Coluna Saber

Dicas imperdíveis de Ana Machado para viver e trabalhar no exterior

Ana Machado
colunista
postado em 05/06/2022 06:00 / atualizado em 05/06/2022 06:00
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Na última década, o Brasil vivenciou a intensificação do processo de imigração, batendo o recorde no número de pessoas que deixaram o país para viver e trabalhar no exterior. Comparando o número de brasileiros morando fora entre 2010 e 2020, observa-se um aumento de 35%, representando um montante de mais de 4 milhões de pessoas, segundo dados do Itamaraty

gundo dados do Itamaraty. “Canadá deseja atrair 1 milhão de imigrantes até 2023”, “Reino Unido cria visto para profissionais qualificados”, “Cidades no interior da Itália oferecem cidadania para atrair novos moradores”. Reportagens com esses títulos são um chamariz para atrair leitores e engajamento nas redes sociais. Os comentários em matérias desse tipo revelam o interesse e sonho de brasileiros em deixar o país. É comum ler frases como: “Já estou arrumando as malas”, “Onde encontro mais informações?” e “Como faço para me candidatar?”

O desejo de imigrar para países mais desenvolvidos, com melhor oferta de serviços públicos, maior segurança e boa qualidade de vida mobiliza muitos brasileiros a se arriscarem em outro país. As oportunidades profissionais também podem ser mais promissoras ao optar por uma carreira internacional, em alguns casos. No entanto, existem muitos fatores a serem considerados, na esfera pessoal e profissional, antes de tomar uma decisão tão importante.

O primeiro aspecto a ser considerado é ter uma vivência no novo país que vá além do olhar do viajante e de encantamento. Ao visitar um novo lugar por um curto período de tempo, tendemos a reparar mais nas coisas boas do que nos problemas e desafios. Passar algumas semanas explorando uma nova região, visitar os principais pontos turísticos e interagir com locais são os primeiros passos para conhecer um novo lugar, mas é preciso ter uma vivência mais real de como é a rotina de vida e trabalho. Aprender a usar o sistema de transporte público e saber como ele funciona, conhecer bairros mais afastados e fora dos grandes centros, observar os preços no supermercado e lojas populares, entender o funcionamento do sistema público de educação e saúde, checar a temperatura em diferentes estações do ano, avaliar as opções de lazer e conversar com nativos na língua local são algumas ações prioritárias para compreender se de fato aquela cultura é uma boa combinação com o seu perfil e expectativas.

Do ponto de vista profissional, também é importante analisar de forma racional os benefícios que um trabalho no exterior pode trazer para a sua carreira. Apesar de haver uma tendência em valorizar profissionais com experiência internacional, muitas posições oferecidas fora do Brasil a estrangeiros oferecem remuneração menor (quando comparado ao custo de vida no novo local) e menos oportunidades de crescimento na carreira. Há que se atentar para o fato de que ganhar em moeda mais valorizada do que o real só é vantajoso quando há capacidade de poupar parte da remuneração ou quando os gastos permanecem em moeda menos valorizada. Ganhar um salário em dólar e manter um custo de vida em dólar pode ser equivalente ou até menos vantajoso do que um salário em real, dependendo da estrutura dos gastos e capacidade de poupança e investimento.

Além do fator remuneração, é importante considerar se a movimentação de carreira para um novo país será lateral, ascendente ou descendente. Uma movimentação lateral oferece o mesmo nível hierárquico e de responsabilidade, em casos como esse, é vantajoso se os aspectos pessoais da mudança valerem a pena e se houver chance de crescimento para postos mais altos. No caso da movimentação ascendente, fica mais fácil tomar uma decisão, visto que o cargo e posição ofertados são mais relevantes do que a ocupação atual. Já no caso da movimentação descendente, é preciso ponderar com cuidado, visto que muitas pessoas aceitam ocupar postos de trabalho em funções operacionais e que não exigem alta qualificação para ter a chance de morar fora do Brasil. Trabalhar como doméstica, babá, garçonete, pedreiro ou outras ocupações semelhantes são opções dignas, mas podem atrapalhar o plano de carreira para quem não se enxerga nessas funções no médio a longo prazo, principalmente se desejarem retornar ao Brasil.

O caminho para tomar uma optar por uma vida no exterior é o mesmo que devemos seguir para as decisões importantes de carreira: investir em qualificação, informação e análise detalhada das opções e do cenário, balanceando os aspectos que são mais importantes para nós e conseguindo equilibrar os benefícios de curto e longo prazo.

 

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