Aprovado em medicina na Universidade de Brasília (UnB), o estudante Vinícius de Almeida Nery Ferreira, 21 anos, optou por cursar economia na mesma instituição. Ele conta que, inicialmente, foi influenciados pelos pais, médicos, a seguir a mesma carreira. Sua mãe, Gracy, é nefrologista e o pai, Pedro, cardiologista.
Ele conta que, inicialmente, optou por medicina por influência dos pais, e pretendia se especializar em psiquiatria. "Decidi trocar de curso porque economia tinha mais a ver comigo, era o que mais gostava, juntava algo que sempre me atraiu, matemática e comportamento humano", diz, revelando que sua decisão dividiu a opinião da família. "Meu pai ficou um pouco triste coma notícia, já minha mãe me apoiou, até porque meu irmão mais velho também fez economia."
Entre os amigos, prossegue Vinícius, a notícia causou um misto de espanto e incredulidade. "Alguns 'zoaram' bastante, dizendo 'caraca, vai ser pobre'", lembra. "Procurei até um terapeuta ocupacional, que, por fim, me orientou a fazer o que seria melhor, o que eu mais gostasse." Ele revela que, ao optar, inicialmente, por medicina, pesou em sua decisão ter uma vida mais tranquila financeiramente. "Sobretudo o fato de ficar rico mesmo", confessa.
Competitividade
Aprovada três vezes em medicina, duas na Universidade de Brasília (UnB) e uma na Universidade Federal do Rio de Janeiro, (UFRJ), Isabella Godoy, 26 anos, chegou a cursar um período do curso em Brasília. Antes, porém, tentou engenharia mecânica por cinco vezes.
"Acabei optando por cursar medicina pensando que era a minha praia, que iria me identificar com a área. Me atraiu mais a competitividade do curso, achei que deveria dar um a chance para essa nota competitiva, pensando que deveria ser alguma coisa boa, valiosa."
Nascida em família "humilde", segundo ela, a possibilidade de ter um futuro profissional promissor, de ser bem recompensada, foi determinante para se aventurar em ambientes hospitalares. A mãe, Alcimeirie, é técnica de enfermagem e encabeçou a torcida em ter uma médica na família. "Ela sempre sonhou em me ver atrelada a uma carreira promissora. Logicamente, pesou em minha decisão a possibilidade de ficar rica logo, de me dar bem", revela.
"Contudo, senti na pele que é uma carreira muito difícil, que, de fato, exige vocação. Não dá pára ficar nessa porque é só dinheiro. São vidas humanas em jogo. Além disso, o curso é oneroso", conclui.
Isabella foi mais uma a ouvir dos amigos conselhos para não desistir da medicina. "Todos diziam que era uma grande loucura", recorda. Hoje, ela mora em São Paulo e cursa o terceiro ano de economia no Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).
"Estou amando. Me identifiquei muito. A carreira de exatas oferece bastante visão numérica. Hoje, tenho uma visão mais clara de futuro. As vezes, o discurso é muito lindo, mas na prática é bastante diferente. Devemos buscar o equilíbrio, algo que realmente nos preencha. Acredito que escolhi uma carreira que oferece possibilidade de um bom futuro profissional. Acabei descobrindo que tem outras formas de ganhar dinheiro", afirma ela.
Cara ou coroa
Também aprovado em medicina na UnB, Takashi Yamanishi, 28, chegou a cursar cinco semestres até trocar o curso por biologia. Não obstante, depois de formado, abandonou a ideia de ser biólogo para lecionar japonês. Antes, porém, pensou em fazer letras com licenciatura em japonês. "Achava que medicina seria a profissão ideal, mas o curso dura seis anos e queria me formar logo. Decidi, então na moeda. Deu cara e encarei biologia", diz.
Takashi não fez nenhum teste vocacional e admite ter perdido precioso tempo com sua indecisão. "A gente acaba se comparando a outros colegas que estão se formando. Porém, mesmo com o tempo perdido, acredito que não haja atraso na vida. Aos 18, 19 anos, as pessoas não sabem direito o que quer. Leva tempo pra tentar, decidir", afirma.
Segundo Takashi, a indecisão afetou mais seus pais Osvaldo, professor da UnB, e Alice, pedagoda, do que ele próprio. "Foi um grande choque para a família, mas ao longo dos anos eles entenderam . Fui conversando, explicando o que achava que seria melhor para mim, o que me faria mais feliz, realizado."
Hoje, com a certeza de que lecionar é, de fato, o seu forte, Takashi afirma que se sente realizado profissionalmente. Além de lecionar presencialmente, se ocupa com a plataforma @123japones. "Segui minha intuição. Hoje, teria abandonado medicina logo na primeira semana, mas tudo é experiência e faz parte da história de cada um."