anos depois, mas a reflexão vale para todos os dias: E você? O que tem feito para que negros e negras não tenham seus horizontes cerceados?
Também falamos sobre: dois anos de pandemia
Quais lições tiramos desses dois anos de crise sanitária?
A gente observou uma exacerbação de diferentes problemas, como sociais, psíquicos e econômicos, além da exposição das nossas fragilidades. Estamos lidando com uma doença que atinge a todos. Passamos, por exemplo, por períodos em que o dinheiro não representava muita coisa. As pessoas tinham dinheiro, mas não tinham acesso a uma UTl. Nesses dois anos, fica a lição de que precisamos ter um mundo mais humanizado, e que a fragilidade de um país pode interferir no outro. O fato de não existir uma sociedade igualitária, em que todos têm um acesso mínimo aos serviços de saúde, dificulta o manejo da economia, o manejo de determinadas doenças e acaba sendo um risco global.
E o que muda para os profissionais de saúde?
Nesse cenário de dor, também houve um crescimento, um amadurecimento. Ficou evidente que nossa conduta, como profissionais de saúde, precisa ser sempre pautada pela ciência, não pelo calor das emoções. Precisamos de ações estruturantes e parar de trocar a telha da casa quando está chovendo. Além disso, a ciência inovou muito. Vários cientistas puderam demonstrar a eficácia de abordagens que vinham estudando há anos. A pandemia foi o momento de pôr em prática essas tecnologias, abrindo um leque de possibilidades de tratamentos inovadores. Esses tratamentos vão servir para os nossos filhos, para o futuro da humanidade. Há, sim, ganhos incalculáveis pautados pela ciência.
Acredita que as pessoas, de uma forma geral, conseguem tirar ensinamentos desta crise?
A gente precisa olhar atentamente para o passado para não repetir erros. O ser humano costuma esquecer rápido depois que a dor e o sofrimento passam. Não à toa estamos vivendo uma guerra, algo inadmissível neste século. Agora, precisamos ter cautela e inteligência para escolhermos nossas lideranças, que precisam tomar as rédeas da situação socioeconômica do nosso país, rever os nossos problemas e agir com mais maturidade e serenidade.
* Estagiária sob supervisão de Carmen Souza