Apoio

Medidas de acolhimento podem ser vantajosas para as corporações

Com o aumento considerável de mulheres no mercado de trabalho, a garantia de creches nas empresas é fator indispensável

*Mariana Andrade
postado em 20/04/2022 15:20
Dalilene e os filhos:
Dalilene e os filhos: "Muitas vezes não existe compreensão por parte dos patrões" - (crédito: Arquivo pessoal)

Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que cerca de 50% das mulheres que saem de licença-maternidade não retornam aos seus cargos após o término do benefício. O estudo aponta que, em muitos casos, as empresas ainda não estão preparadas para lidar com esse momento da vida de mulheres. No entanto, esse cuidado tem se tornado cada vez mais necessário, pois gera reflexos positivos tanto para a marca empregadora quanto para as famílias compreendidas por este cuidado.

O Carreira & Mamadeira é exemplo de instituição preocupada no acolhimento da família. A iniciativa tem como objetivo ajudar mulheres a planejar a chegada dos filhos sem abrir mão de suas carreiras. A entidade também atua no mundo corporativo, auxiliando empresas que desejam criar um ambiente saudável para a família. "É imprescindível debater a respeito da parentalidade com a presença de três figuras: o pai, a mãe e a liderança no local de trabalho", Leonardo Zagotta, idealizador do projeto.

A ação busca reunir mulheres que sonham com a maternidade, mas se sentem inseguras em seguir com a decisão, oferecendo acolhimento, escuta, troca de experiências e ação a partir do momento em que elas tomam as rédeas do seu desenvolvimento como indivíduos e profissionais. "Queremos apoiar as profissionais mulheres a planejarem a chegada dos filhos e a viverem a carreira e a maternidade com leveza e coragem", afirma Zagotta.

A técnica judiciária Cláudia Ferreira, 45 anos, foi uma das mães que não desistiu da vida profissional para cuidar dos filhos. Um dos motivos foi a oferta de um berçário em seu local de trabalho. "Me senti uma cidadã de um país de Primeiro Mundo. Isso aliviou muito a minha rotina, tão corrida. Passou a não haver muita preocupação, com a Gabrielle sempre ao meu lado", relata.

Cláudia reconhece que nem todas as gestantes e mulheres com filhos contam com esse privilégio, mas defende a ideia de que todas as grávidas merecem ser beneficiadas. Além disso, prossegue, o relacionamento com os colegas de trabalho e superiores não mudou, só se fortaleceu. "Eles me apoiavam muito, perguntavam como minha filha estava. Não existiu nenhuma barreira entre nós", conta.

Vantagem

Mas a realidade das mães brasileiras não é repleta de benefícios. A diarista Dalilene Ferreira, 39, é uma das mulheres que enfrentaram dificuldades em conciliar o trabalho e a maternidade. Ela revela que passou por muitos obstáculos para criar os três filhos e já precisou pedir demissão do emprego para cuidar da família. "Isso é ser mãe. Muitas vezes não existe compreensão dos patrões. Infelizmente, reina a desconfiança entre eles", diz.

A diarista afirma, no entanto, ter trabalhado para pessoas compreensivas, que entenderam a situação. Com frequência, a credibilidade de Dalilene era questionada por parte dos empregadores se, porventura, um dos filhos adoecesse e não pudesse trabalhar. "Eles ficavam perguntando se meu filho estava doente mesmo. Ou então diziam: 'você não está mentindo para não trabalhar?'", lembra.

A advogada trabalhista Mirella Franco, do GBA Advogados Associados, observa que a adaptação do local de trabalho em espaço acessível para gestantes e crianças pequenas pode ser vantajoso para a empresa, uma vez que o processo de evolução profissional das funcionárias não é interrompido. "Certamente, as empresas que adotarem medidas beneficiando as mulheres na fase de gestação e maternidade de primeira infância, consequentemente, passarão a reter grandes talentos", afirma.

Segundo ela, ao investir em medidas de acolhimento e benefícios, as empresas passam a participar da construção de políticas públicas. "Com o aumento considerável do público feminino na força de trabalho, oferecer uma creche na empresa é indispensável", diz. "É notório que muitas empresas, hoje, buscam medidas para acolher as gestantes e mulheres com filhos nas fases que mais demandam", completa.

Entre essas medidas, prossegue a advogada, existe a opção de licença-maternidade estendida (por um período de seis meses), além de auxílio creche, seguro saúde, berçário para os funcionários e licença paternidade de 40 dias.

  • Mirella Franco, advogada trabalhista afirma que o ambiente de trabalho ainda não se tornou um ambiente inclusivo para gestantes e mulheres com filhos pequenos.
    Mirella Franco, advogada trabalhista afirma que o ambiente de trabalho ainda não se tornou um ambiente inclusivo para gestantes e mulheres com filhos pequenos. Foto: Divulgação GBA Advogados
  • Cláudia não abriu mão da carreira para cuidar da filha Gabrielle em momento algum
    Cláudia não abriu mão da carreira para cuidar da filha Gabrielle em momento algum Foto: Arquivo pessoal

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação